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Matéria 8328, publicada em 11/05/2009.


:Marcio da Rocha

Bonecos se apresentaram na praça de eventos

Críticas ao capitalismo no shopping

Marcio da Rocha


A chuva de sábado (9) não atrapalhou a apresentação da peça “Tete – a história do cara”, do grupo joinvilense Maginguelado. A encenação, que estava marcada para às 11 horas na praça Nereu Ramos, foi transferida para a praça de eventos do Shopping Müller. Os atores Luciano Fusinato e Allyne Deunisio dão vida a bonecos de aproximadamente 2,50 metros e narram a difícil relação entre homem e trabalho.

Tete, articulado por Fusinato, é um homem simples que não entende a necessidade do dinheiro para as coisas mais simples. Ele busca a todo momento resgatar aquela inocência que possuía na infância e que mais tarde, através do trabalho, se perdeu. O boneco, que representa o patrão, ou o grande capitalista para alguns espectadores mais politizados, tenta facilitar em tudo a aquisição de materiais simples, como uma cadeira a Tete. Esse, por sua vez, tem que assumir um compromisso com o patrão, ou seja, dar seu suor e tempo integral ao emprego oferecido.

A primeira frase da peça mostra bem o teor da narrativa. “Eu sou o patrão. A minha calculadora só soma e não divide”. Marlize de Assis Trindade, 34 anos, riu ao ouvir a frase. “Parece meu patrão”. Ela, que trabalha em uma grande fundição da cidade, emocionou-se com a peça. “Infelizmente é assim mesmo. Trabalhamos muito para conseguir o mínimo”. Para chamar a atenção de Tete, o boneco patrão se utilizava de recursos nada convenientes. Talvez o grande martelo com dinheiro preso na extremidade seja a maior demonstração da desigualdade trabalhista. Por sinal, o martelo do chefe era grande e a ferramenta dada ao empregado, também um martelo, era bem pequena.

Por ser uma peça adaptada para as ruas, chamou a atenção a questão do capitalismo ser abordada justamente no maior shopping da cidade. Fusinato alega ser mera coincidência. “Viemos encenar no Müller somente por causa da chuva, não pensamos em nenhum momento sobre isso. Foi pura coincidência”, explicou. Mesmo assim, foi visível o constrangimento de alguns funcionários de lojas, pois em alguns momentos a personagem Tete para em frente as vitrines e reclama dos preços altos. Além dessa relação viver-conseguir dinheiro, Luciano também destacou a paranóia gerada por esse sistema de produção. “As pessoas buscam trabalho apenas para saciar essa paranóia, ou seja, 'sem dinheiro não consigo fazer absolutamente nada'”.

A peça viaja pelo Brasil há três anos e já passou por mais de 60 cidades e, segundo a direção do evento, já foi assistida por aproximadamente 50 mil pessoas. O projeto conta com o apoio do Sesc (Serviço Social do Comércio) e a trilha original é composta pelo músico Fábio Kblo.
 

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