Após a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) em desregulamentar a profissão de jornalista, iniciou-se um debate além da obrigatoriedade do diploma: o da desistência do curso de Jornalismo por parte dos acadêmicos. Segundo Edson Luiz Spenthof, presidente do Fórum Nacional dos Professores de Jornalismo, ainda não se tem ideia do futuro dos cursos, mas ele acredita que não serão fechados de imediato. "Os cursos que já têm problemas hoje sentirão os reflexos e poderão fechar", explicou. A qualidade no ensino será o grande diferencial com a queda do diploma, segundo Spenthof. “Agora é o momento de investir mais na qualidade”, explicou.
Sílvio Melatti, coordenador do curso de Jornalismo do Bom Jesus/Ielusc, concorda com esse pensamento. Segundo o professor, já existe a procura de bons profissionais com maiores titulações. “Pretendemos melhorar o quadro de professores”, disse. Mas ele admite a dificuldade em manter ou mesmo contratar profissionais qualificados. Professores com doutorado estão optando por seguir carreira nas universidades públicas, mesmo com salário mais baixo, lembrou Melatti. “É um movimento natural”. O coordenador se reunirá com a direção geral da instituição para avaliar essas questões, mas entende que nada será alterado. Nos dias 9 e 10 de julho, os professores farão o planejamento do próximo semestre e discutirão a não obrigatoriedade do diploma.
Muito se fala na queda do número de alunos de Jornalismo. Melatti acredita que haverá um “enxugamento” na quantidade de universitários mas, segundo o professor, a partir de agora somente quem realmente quiser ser jornalista entrará na faculdade e buscará a formação nessa área. Já Spenthof entende que estudantes com dificuldades financeiras também poderão deixar os estudos devido à instabilidade no mercado de trabalho.
Sérgio Murillo de Andrade, presidente da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), disse que ainda é cedo para saber o futuro dos cursos de Jornalismo. A decisão foi tomada semana passada e, segundo ele, a “pancada” foi muito forte. Murillo acredita que haverá uma crise no ensino, mas que as faculdades não acabarão com a formação de profissionais para área de jornalismo.
Atleta paraolímpica e acadêmica de Jornalismo do Bom Jesus/Ielusc, Maria José Ferreira Alves, a Zezé, se sentiu entristecida com a decisão do STF. “Esse Gilmar (Mendes, presidente do STF) é um frustrado. Acho que ele queria ser jornalista, mas o pai obrigou a fazer Direito. Por isso falou tudo aquilo”, brincou, citando a comparação que o ministro fez entre jornalistas, cozinheiros e costureiras. Zezé, que já trabalha com esporte, ficou chateada em saber que agora, no seu caso, terá que concorrer com atletas sem formação acadêmica para atuar como jornalista esportivo. “Se eu e a Hortência formos procurar emprego, ela consegue pelo nome que ela carrega, não pela qualidade profissional”, explicou. Mesmo com a decepção, Zezé não se arrepende da escolha do curso e diz que se precisasse, entraria nele novamente.