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Matéria 7462, publicada em 06/11/2008.


:Luiza Martin

Charles diferencia programa de governo dos candidatos a prefeito em relação à cultura

Bate-papo sobre cultura com o ex-presidente da FCJ, Charles Narloch

Equipe Revi


POLÍTICA NA CULTURA: [1] - 2 - 3

Melatti: Tu disseste que o programa de governo que tu tinhas feito para o Rodrigo [Bornholdt] tinha mais parentesco, mais similaridade, com o do Carlito Merss do que com o do Darci de Matos. Que pontos tu apontaria como coincidentes nos programas?

Charles: Basicamente a priorização à cultura. Os programas de governo geralmente mais progressistas e mais voltados a um governo popular colocam a cultura como uma das prioridades do plano de governo. O plano do Rodrigo não foi diferente, até porque o Rodrigo é do PDT. É um partido que tradicionalmente apóia a educação e a cultura como base da ideologia do partido. E o Partido dos Trabalhadores, de certa forma também, até porque eles vêm da mesma origem. Os programas, tanto no caso do PT, que eu acompanhei, como no caso do PDT, que eu coordenei o plano de governo do partido, a estratégia foi a seguinte: tu chamas as pessoas para reuniões e monta grupos. Não havia um controle se X ou Y participavam de um partido ou do outro e se simpatizavam por um candidato ou por outro. A idéia era fazer um programa para a cidade, independentemente de quem vinha. Muitas pessoas que participaram, pelo menos da área da cultura, dando sugestões para o plano do Rodrigo, também participaram dando sugestões para o para o plano do Carlito. Em alguns aspectos eles são semelhantes sim.

Melatti: Se os participantes e o próprio programa em muitos pontos é o mesmo, dá para se dizer que a cultura não tem ideologia? Já que ideologicamente são partidos diferentes, embora a origem esteja mais à esquerda, mas ideologicamente o trabalhismo se diferencia do socialismo defendido pelo PT. A cultura não tem ideologia?

Charles: A cultura tem ideologia sim. E a ideologia da cultura, hoje, politicamente, deve ser centrada com base num documento que é universal, que pouca gente ainda conhece no Brasil, que é a Agenda 21 da Cultura. Assim como em 92 foi elaborado um documento que é a Agenda 21, na Eco 92, no Rio, em 2004, em Barcelona, foi assinado um tratado que é a Agenda 21 da Cultura. Ela é o principal eixo ideológico de atuação de políticas públicas na área de cultura no mundo inteiro. E Joinville foi uma das cidades que esteve em Barcelona. É signatária. Eu diria que a ideologia da cultura é baseada, principalmente, em decisões que são universais, que são tomadas em conferências organizadas pela Unesco, e na própria Agenda 21 da Cultura. Então, a gente procura participar dessas ações para poder pelo menos ter uma atuação semelhante a que outros países estão tendo. Então, existe uma série de preocupações que são gerais no mundo, na área da cultura, nesse momento. E essas preocupações estão nos dois programas (do Rodrigo e do Carlito).

Melatti: O programa do Darci de Matos não contemplava nada disso?

Charles: Não, ele contempla questões da cultura também, mas não com a mesma visão que o plano do Carlito e do Rodrigo abordaram.

Tuane: Quais pontos você pode especificar de diferença entre o plano do Carlito, que se aproxima do Rodrigo, e do Darci?

Charles: Por exemplo, a questão da preservação do patrimônio histórico foi muito debatida nos últimos anos. Inclusive, eu acompanhei relativamente de perto a campanha de Blumenau e de Florianópolis, além de Joinville. E só Joinville debateu tanto a cultura, pelos sete candidatos. Em Florianópolis não foi. Eu nunca vi a cultura ser tão pautada como foi dessa vez. Outro aspecto é forma de encarar a cultura. O programa do Darci era mais voltado à visão de grandes eventos, de grandes espetáculos. E os outros programas, principalmente os que vão mais à esquerda, estão mais voltados à atuação da população diretamente. Não que o Darci não tenha proposto ter ações nos bairros. Não é isso. É uma questão de ideologia mesmo. É uma questão de forma de trabalho. Então, é muito diferente você falar assim: nós vamos levar cultura para todos os bairro. Começa o erro por aí.

Melatti: Que é aquela proposta mais paternalista e mais elitista?

Charles: A do Rodrigo e a do Carlito não: a população é um ator social. Ela não é um partícipe e um espectador. Ela é um ator social. Ela vai participar diretamente das ações que são oportunizadas a ela. Então, é diferente. A gente entende que existe uma demanda por aquilo que deve ser oferecido à população. A gente tem que ter um equilíbrio entre aquilo que é cultura universal, ou a cultura nacional e aquilo que precisa ser valorizado como cultura local e regional. Muitas vezes as pessoas não têm noção de que aquilo que elas praticam é cultura. De que o modo de fazer, os saberes que passam de pai para filho, de mãe para filha, a gastronomia, o bordado, fazer cachaça, tudo isso é cultura. Eu acho que a visão, tanto do Carlito como do Rodrigo, eram bem mais abrangentes e atualizadas com aquilo que se discute hoje na cultura.

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