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Matéria 7463, publicada em 06/11/2008.


:Luiza Martin

Charles fala do apoio a Carlito Merss

Bate-papo sobre cultura com o ex-presidente da FCJ, Charles Narloch

Equipe Revi


POLÍTICA NA CULTURA: 1 - [2] - 3

Melatti: Até que ponto esses documentos que você citou como basilares se concretizam na prática, como a Agenda 21 e o documento da Fundação Municipal de Cultura? Eles estão sendo implementados? No teu tempo, foram implementados? Até que ponto e qual a limitação disso?

Charles: Sim, foram implementados. O Ministério da Cultura tem implementado. Por exemplo, a Agenda 21 da cultura fala sobre o governo participativo, uma forma de governar sobre a existência de conselhos municipais, estaduais e nacionais. Como deve ser a formação desse conselho? No mínimo paritária. Hoje ele é majoritário, com representantes da sociedade civil. Então, tem uma série de aspectos, de atuação que a gente está relativamente bem. O documento recomenda que os municípios tenham um fundo municipal de cultura. Poucos municípios tem isso, Joinville conseguiu implementar. Mas pode ainda incrementar esse fundo. Ficou faltando uma atuação na área do incentivo ao patrimônio histórico. Quem tem um bem tombado, pelas diferentes esferas hoje não tem nenhum tipo de compensação e incentivo. E isso é cruel. É uma legislação necessária, porém está defasada. Precisa ser alterada. A visão de patrimônio está nesses documentos. Na verdade, esses documentos traçam pressupostos ideológicos que dizem respeito a uma realidade contemporânea, mas que preservam as especificidades de cada região. Não teria lógica ter um documento que não leve em consideração peculiaridades de cada bairro, cidade, país dentro do mundo. São princípios e preocupações globais que levam em consideração essas especificidades. Não é diferente da agenda 21, que tem preocupações globais que dizem respeito ao meio ambiente. Logicamente que a realidade da Amazônia é diferente da realidade da Sibéria.

Ariane: O que você vai fazer agora que o Carlito foi eleito? Vai ter algum cargo?

Charles: Não me oferecerem nada. Simplesmente porque eu faço parte do PDT por opção. Além de ter uma posição minha, o partido também teve uma decisão. Respeitei e fiquei feliz. Sai por causa disso. Imagino que vai ter uma participação sim, porque é natural. Mas não foi nada negociado nesses termos e não tenho nenhuma expectativa. Ao contrário do que muita gente diz, o PT tem quadro para montar sim, principalmente na área da cultura. Por exemplo, agora a pouco encontrei dois na entrada (do Bom Jesus/Ielusc) (risos). Eu acho que é natural que eles aproveitem os quadros deles. No mínimo, vou voltar a ser produtor cultural e propor projetos do Simdec. Eu vou continuar atuando. Sempre atuei como curador e como crítico, em alguns momentos. E isso eu nunca parei. Enquanto eu tinha meu trabalho na Fundação, continuei como assessor nas áreas de artes visuais do Sesc. Hoje eu oriento três projetos, que se chamam “Pretexto”. O mesmo que tem em Joinville, mas orientado por outros. Eu faço Blumenau, Jaraguá e Lages. Isso eu continuei fazendo nos finais de semana. Estava trabalhando durante a semana na Fundação e nos finais de semana fazendo essa parte, que é da minha carreira como artista e como alguém que atua na área de artes visuais. Não dá para dizer que eu vou parar. O que vai acontecer comigo, eu não sei. Eu vou continuar atuando.

Tuane: Então dá para dizer que esse seu apoio ao Carlito, e do seu partido, ele não possa acarretar algum convite para você voltar a presidir a FCJ ou algum tipo de programa?

Charles: Não sei especificamente se para mim vai gerar algum tipo de convite. Mas é natural que ele vá valorizar aqueles que tiveram ao lado dele. E aqueles que o apoiaram, além de valorizar o próprio PT. Quem? Quando? Onde? Quando? Eu não sei. Mas é muito provável sim. O Carlito em todos os momentos disse: "Nós vamos governar!" Assim como se o outro lado tivesse ganho, provavelmente ele ia aproveitar os quadros que o apoiaram.

Melatti: Por causa disso, não achas que é plausível a crítica que pode ser feita à sua atitude? No sentido de ter vislumbrado uma vitória do Carlito e ter desembarcado da nau naufragante do Tebaldi e companhia, e se colocar numa posição para ser chamado. O que tu responderias sobre isso?

Charles: Sim, várias pessoas já me falaram isso. Mas existem momentos. Primeiro, eu acompanhei todas as conversas iniciais de uma possível coligação até anterior. Não saí porque o PT resolveu lançar um candidato próprio e o PDT também. Mas havia uma proximidade anterior. Quem procurar fotografias do carnaval de fevereiro vai ver o Carlito conosco, junto. E só ele. Não porque só ele foi convidado. Mas porque só ele se manifestou em ir lá apoiar, mesmo que pessoalmente. Agora, a partir do momento em que você opta, mesmo sendo artista ou produtor cultural, em entrar dentro de um partido, você também sabe que há uma série de decisões tomadas coletivamente. Então, primeiro eu considero que fui absolutamente leal ao Rodrigo, que foi a pessoa que me convidou para trabalhar na Fundação. Então a parti r do momento em que o Rodrigo sai candidato, permaneço apoiando-o. Como ele não chegou, ele e o partido decidiram que não podia ser antes. Tinha que ser naquele momento. Decidiram por apoiar o Carlito. Pedi para sair naquele momento e faria também se a decisão fosse outra. Se a decisão do PDT fosse por apoiar o Darci, iria pedir demissão. Iria deixar meu cargo a disposição, iria pedir licença do partido e não sei o que iria fazer da minha vida. Eu acho que pode, sim, suscitar tranqüilamente, como pode suscitar esse tipo de comentário do PT. Também pode. Ou pior ainda: para o PPS do Xuxo (José Aloísio Vieira); para os descontentes do PMDB, que esse sim, não havia proximidade, discussão nenhuma, nem nada. Havia uma decisão do partido de ir para o outro lado. Até onde o Rodrigo me falou, ao contrário do que foi dito, nunca houve nenhuma garantia ao lado do Darci, de que haveria um apoio do PDT para ele. Esses anos que eu trabalhei na Fundação, várias vezes a imprensa disse assim: "A Fundação é uma ilha dentro da prefeitura, porque tem um forma de atuação totalmente diferenciada do grupo da prefeitura". Não fui eu que disse! A imprensa disse isso. E digo: "É verdade!" A gente, em determinados momentos, não teve a ajuda de ninguém para fazer uma ação por exemplo, como a do carnaval. Por que eu insisto tanto em falar do carnaval? Porque o carnaval é uma resposta de uma atuação do poder público a um evento que era esperado, que deu 35 mil pessoas esse ano (2008). Então, que cidade é essa que não tem carnaval? Que vão 35 mil pessoas em dois dias? Aí a prefeitura, através da Conurb, não nos cedeu nem os cavaletes para fechar as ruas. A Fundação teve que mandar construir cavaletes para fechar as ruas, porque não havia apoio interno. Porque era declarado que aquilo era um projeto do Rodrigo, e que a prefeitura não tinha nada a ver com isso. Assim como, me desculpem a franqueza, se vocês procurarem nos jornais vão ver várias vezes: "Joinville não tem carnaval!". "O carnaval de Joinville é em São Francisco do Sul!". Ora, se eu tenho uma atuação que vai justamente numa outra linha, eu não vejo como incoerente sair agora. Se eu tivesse optado em apoiar o Carlito, com certeza eu teria saído em abril. Mas eu estava com o Rodrigo, estou ainda com o Rodrigo, e apóio ele. Então, o momento de sair foi agora, porque a decisão saiu agora. Que pode gerar esse tipo de comentário, não tenha dúvida.

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