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Matéria 9420, publicada em 26/02/2010.


:Francine T. Ribeiro

Boa definição de crônica garantiu a recomendação para publicação do trabalho

Crônicas de Rubem Braga são analisadas em pesquisa

Emanoele Girardi



Nota 8,5 para a aluna de Jornalismo Tatiane Martins, que buscou em sua monografia intitulada “Para além do texto de Rubem Braga” ir ao avesso do jornal. A estudante dedicou-se a entender a interação entre autor e leitor em textos com alto nível de subjetividade – as crônicas – e reforçou a ideia de que mesmo no jornal diário há espaço para seus leitores. A defesa aconteceu no anfiteatro do Ielusc, na presença de poucos alunos e professores, de alguns familiares de Tatiane, da orientadora do trabalho, professora Marília Maciel e dos avaliadores Lara de Lima e Elson Martins (professor da Univille, convidado para a banca).

A estudante citou duas dificuldades principais que encontrou durante a pesquisa: as bibliografias escassas que não passavam de definições e o estudo da análise de discurso, assunto com o qual ela não teve muito contato antes da monografia. Tatiane apresentou Rubem Braga como cronista, repórter, militante político e admirador incondicional da beleza das mulheres, baseando-se no livro 200 crônicas escolhidas para selecionar aquelas que seriam analisadas.

Na busca de uma definição para crônica Tatiane cita, fundamentada em especulações pessoais, que as primeiras crônicas no Brasil foram de Pero Vaz de Caminha e tinham por intuito registrar o que era visto. A partir do século 19 a crônica perde a função de relato e passa a narrar histórias cotidianas. Um problema para a crônica é o significado de ficção. A estudante explica que aos poucos ficção convencionou-se como sinônimo de mentira, mas na verdade deveria ser interpretada como “aquilo que poderia ter sido” e, para ela, é com esse pensamento que se deve ler os textos de Rubem Braga.

Tatiane compara a crônica ao novo jornalismo, pois tanto em um quanto em outro gênero, a proposta é escrever textos mais leves para atrair leitores e, com isso, livrar-se um pouco das regras. A diferença é que na crônica os fatos reais são relatados com narrativa em forma de romance. Baseada na bibliografia que utilizou, ela ainda afirma que as interrogações são as melhores formas de atrair o leitor e interagir com ele.

As crônicas que a aluna escolheu para analisar foram “A menina Silvana”, uma história real de quando Rubem fez a cobertura da guerra fora do país, em que o autor mistura emoções; “Sons de antigamente”, um reflexo do próprio cronista, alguém melancólico que utiliza a figura de um relógio para expressar a si mesmo; “Almoço Mineiro”, uma declaração de admiração por Minas Gerais, a partir do qual o escritor começou a ser reconhecido; e “Os perseguidos”, uma narrativa crítica escrita durante o Estado Novo, em que o autor foge da polícia para continuar exercendo a profissão. As duas primeiras crônicas foram escolhidas antes mesmo de pensar sobre a monografia, em função do gosto pessoal, e as outras duas foram selecionadas após ler a biografia do autor. Tatiane concluiu sua apresentação afirmando que a subjetividade de Rubem pode ser vista na forma e no conteúdo e que a interação com o leitor é que dá sentido às crônicas.

O professor Elson iniciou a avaliação parabenizando a aluna e evocando a questão crucial da crônica: “Nela se permite a criatividade”. Sentiu, no entanto, falta de uma análise mais profunda do discurso propriamente dito, já que esse era um dos objetivos propostos pela pesquisa. O avaliador também comentou que uma outra abordagem interessante para o trabalho seria escolher um cronista de um jornal regional diário e pontuar as diferenças entre o texto noticioso e a crônica. Segura do que falava e aproveitando o tempo da réplica, Tatiane explicou que queria ir mais a fundo na crônica e por isso não escolheu um cronista atual. “Sei que fui pretensiosa em minha pesquisa, mas busquei Rubem Braga porque a matéria-prima de suas crônicas são, em grande parte, dele mesmo e pouco se baseiam nas notícias do jornal, como as atuais”, justificou.

“O maior mérito da sua pesquisa, na minha opinião, foi a tentativa de definir crônica”, afirmou Lara. A professora disse que a caminhada de Tatiane aproximou-se muito do que seria uma definição. Elogiou a bibliografia escolhida, mas comentou que o título não coube muito bem à pesquisa, já que a análise de discurso não foi tão abordada. Sugeriu que a aluna revise os objetivos, organize a conclusão da monografia e adicione as crônicas na íntegra ao trabalho. Além disso, perguntou se Tatiane cogitou a possibilidade de entrevistar leitores de Rubem Braga e se encontrou alguma outra linha de estudo durante o trabalho que pudesse ser interessante. Quanto às entrevistas, Tatiane replicou: “Pensei nisso, mas tive medo de não dar conta, de me perder e não conseguir analisar os depoimentos por causa do tempo.” Ela ainda disse que as abordagens entre autor, leitor e texto são inúmeras e sempre há novas formas de analisar.

A nota 8,5 e a recomendação para depósito da monografia na biblioteca foram consequências de um trabalho que, nas palavras de Lara, “será leitura obrigatória para quem pesquisar sobre crônicas”.

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