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Matéria 9078, publicada em 23/10/2009.


: Jéssica Michels

Hamilton Octávio de Souza fez palestra repleta de opiniões sobre o Brasil atual

Editor da Caros Amigos discute o jornalismo social

Francine T. Ribeiro



Rádios comunitárias, regulamentação da profissão, desigualdades sociais e boicote ao Enade foram algumas das questões abordadas por Hamilton Octávio de Souza, editor da revista Caros Amigos, professor da PUC/SP e jornalista há 37 anos. O debate com alunos de Jornalismo ocorreu na noite de quinta-feira (22 de outubro), no anfiteatro do Ielusc e deu continuidade às atividades da Semana Acadêmica da Comunicação Social.

Hamilton já trabalhou no Estadão, na Folha de S. Paulo e na Editora Abril. Atuou também nas imprensas sindical, alternativa e popular. Atualmente, lamenta que os sistemas de comunicação de massa estejam concentrados nas mãos de poucos proprietários que visam apenas ao lucro, à audiência e aos seus próprios interesses. “Praticamente oito grupos comandam cerca de 90% das empresas de comunicação”, avaliou, lembrando que a função informativa da mídia é deixada de lado para servir às demandas destes grupos.

A política brasileira também foi pauta de debate. Hamilton afirmou que o seu “universo de preocupação” é o país, considerado uma potência econômica, mas que apresenta grandes desigualdades sociais. “No Brasil, alguns acham que são melhores que os outros”, enfatizou. Para ele, a concentração da informação nas mãos de um pequeno grupo prejudica a cultura: “Vivemos numa sociedade mais pobre culturalmente e democraticamente”, resumiu.

A propagação de notícias com enfoques estrangeiros também foi discutida. Hamilton citou como exemplo os ataques ao World Trade Center em 2001 e a cobertura jornalística feita na época. “Não foi apresentada à população a visão brasileira do fato. Só a reprodução das imagens das tevês americanas”, lembrou. “Somos massacrados pelos 'enlatados' estrangeiros. Somos resultado deste produto vindo de fora”.

Para o editor, o aumento dos cursos de Jornalismo pelo país diminui a qualidade profissional, já que formar jornalistas implica em capacitar profissionais para que pensem por conta própria. Se não for dessa forma, explicou Hamilton, haverá uma reprodução do sistema atual. “A cabeça pensante do Brasil não pensa”, afirmou, se referindo às universidades.

Outra questão polêmica que foi levantada durante o debate foi a aplicação das provas do Enade nas instituições de ensino superior. Para Hamilton, o exame não é aplicado de forma justa em todas elas, já que os mesmos critérios são adotados para instituições que possuem características distintas e estão localizadas em diferentes regiões do país.

À Revi Hamilton confessou que se sentiu surpreso com o convite da organização do evento e com o envolvimento dos alunos na Semana Acadêmica. “Jornalismo necessita de preparo técnico, mas também dessa reflexão”, reforçou.

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