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Matéria 7470, publicada em 06/11/2008.


:Luiza Martin

Charles comenta a fiscalização do patrimônio tombado em Joinville

Bate-papo sobre cultura com o ex-presidente da FCJ, Charles Narloch

Equipe Revi


PATRIMÔNIOS CULTURAIS: [1] - 2 - 3

Luiza:
Um assunto que virou matéria aqui na Revi foi o Cine Palácio. No caso, ele é um patrimônio camuflado. No espaço físico do antigo cinema funciona uma igreja. Então, fica uma questão: até que ponto um patrimônio tombado é cuidado, é fiscalizado? Como a Fundação faz a fiscalização desses bens?

Sílvio: É, até porque, complementando a pergunta, a gente queria entrar para filmar e não pôde. Não é patrimônio público?

Charles:
Não é necessariamente público, né? Há fiscalização sim, tanto que a Fundação foi autora de uma série de denúncias junto ao Ministério Público. Por que que a gente sempre acabava apelando ao Ministério Público? Porque era a maneira mais acessível para nós da Fundação podermos ter uma resposta rápida, ou menos demorada, vamos dizer assim, da justiça. Então, o MP se colocou à disposição da Fundação para nos ajudar nesse sentido. A Fundação Cultural não tem jurídico, ela depende da procuradoria do município, que tem uma demanda enorme de outras áreas. Então, dependemos sempre da (área) jurídica, esse é um problema. Em muitos casos nós optamos por fazer denúncias ao MP. O caso do Cine Palácio, é um deles. Tem vários. O Casarão Timm foi feito denúncia porque foi demolido, e o antigo Hotel do Imigrante que está com o telhado caído, também permanece em pé graças a uma denúncia. Há uma fiscalização, porém é muito difícil. Da mesma forma como é difícil você fiscalizar o patrimônio natural, é também difícil fiscalizar o patrimônio cultural. A Fundação investiu e tem que investir ainda muito mais em ações de conscientização, para mudar a cultura das pessoas no que diz respeito à preservação do patrimônio. Porque não adianta a Fundação ficar sozinha e tendo a comunidade contrária a essa idéia, porque tudo precisa ser trabalhado desde a escola. Os imóveis históricos são derrubados na calada da noite, ou no final de semana, ou no recesso de natal, como foi o caso do Casarão Timm... a prefeitura toda fora, o casarão veio abaixo. Primeiro dia do recesso do natal... foi pro saco. As pessoas que destroem o patrimônio, seja ele natural ou arqueológico, agem em momentos específicos, justamente em momentos que não há fiscalização. É uma luta muito grande, muito grande mesmo.

Sílvio: Onde era o Casarão Timm?

Charles:
Do lado da Secretaria de Desenvolvimento Regional, naquela esquina da 9 de Março com a Blumenau. Foi amplamente divulgado na época e tal. É uma questão importante. Então, são esses desafios que este governo vai ter. O Rodrigo (Bornholdt) abordou muito a questão da economia da cultura. Falou muito da questão do cinema, de transformar Joinville num pólo cinematográfico, ele que insistiu sempre nisso. Foi iniciativa e estímulo dele para que fosse criada a Acinej, claro, graças também a um apoio pequeno que começou com a Fundação, e um edital de vídeo, que antes não tinha nada. Então, por quê? Porque a indústria do cinema, a indústria fonográfica, a indústria da moda, a indústria da gastronomia, a indústria do software, são esses segmentos que formam a chamada economia criativa, que é a economia da cultura. É uma visão mais ampla. A idéia de transformar a Cidadela (Cultural Antarctica) num centro de economia criativa... não estou dizendo aqui que cultura deve ser vista só a partir do capital, não é isso. A cultura tem outra função. Mas, também é preciso deixar claro que ela tem sim uma importância econômica. Durante muitos anos ela deixou de ser estratégica em programas de governo porque era lazer. Como muitas vezes as pessoas dizem assim “ah, trabalhar na Fundação é bom né, vocês só fazem festa”. Ah, sim. A gente trabalha enquanto os outros fazem festa. Muito pelo contrário, não é só festa, né.E é isso, realmente tem uma importância econômica gigantesca. E o Carlito (Merss) foi a pessoa que assumiu estas propostas, que dizem respeito à visão, à cultura. Principalmente como potencial para o desenvolvimento humano, não só da cultura em si, mas reverberando na saúde, na segurança, na educação, reverberando também na economia. Então, o Carlito se comprometeu com estas propostas. Os outros candidatos, não.

Melatti: Há declarações de algumas pessoas que diziam não entender o porquê de sua casa, seu prédio, estar incluído no projeto. Porque, na verdade, eram construções novas, recentes, não tinham grandes inovações arquitetônicas que precisassem ser preservadas. Isso é fato? É real?

Charles: É, é fato. É difícil das pessoas entenderem o porquê determinadas edificações ficam e outras não. Por que essa é importante se tem várias outras na cidade? Primeiro, a análise é feita em conjunto — o que não significa que edificações isoladas não possam ser preservadas. Elas até são, mas devem ter uma significância maior. A questão de idade e tempo também é relevante. Podemos tombar, por exemplo, a arquitetura modernista dos anos 60. Não quer dizer que ela não seja representativa. Construções dos anos 50, 60 e 70 já estão entrando em várias listas no mundo. Brasília é tombada como patrimônio da humanidade. Brasília é diferente, é um monumento, um patrimônio, mas existem representantes aqui, em Joinville, dessa arquitetura modernista. Então, há uma arquitetura que caracteriza os anos 60, outra que caracteriza os anos 50, o século XX, outras os anos 40, muito significativos em Joinville. Além daquelas construções do início do século, que são muito importantes, e de algumas do século XIX, do início da colonização de Joinville. A idéia que a maioria das pessoas tem é de que a preservação só acontece quando se trata de grandes palacetes — como o Niemeyer, a Casa Sofia, a Salfer (Lojas), a Deutsche Schule, a Lyra (Sociedade Harmonia), o Cine Palácio —, quando é a casa simples do cidadão comum, não. Só que essa casa simples do cidadão comum representa determinados estágios de desenvolvimento da cidade.

Priscila: E a área rural?

Charles: Poucas pessoas sabem que no ano passado a gente conseguiu ampliar o número de tombamentos federais. A gente conseguiu, no ano passado, por iniciativa da equipe da fundação, incluir o tombamento da Casa Krüger, da Estação Ferroviária, que foi uma conquista enorme, porque conseguir um reconhecimento desses não é simples. É uma honra ter o reconhecimento de um patrimônio nacional.Havia poucos em Joinville, o Cemitério do Imigrante, o Museu Nacional da Imigração, a Casa Schützche (de um agricultor) e a Casa Fleith (de outro agricultor). Quando os técnicos do Iphan vieram aqui, disseram o que nós já sabiamos. Nós fizemos um mutirão muito grande para terminar o levantamento da área rural. Fizemos antes na área rural, do que na cidade, porque a área rural está mais preservada. Fizemos todo esse levantamento. O que deu origem, já no governo Lula, à inclusão de Joinville nos roteiros nacionais de imigração, do qual a Casa Krüger será o portal de entrada. Essa é uma conquista bem legal que parece não ter existido. Em qualquer outra cidade, o fato de ter uma estação incluída como patrimônio nacional seria amplamente divulgado. Aqui, não foi por falta de ter encaminhado a notícia. Ninguém deu a mínima. É como se Joinville estivesse sendo castigada. "Ah! Lá vem o Iphan de novo proibir a derrubada das nossas casinhas", coitado do agricultor. Realmente, é preciso dar atenção, não basta só tombar. Tem que haver apoio para que o teto não caia. É fácil também tombar e não dar apoio. Tem os dois lados, mas aqui não deram a mínima. Pareceu um castigo para a cidade. E não é. "Ah! Lá vem o Iphan de novo proibir a derrubada das nossas casinhas", coitado do agricultor. Realmente, é preciso dar atenção, não basta só tombar. Tem que haver apoio para que o teto não caia. É fácil também tombar e não dar apoio. Tem os dois lados, mas aqui não deram a mínima. Pareceu um castigo para a cidade. E não é.



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