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Matéria 8288, publicada em 06/05/2009.


:Marcus Vinícius Carvalheiro

Peça foi apresentada na praça Nereu Ramos, no Centro

Dom Quixote radical desce de prédio

Marcio da Rocha

 

A rua do Príncipe, em Joinville, ficou tomada por curiosos que olhavam impacientes para uma mulher vestida de noiva no alto do Edifício Manchester, na terça (5), às 17h30. Quando ela começou a descer o prédio por uma corda, muitos colocaram as mãos na boca. Era nítida a apreensão dos espectadores. Uma mulher com sacolas da Casa Sofia me perguntou: “O que é isso?”. Eu respondi: “É uma peça de teatro”. Ela ficou espantada. “Nunca vi uma assim”, disse a senhora Teresa Andrade Corrêa, 68 anos, que tinha acabado de comprar um cobertor para o netinho de 3 anos. Assim que a noiva desceu do prédio, juntou-se a mais oito noivas e todas correram até o chafariz da praça Nereu Ramos. No Hotel Colon, um homem vestido com um terno preto também desce o prédio com uma corda, prometendo encontrar a amada Dulcinéia. A peça era “Das saborosas aventuras de Dom Quixote de La Mancha e seu escudeiro Sancho Pança – um capítulo que poderia ter sido”, do Grupo Teatro que Roda, de Goiânia, baseada na obra “Dom Quixote de La Mancha”, do espanhol Miguel de Cervantes Saavedra e dirigida por André Carreira. O espetáculo faz parte do 14º Festival Catarinense de Teatro, que abriu nesta terça, em Joinville.

A peça é encenada na rua e a participação do público, e até mesmo a paralisação do trânsito, são essenciais para a interpretação do espetáculo. Para Dionísio Bombinha, que interpreta Dom Quixote, esse sentimento de invasão do espaço público é parte da peça. “O público tem que ser natural, ou seja, pessoas que estão passeando e não estão informadas do que está acontecendo. Isso faz com que haja uma interação total do público”, explicou. Isso ficou claro assim que Liz Eliodoraz, que interpreta Sancho Pança, entra em cena. Algumas pessoas ficam constrangidas, pois pensam que a atriz é catadora de papelão, mas basta algumas falas para que todos entendam que aquela mulher suja e mal vestida é parte do espetáculo.

Dionísio contou que chegou à cidade um dia antes da apresentação. “Foi preciso estudar o espaço, verificar os aspectos dos prédios para utilizar o rapel e também saber onde é o centro nervoso da cidade”. A apresentação já está rodando o Brasil desde julho de 2006 e já causou alguns problemas para o elenco. “Já quebrei um dedo durante a encenação de luta de espadas e a Liz foi agarrada por um bêbado durante uma encenação”, contou. No caso da atriz, esses imprevistos até ajudam de certa forma a apresentação. “Teatro de rua é isso, temos que estar preparados para qualquer coisa, mas já estamos com uma certa 'malandragem', e conseguimos driblar essas ocasiões”.

O estudante Alexandre Martins da Silva, 17 anos, se disse surpreso com a ousadia dos atores e diretores da peça. “Achei que jamais veria um teatro assim em Joinville, pois a cidade é muito conservadora. Parabéns para os organizadores do evento”. Alice Warmeling Oliveira, 31 anos, que já assistiu o espetáculo aqui em Joinville, em 2008, se emocionou mais uma vez. “No ano passado eu chorei ao fim da peça e nesse ano chorei mais uma vez”.

Para quarta-feira, dia 6, estariam previstas as peças “O contra-regra” (infantil), do grupo Cirquinho do Revirado, de Criciúma, às 14 horas e “A galinha degolada” (adulto), encenada pela companhia Persona Cia de Teatro, de Florianópolis às 20 horas. Ambas no teatro Juarez Machado.

Joinville está preparada intervenções artísticas?

Durante a peça, que abriu o festival catarinense de teatro, alguns joinvilenses demonstraram impaciência. Enquanto o ator Dionísio Bombinha descia o prédio do Hotel Colon com uma corda, foi necessário a interrupção do trânsito. Isso foi o estopim para um buzinaço feito pelos motoristas que não suportaram esperar alguns minutos até o ator terminar a sua descida.

A outra cena negativa foi proporcionada pelos policiais militares da GRT (Grupo de Resposta Tática). Enquanto os atores caminhavam pela rua do Príncipe, algumas pessoas ocuparam parte da pista. Uma viatura dos militares se aproximou (a sirene e o giroflex não estavam acionados), e o motorista começou a acelerar o veículo, atrapalhando a encenação e causando medo aos espectadores, pois o motorista não desviou do público, obrigando as pessoas a se espremerem para dar passagem ao veículo. Os policiais que estavam no carro intimidaram as pessoas com olhares feios. Mas não adiantou. Assim que o carro começou a se movimentar o público brindou os policiais com uma sonora vaia.

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