A paixão pelo trabalho gráfico está marcada no DNA dos Silvas. O sobrinho de
Nelinho, José Acácio da Silva, o Zequinha, também foi linotipista. Um dos
últimos da cidade. "Meus tios, primos e irmãos foram gráficos", conta. Ele é
parte de uma geração praticamente extinta. "Já são quatro viúvas de linotipistas
na família. Ninguém mais mexe com isso".
Zequinha presenciou quase todos os métodos empregados para dar vida a um
jornal. Mas, a exemplo de seus parentes, foi afastado das antigas máquinas
devido ao avanço tecnológico. Atualmente, ele só exerce o cargo de presidente do
Sindicato das Indústrias Gráficas de Joinville. E é sob os cuidados dele, na
sede do sindicato, que descansam as únicas peças poupadas do atentado à linotipo de Nelinho.Três pedacinhos de metal que
representam o "fim de um sonho" para o sindicalista. "Era uma máquina
fantástica, tinha quatro magazines com quatro tamanhos diferentes de corpo".
Do passado, ficaram histórias e lembranças nostálgicas. "Tive várias camisas
queimadas", lembra, se referindo às gotas de óleo quente que respingavam quando
operava desatento. "Era muito bom. Foi a melhor profissão da minha vida". Além
dos contratempos com as roupas, Zequinha também guarda na memória outro episódio
pitoresco, obra do tempo em que as linotipos não combinavam com ferro-velho:
"Aconteceu no antigo Jornal de Joinville. Da noite para o dia, a nossa linotipo
sumiu. Tinha sido roubada". Parecia impossível, mas o furto foi executado por
uma única pessoa. "Era um mecânico. Todo dia tirava uma peça, até que conseguiu
levar a carcaça em cima de um caminhão".
Zequinha não condena a chegada dos computadores. Até mesmo reconhece a
contribuição das novas invenções ao ramo gráfico. Mas, como um representante da
moda antiga, lamenta o fim do romantismo. "Hoje, ninguém mais dá valor ao
passado". Zequinha seguiu a profissão do pai, seus filhos não farão o mesmo.
O que sobrou da linotipo de Nelinho.