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Matéria 7468, publicada em 06/11/2008.


:Luiza Martin

Charles Narloch fala sobre a aprovação de projetos

Bate-papo sobre cultura com o ex-presidente da FCJ, Charles Narloch

Equipe Revi


JOINVILLE E CULTURA: 1 - 2 - [3]

Melatti: Mas a qualidade também reflete a pouca quantidade?

Charles: Não. Há uma demanda enorme de projetos. Esse ano só o mecenato teve uma demanda de R$ 4 milhões para aprovar R$ 1milhão. A cada quatro projetos, aprovava-se um e três ficavam.

Melatti: Mas as próprias comissões têm quadros para variar todo ano, completamente?

Charles: São duas comissões. Uma analisa o mecenato. São dez pessoas indicadas por instituições culturais, universidades que se interessam, se cadastram e o conselho municipal escolhe quem vai participar. São representantes de instituições. A do edital são comissões de três membros cada. Até o ano passado, e a lei não prevê isso, nós fazíamos com duas pessoas de fora e uma daqui. Como a gente não quis colocar ninguém daqui esse ano, para evitar, talvez, uma aproximação, alguma decisão mais emocional, vamos dizer assim, que se trouxe os três membros de fora. E eles, não conhecem mesmo, e aí escolheram os melhores. Então, a única forma de resolver isso é ter uma decisão conjunta, ouvindo a comunidade. Se não, vai ser como a história do corredor de ônibus, mudando os critérios: quem entra num ano, não entra no outro, quem entra dois anos seguidos, não entra no outro. Acontece. Não com todos, mas acontece. Mas é curioso. Já teve casos engraçados. Pessoas que criticaram, criticaram, criticaram porque não entraram em 2005 e 2006, mas entraram em 2007 e 2008. Isso que elas achavam errado, agora elas acham certo. Mas, quando elas não ganharam, acharam errado. Quem recebe acha correto. Depende daquele caso de pessoas que não conseguiram aprovar seu livro e saíram soltando fogo. Aí, no ano seguinte, o livro foi aprovado e eu pergunto: “E agora? O que você vai fazer? Vai brigar com a gente de novo?” “Não, agora foi tudo correto”. Mas, a forma de análise é a mesma. Não teve nenhuma diferente entre um ano e outro. O artista, e eu posso falar isso de carteirinha, e quem trabalha com a impressa sempre fala, todo ser humano tem uma necessidade de aprovação, mas o artista tem isso mais exacerbado. Porque ele nasce e, às vezes, chega ao extremo de querer morrer no palco, pelo aplauso. O artista tem uma necessidade enorme de aprovação, de aplauso. Isso é da natureza do artista. Ele tem um ego mais exacerbado. Eu sempre falo isso para os artistas e eles falam: “você tá maluco”. Ao sabermos que temos um ego um pouco mais exacerbado que as outras pessoas, é um bom caminho para tentar controlá-lo. Todos os artistas consideram seus projetos os mais importantes do mundo. E aí você explicar para ele que houve uma comissão que analisou e achou que não é o mais importante gera uma dor de cotovelo tremenda. Os artistas nunca vão entender. E quem já trabalhou com edição sabe, porque a exposição de X ganhou uma página no jornal e a exposição do Y ganhou um box, entendeu? Por mais que você explique que é uma questão de oportunidade, que a sua exposição ia sair na primeira página, mas morreu o ator “não sei das quantas”. “Ah, mas o que eu tenho haver com a morte? Minha exposição é mais importante”. Ontem mesmo eu estive em Blumenau e os artistas tiveram uma página no Jornal de Santa Catarina sobre a exposição. Eles estavam brabos. Eu falei: “Gente, mas por que vocês estão brabos? O jornal teve uma página, teve a capa do suplemento cultural do Jornal de Santa Catarina. O que mais vocês querem? Tá o nome de cada um aqui". Eles disseram: “Não, eu quero saber qual o critério da escolha das imagens. Colocaram de uns, mas não colocaram de outros.” Eram 14 artistas eles optaram por quatro. Eu falei: “Gente, é uma questão de oportunidade, de uma foto ter ficado melhor que a outra.” Mas é a questão do ego, né? “Como colocaram a foto de X e não colocaram a de Y”? Então, é a mesma coisa: por que passa de um e não passa de outro?

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PATRIMÔNIOS CULTURAIS
O ARTISTA E O TRABALHO

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