A saúde de Nelinho havia se fragilizado durante o mês de maio. No entanto, o bom humor característico e a disposição para o trabalho persistiam. O contato com os acadêmicos de jornalismo reacendera o brilho nos olhos do veterano linotipista. Por dias, ele concedeu entrevistas e posou para fotos. Na garagem de casa, seu refúgio preferido, convidou os jovens a viajar no tempo. Sentia prazer em falar sobre a antiga companheira de trabalho. Apesar de doente, estava animado. Vivia a expectativa de passar seu legado adiante. Queria ver a linotipo pulsando aos olhos de toda a faculdade, e não cobraria sequer um centavo pela doação. Tratava-se de um desejo antigo.
A gentileza, porém, não decretaria o fim da parceria entre o homem e a máquina. Pelo contrário. Nelinho pretendia operá-la didaticamente, ensinando aos alunos a arte da linotipia. Ansioso como uma criança, de pouco em pouco se perguntava: "Será que hoje eles vêm buscar?". Mas, "eles" não apareciam. De trena em mãos, mediu cada centímetro da garagem. Os cálculos diagnosticavam uma difícil locomoção. Somente um guincho daria conta da empreitada. Nada que preocupasse Prudêncio Evaristo da Silva, um senhor de 72 anos, disposto arrancar o telhado de casa para dar nova morada a sua antiga paixão.
Semanas se passaram. A diretoria da faculdade não se manifestou e, como quis o destino, no dia 5 de junho de 2004 Nelinho partiu. Ninguém mais trabalharia nos teclados primitivos que ele tanto estimou. O homem se foi, ficaram as histórias. Uma delas, com reticências: a linotipo que a burocracia do Ielusc vitimou.