Entre os estandes de editoras e livrarias instalados na Feira do Livro de Joinville, o espaço reservado para a Fundação Catarinense de Cultura (FCC) tem chamado a atenção para as obras realizadas por escritores e pesquisadores catarinenses. Rogério Alexandre, técnico em assuntos culturais da instituição e também professor de teatro, formado em arte cênicas pela Udesc (Universidade do Estado de Santa Catarina), em Florianópolis, salienta a importância dessas feiras para o incentivo à leitura e também a divulgação dos projetos elaborados pela FCC. “Muitas pessoas desconhecem os projetos da fundação, que além de promover trabalhos literários, elabora editais voltados para o teatro, cinema, teatro e outras manifestações artísticas. Meu trabalho aqui, além de vender os livros expostos (aproximadamente 400 exemplares), é divulgar outras áreas de incentivos culturais da FCC”, explica.
Rogério, funcionário da fundação há 30 anos, dá ênfase aos editais propostos para a edição de livros como o prêmio “Cruz e Souza”, que estimula a produção literária. O concurso tem duas categorias, nacional e estadual. Para ambos, os valores das premiações são de R$ 50 mil para o primeiro colocado, R$ 20 mil para o segundo e R$ 10 mil para o terceiro. “O prêmio é de dois em dois anos e a cada edição é escolhido um gênero literário”. Esse ano o escolhido foi o romance.
Nessa edição da feira do livro joinvilense, Rogério constatou mudanças significativas na estrutura do evento e também no público. “As pessoas estão comprando mais nesse ano. Somente no primeiro dia, uma mulher comprou seis livros”. Para ele, que só veio para Joinville no dia do lançamento da feira (1º de abril), admite que faltou tempo para as escolhas dos livros. “Soube em cima da hora que viria para cá, nós só tínhamos dinheiro para a diária do hotel e então a Sueli não cobrou a utilização do espaço”. Ele informou que alguns exemplares foram adquiridos diretamente com os autores, e outros com as editoras. “Esses são os livros mais caros. Variam de R$ 70 a R$ 120”. Os livros lançados pela FCC custam em média R$ 15. “Procuro expor os valores para não constranger as pessoas, assim elas saberão se têm ou não dinheiro para comprar”. O expositor diz que até o sexto dia de feira, já foram vendidos em torno de 70 livros. “Foi melhor que em outras edições da feira”, admite. Segundo Rogério, o melhor evento literário de Santa Catarina é a “Bienal do Livro”, em Lages. “É incrível como o povo de Lages adora a leitura. Apenas um estande vendeu todo o estoque no primeiro dia”.
Conhecendo o acervo
Rogério destaca a importância de conhecer o que está sendo vendido. Ele se considera um leitor voraz e garante ter lido pelo menos 95% do acervo exposto. “Muitas pessoas vêm até aqui e não sabem o que comprar, como conheço bem o estoque, posso indicar várias obras”. Aqui em Joinville, o campeão de vendas é o livro “Estrada Dona Francisca”, de João Francisco da Silva, lançado em 2002, e que está com a edição esgotada. Para evitar a falta de livros, o expositor propôs a reserva de alguns exemplares para a fundação. “Os livros que publicamos vão para as bibliotecas públicas e a outra parte fica com os autores. O que estamos fazendo agora é deixar alguns exemplares de reserva preservando o acervo da fundação”.
Pedagoga discute soluções para a educação no Brasil
Às 19h30, no sexto dia da feira (6), a pedagoga Isabel Cristina Hierro Parolin, que já lecionou na escola pública Ana Maria Harger, em Joinville, falou sobre os problemas da educação no Brasil, no auditório. O grande problema apresentado por Parolin é a falta de incentivo à leitura. “O Brasil é um país de poucos leitores”, disse. Para a educadora, o maior problema está no fato de que no Brasil os adultos não leem. “As crianças leem, se veem os adultos lendo”, enfatizou. Um dos exemplos utilizados pela pedagoga são os contratos imobiliários ou trabalhistas. “Grandes erros são cometidos no Brasil por causa da falta de leitura dos contratos”. Ela ainda aponta outro grande problema, o analfabetismo funcional, ou seja, ler e não compreender o que está lendo. “Além de não ler o contrato, muitas pessoas leem e não entendem nada”.
Para solucionar esse quadro, Parolin alerta sobre a importância de modificar a maneira de ministrar as aulas. “Essa coisa de explicar o que o autor quis dizer com o texto é ultrapassado. É chato para o aluno e ninguém sabe de fato o que se passou na cabeça do autor na hora de escrever seu conto ou romance”. A educadora também reconhece a importância de se melhorar políticas públicas para a área da educação. Bons salários, bibliotecas escolares com um bom acervo e sala de aulas confortáveis, são alguns aspectos que fariam a educação brasileira melhorar, destaca. Para ela, não basta “padronizar as escolas públicas”, como sugeriu o ex-candidato à presidência da república e senador, Cristovam Buarque (PDT-DF). “A 'revolução educacional' deve ser uma ação conjunta entre professores e o poder público, não basta somente boa estrutura, deve ser oferecido também condições dignas de trabalho aos profissionais”.
Na mesma noite, às 19 horas, antes da palestra de Parolin, o professor de língua portuguesa do colégio Positivo de Joinville, e também do curso Persona (escola de língua portuguesa localizado na rua 9 de março, 485, sala 701), Pablo Pereira, realizou uma micro-aula show sobre a reforma ortográfica. Além de apontar as principais mudanças ocorridas com a nova ortografia, Pablo identificou aspectos positivos e negativos da proposta que está em vigor desde 1º de janeiro de 2009. O professor alegou que, por conta da reforma, o Ministério da Educação (MEC), terá que reeditar todos os livros de gramática. “Isso resultará em gastos para o governo, e não será pouco dinheiro não pessoal”. Por outro lado, o professor acredita que as mudanças unificarão a língua-portuguesa. “Em Portugal, por exemplo, 'actual' não terá mais o C, será escrito igual ao que já escrevemos no Brasil há anos”, explica. Além do Brasil, Guiné-Bissau, Portugal, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Angola, Moçambique, Timor-Leste falam a língua portuguesa.