Não apenas os computadores são roubados do Bom Jesus/ Ielusc: o mesmo acontece com os livros. Só no ano passado, cerca de 50 obras foram furtadas das bibliotecas das unidades Centro e Saguaçu. Há três anos, Maria da Luz Machado, bibliotecária, viu um menino que na época pertencia ao ensino médio colocar um livro de química sob a jaqueta. Maria conta que a explicação do rapaz para o ato não foi satisfatória: era de “pura sacanagem”. Esse foi o único caso no qual o autor do furto foi descoberto.
A biblioteca repõe apenas os livros que fazem parte da bibliografia básica dos cursos. Mas, além dessa atitude, nenhuma outra é tomada. Maria já propôs para a direção um sistema de segurança, mas o projeto foi deixado de lado por causa dos custos.
W.C. (iniciais fictícias), estudante do Ielusc, admite que já roubou livros da biblioteca. No ano de 2007, ele levou dois: “A Caverna” e “O Evangelho segundo Jesus Cristo”, ambos do escritor português José Saramago. Ele diz que apesar de ter dinheiro para comprar livros, não sente nenhum remorso, pois, segundo ele, os dois exemplares sempre estiveram na biblioteca e quase nunca eram retirados. W.C. diz que ficou “namorando” os livros por meses, e eles sempre estavam lá. Ele conta que a sensação dominante no momento do furto era de tensão, e que saiu com as obras nas mãos, nas duas vezes, como se nada estivesse acontecendo. O estudante já roubou coisas em outros lugares: 2 DVDs em um posto na BR, bombons nas lojas Americanas e placas de informação.
“Falta cultura, educação e bom senso”, indigna-se Maria, que não entende como alguém da instituição tenha interesse em depredar um patrimônio de todos. O psiquiatra Cláudio José Simões Ribeiro explica que a sociedade atualmente está mais permissiva e dinâmica. A conseqüência disso é a tendência à vulgarização do crime: certos delitos tornam-se normais e aceitos. Episódios ocorridos na infância também contribuem para a formação de um adulto com algum desvio de caráter, mas isso não é regra. Na sociedade atual, é mais fácil que certos indivíduos desenvolvam cleptomania ou transtorno de personalidade anti-social, mas o psiquiatra alerta que é necessário analisar cada caso com cuidado antes de dar algum diagnóstico. “Não é que todo mundo seja psicopatinha júnior”, brinca Cláudio.