A noite de quarta-feira (14 de março) ofereceu ao público da Feira do Livro a palestra “Como se fizesse um cavalo”, com a escritora e jornalista Marina Colasanti. O evento teve início às 19 horas e juntou rapidamente um grande público, de todas as idades. Muitos assistiram à palestra em pé e até mesmo sentados pelos arredores do auditório da feira. A escritora tem um currículo extenso e uma bibliografia que inclui contos, crônicas, poemas, histórias sobre o amor e, principalmente histórias juvenis e infanto-juvenis, totalizando 33 livros. Em 1994, Marina ganhou os prêmios Jabuti nas categorias poesia e infantil/juvenil.
A palestra teve foco nos trabalhos de literatura infanto-juvenil e no papel das mulheres de inserir a leitura dentro de casa. Trabalhando em redação durante 18 anos – em um total de duas décadas de atividade jornalística – Marina relata que começou a escrever contos por acaso. “Na época inicial, trabalhava no Jornal do Brasil e um certo dia tive que substituir uma colega de trabalho que escrevia para o suplemento infantil que havia no jornal”, afirma. Para não perder a linha de construção dos textos, Marina decidiu pegar o conto da Bela Adormecida e refazê-lo, modificando estrofes. Sem perceber, a escritora acabou fazendo seu primeiro conto, mais tarde intitulado “Sete anos e mais sete.” Foi a partir desse momento que percebeu o privilégio que sentia ao escrevê-los e passou a dedicar-se a esse trabalho.
A autora afirmou que os contos fazem parte de nossas vidas muito antes do que podemos imaginar. Em séculos passados, disse, as mães contavam histórias de ninar e através desses contos as crianças entravam no mundo dos sonhos e os pais conseguiam uma aproximação maior com seus filhos. Essa contação de histórias foi se perdendo no tempo e, nos dias atuais, as mães até contam histórias para seus filhos dormirem, mas esvaziou-se um pouco o sentido original: com a correria do dia-a-dia e com o estresse, os pais contam histórias a seus filhos por obrigação.
Marina, defensora da revolução feminista, disse que as mulheres sempre tiveram o papel de narradoras criativas, mas que isso não foi valorizado e enfraqueceu com o passar do tempo. “Toda a construção historiadora da mulher foi sistematicamente perdida e só conseguiu obter reconhecimento novamente depois de anos, mais precisamente no século 19”, explicou.
A autora confessou ser apaixonada por contos de fadas, mas disse que não os escreve pensando nas crianças e, sim, por ser um gênero literário com exigências claras e rígidas, capazes de estimular o imaginário de qualquer pessoa, independentemente de sua idade. “Conto de fada é um tesouro, acho um privilégio poder escrevê-los e conseguir falar com o inconsciente das pessoas”, concluiu.