O destino de Joinville em 66
páginas
Jouber
Castro
O que acontece quando uma cidade decide traçar metas de desenvolvimento
sustentável, integrado, harmonioso e equilibrado? Se você ainda não conhece nada
desse tipo, diga “prazer!”. Eis o Plano Diretor de Desenvolvimento Sustentável do Município de
Joinville.
Foi o artigo 41 da lei complementar federal 10.257 ― o chamado Estatuto da Cidade, de 10 de julho de 2001 ― que decidiu: o
plano diretor é obrigatório para cidades com mais de 20 mil habitantes. No caso
de Joinville, trata-se de um conjunto de diretrizes e orientações para
formulação e reformulação de leis urbanísticas, políticas urbanas e rurais, além
da criação de planos estratégicos para cada setor da administração ― por
exemplo: saúde, educação, meio ambiente, segurança etc. A cidade já conta com um
plano diretor, instituído em 1973 e ainda em vigor. Este,
diferentemente do documento que está em discussão na Câmara de Vereadores,
tratava apenas de questões urbanísticas, como definição de áreas residenciais e
comerciais, e quantidade de pisos que as edificações poderiam ter em cada uma
das áreas, além da legislação de loteamentos e ruas.
Desde 2005 a prefeitura se encarregou, por meio do Ippuj (Fundação Instituto
de Pesquisa e Planejamento para o Desenvolvimento Sustentável), de coordenar a
formulação de um novo plano. Entre 16 de maio de 2005 e 27 de setembro de 2006
deu-se uma seqüência de reuniões, conferências e seminários que envolveram,
segundo a informação oficial, quase 44 mil pessoas (aproximadamente 9% da
população de Joinville). Até que, no dia 10 de outubro do ano passado, o
prefeito Marco Tebaldi enviou à Câmara de Vereadores o projeto de lei complementar.
Desde aquela época até hoje, tudo está no mesmo pé. Em reuniões semanais na sala das comissões , na Câmara, a minuta
do projeto tem sido lida e revisada de cabo a rabo. “Acho que com mais umas duas
ou três reuniões dessas a gente já encerra isso daqui”, profetizou no dia 12 de
setembro o vereador José Cardozo, o Cardozinho, do PPS, presidente da Comissão
de Legislação, Justiça e Redação. Ele e o vereador Lauro Kalfels, do PSDB
(presidente da Comissão de Urbanismo, Obras e Serviços Públicos), são os
responsáveis pela série de encontros de estudo onde o projeto é analisado.
Após o fim da análise, que deve se dar no início de outubro, a assessoria
jurídica da Câmara ficará responsável pela reescrita do plano com as alterações
realizadas nas reuniões. Terminada esta fase, o projeto será apreciado em
votação no plenário. Aprovado, será enviado para a sanção do prefeito, e entrará
em vigor assim que for publicado no Jornal do Município. Porém, quem pensa que o
processo está encerrado está muito enganado: no pacote do Plano Diretor estão
incluídas 76 leis complementares, que têm um prazo de um ano para serem
formuladas. Ouça como se dá a criação das leis complementares.
As inovações do Plano
Inciso segundo, parágrafo quarto, artigo 40, capítulo terceiro. Está escrito:
“No processo de elaboração do plano diretor e na fiscalização de sua
implementação, os Poderes Legislativo e Executivo municipais garantirão (...) a
publicidade quanto aos documentos e informações produzidos.” Entretanto, tal
resolução não tem sido cumprida no plano de Joinville. A versão mais recente do
plano disponível para a consulta da população é o projeto original, enviado pelo
prefeito em outubro de 2006. Segundo a diretora jurídica da Câmara, Daniela
Pacheco Dias, quando a parte de revisão do projeto estiver encerrada, ela pedirá
à procuradoria do município uma cópia digital do plano e fará as modificações
que foram definidas nas reuniões. Essa versão, a ser enviada à votação, tem
alguma chance de ser divulgada ao público, mas ainda sem prazo definido.
O projeto original contempla todas as áreas da administração, e influenciarão
uma reconfiguração do mapa de Joinville. Contém medidas que vão desde implantação
de incubadoras para micro, pequenas e médias empresas e novos parques
tecnológicos até auxílio financeiro para os paramentos do Corpo de Bombeiros
Voluntários, além da instalação de um terminal de cargas no Aeroporto de
Joinville e incentivo ao turismo rural e ecológico. Tudo calcado na
obrigatoriedade do zelo pelo desenvolvimento sustentável com aquilo que o
projeto chama de “visão holística de futuro”.
O Plano Diretor, na verdade, é uma síntese de todas as reivindicações de
melhorias para a cidade. Por isso, é bastante abrangente. O projeto promete que
Joinville incentivará o associativismo, elaborará planos urbanísticos de
requalificação urbana para o setor central tradicional da cidade e promoverá a
aproximação do emprego à moradia, por exemplo. Um dos incisos no artigo que
trata da habitação é bastante curioso, pois já trabalha com a possibilidade de
catástrofes ambientais: fala que a cidade incentivará a pesquisa buscando a
identificação de novos padrões urbanísticos, “prevendo alterações climáticas e
mudança no nível do oceanos”.
Na área dos programas setoriais, o plano prevê a criação de planos municipais
para habitação, educação, saúde, segurança e meio ambiente. Também são
prioridades do plano a criação de uma política de alimentação e nutrição para
toda a população, a integração regional e o planejamento participativo. Além de
tudo isso, há também as regras de uso do solo, zoneamento e ordenamento
territorial, já presentes no plano de 1973. O município será dividido em duas
macrozonas: rural e urbana. Cada macrozona será fracionada em várias diferentes
áreas, por condição ambiental ou concentração de edificações, entre outras
características. Cada área contará com um conjunto de regras especiais definidas
por leis complementares.
As novas diretrizes de Joinville também contêm novos conceitos em relação à
gestão popular da cidade. O primeiro deles é o Conselho Municipal de
Desenvolvimento Sustentável ― Conselho da Cidade ― um órgão de consultoria e
deliberação por onde passarão todas as propostas de modificação no Plano
Diretor. O conselho também será responsável por fiscalizar a implantação das
medidas descritas no projeto e convocar a Conferência Municipal da Cidade. Esta
será realizada a cada dois anos, aberta a todos os cidadãos. Nestas conferências
serão definidas as novas diretrizes da política urbana do município. Para fechar
o pacote, o plano também cria o Sistema de Informações Municipais, concebido
para reunir todos os dados que nortearão a gestão e o planejamento do
município.
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