Os pais sentaram nas últimas cadeiras da sala C-20, no canto extremo de onde estava a filha Greyce Paola Lopes Soares, que defendia a monografia intitulada A representação da moda no Second Life: propagação e consumo. A acadêmica de Publicidade e Propaganda foi orientada por Gleber Pieniz e avaliada na quarta-feira (19 de agosto), às 19 horas, pelos professores Mauricio Melim e Maria Elisa Máximo, que deram nota 8,0 ao trabalho.
Greyce desenvolveu sua pesquisa partindo da problemática da difusão das tendências de moda no âmbito do ciberespaço. Ela analisou a moda dentro do Second Life, criando um avatar no jogo. De acordo com ela, a moda é efêmera, é a valorização do novo e uma perpétua inovação. No Second Life existem marcas de roupas reais e marcas virtuais que são presentes apenas dentro daquela plataforma. Greyce mostrou exemplos de estabelecimentos virtuais e das mídias propagadas dentro do jogo, como a Second Style, uma revista de moda só para avatares com ensaios fotográficos e depoimentos de famosos.
Para Greyce, o avatar é uma manifestação de personalidade e de cultura do indivíduo e o anonimato garantido pela plataforma permite criar e recriar diversas identidades. Ela percebeu que os usuários valorizam a vida lúdica, o simulacro, e não a vida off-line. Relacionando o jogo com a moda, Greyce assegurou que o entretenimento é pautado pelo consumo, guardando grande semelhança com o mundo real. A moda, assim, é mais ousada e mais valorizada no Second Life porque o avatar é apreciado pela forma de se vestir e de se portar, já que a beleza corporal deixa de ser um diferencial.
Participando pela primeira vez de uma banca de monografia no Ielusc, Maurício Melim disse que não conhecia a dinâmica do Second Life e considerou o trabalho interessante porque faz pensar em novas formas para a publicidade. Para ele, Greyce poderia ter explorado mais os autores. Com um questionamento, o professor terminou a arguição: “Tomando o senso comum de que isso é uma fuga da realidade como base, o Second Life não seria mais verdadeiro do que a vida real, falando exclusivamente da moda?”. Greyce concordou com a dúvida de Maurício porque para ela há, sim, um potencial de realidade dentro do jogo e ainda explicou o conceito de pirataria das marcas encontradas dentro do jogo.
A professora Maria Elisa Máximo começou sua fala com elogios referentes à escolha do tema e também à forma e à qualidade do texto. “É nítida a tua evolução, soube aproveitar essa oportunidade e a leitura está bem agradável”, ressaltou. Depois vieram as análises mais críticas: Maria Elisa questionou o uso do termo “segunda vida” pois há uma noção nas 30 primeiras página do texto que define o que é a vida cotidiana e a ideia de simulação. Segundo a professora, é preciso superar essa distinção, já que Greyce mostrou uma compreensão de que o virtual é mais do que uma “falsa realidade” e esse entendimento poderia levar a uma reflexão melhor. Ela ainda fez questionamentos acerca da identidade, pois “não é uma construção individual, ela depende do outro, também” e que, portanto, não deveria ser usado como sinônimo de personalidade, como aconteceu no trabalho. A avaliadora explicou que faltou um pouco de análise sobre as marcas virtuais e reais, pois Greyce só as categorizou.
Os pais de Greyce continuaram sentados enquanto a banca foi decidir a nota. A mãe, Solange, disse que eles acompanharam todo o processo de monografia e ficaram preocupados em vir à defesa porque isso poderia interferir no aspecto emocional. “A Greyce até ensaiou a apresentação em casa, momentos antes. Ela foi muito bem e já esperava os questionamentos da professora Maria Elisa. Mas estou tranquila: o orientador soube fazer críticas construtivas e isso foi muito bom para ela”, comentou Solange.