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Matéria 4372, publicada em 23/05/2007.


O triste fim

Roelton Maciel


O banquinho da linotipo já não era ocupado há mais de dois meses. Sem Nelinho, a máquina ficou fadada à própria sorte. Nas mãos do antigo dono, fervia a 370 graus celsius. Agora, permanecia gélida. Carmelita da Silva, a viúva, pouco pôde fazer. Ela nem mesmo sabia ligá-la. E nem pretendia. A esposa queria ver a herança do marido onde ele tanto desejou: em meio aos futuros jornalistas.

Mas, no Ielusc, os responsáveis pela instituição não pareciam compartilhar do mesmo interesse. O preciosismo da diretoria impedia a realização do sonho. Alegavam falta de espaço – e já sobravam salas vazias na época. Para Carmelita, que não conseguia mais encarar a peça, só restou uma saída: vender a antiga fonte de renda da família.

Os compradores apareceram. Notaram o ótimo estado da mercadoria, mas pouco se importaram. Não se interessavam pelo funcionamento do produto, só queriam sucateá-la. E, assim, três homens sovaram a máquina a marteladas. Foi preciso cortá-la em pedaços para atravessar a porta. Lágrimas desesperadas corriam pelo rosto de Dona Carmelita, que tapava os ouvidos em vão. O barulho das pancadas por muito tempo ainda ecoaria na memória da viúva. "Foi muito triste, não gosto de lembrar".

Carmelita não consegue imaginar a reação do marido, caso houvesse testemunhado o fim trágico da linotipo. "Sempre que ela dava algum problema, ele mesmo consertava. Aquilo era a vida dele", lamenta. O valor pago pela sucata, lembra a viúva, foi "mais ou menos 800 reais".

800x600. ©2005 Agência Experimental de Jornalismo/Revi & Secord/Rede Bonja.