Revi Bom Jesus/Ielusc

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Matéria 4370, publicada em 23/05/2007.


Tudo começou no museu

Roelton Maciel


Foi caminhando entre as antiguidades do Museu da Bicicleta (Mubi) que Nelinho topou com algo muito familiar. E não era uma relíquia de duas rodas. Em frente ao senhor de 72 anos estava uma linotipo. Peça típica de museu – consumida pelo tempo, obsoleta. Muito diferente daquela pela qual ele tanto zelava, nos fundos de casa. Surpreso, imediatamente chamou Valter Busto, o diretor do Mubi.

Nelinho contou sobre sua paixão pelas linotipos, uma relação de trabalho e dedicação que já passava de 60 anos. Valter, então estudante de jornalismo, ficou admirado. Especialmente quando soube do tesouro resguardado pelo visitante: uma linotipo norte-americana, fabricada em 1918, operando plenamente. Nelinho também confidenciou um desejo. Pretendia doá-la. Bastava alguém querer.

Valter se tornou amigo do linotipista e, pouco tempo depois, conferiu com os próprios olhos o trabalho de Nelinho. Ficou perplexo. De imediato, vislumbrou o Ielusc como o destino mais honroso para a máquina. Sem esforço, convenceu Nelinho e, com a mesma facilidade, aliou o professor Gastão Cassel na causa.

Gastão, aliás, foi um dos poucos a testemunhar o trabalho da linotipo. “A faculdade receberia uma máquina extraordinária”, definiu o docente. Na época, o professor orientava a produção da revista Primeiros Ensaios, uma publicação acadêmica voltada à discussão dos meios impressos na era da convergência digital. Não por coincidência, Nelinho e sua máquina se tornaram assunto na revista. Durante dias, o velhinho abriu as portas da pequena garagem aos estudantes de jornalismo. O convívio resultou em um perfil de duas páginas, assinado pelo repórter Robson Silva. A matéria levou ao campus a história de um personagem do jornalismo, além de tornar público os planos sobre a doação.

Abrigada em um celeiro de jornalistas, a velha companheira do linotipista poderia ainda contagiar a muitos com sua presença. Toneladas de história prestes a encarar uma geração anestesiada pela tela do computador. Mas, para a infelicidade dos românticos, o desejo revelado entre as paredes do museu não se realizou. O motivo, segundo Marília Jusi da Silva, assessora da direção, foi a falta de lugar adequado para alojar a linotipo. Desculpa que não convence Valter. “Foi um desrespeito à memória do Nelinho. Podiam ter colocado aquela máquina em qualquer lugar”, dispara. Desapontado com a instituição, o ex-acadêmico confessa: “Me arrependi de ter sugerido o Ielusc para receber a doação”.




Linotipo do Mubi: inferior à de Nelinho.

800x600. ©2005 Agência Experimental de Jornalismo/Revi & Secord/Rede Bonja.