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chamadas

Matéria 8452, publicada em 22/05/2009.


:Marcio da Rocha

D. Geraldina (E) reencontra antiga paciente

Ideia de manicômio revolta profissionais da saúde

Marcio da Rocha



Com severas críticas à imprensa local, encerrou nessa sexta-feira, 22 de maio, a Semana de Orientação e Conscientização Sobre Saúde Mental de Joinville, na praça Nereu Ramos, às 12 horas. Sandra Vitorino, coordenadora municipal de saúde mental, lamentou a falta de divulgação do evento e também o descaso do poder legislativo e executivo com o tema. A coordenadora citou uma matéria publicada no jornal A Notícia na sexta (22), divulgando um projeto de autoria do vereador Maurício Peixer (PSDB), que propõe a construção de um hospital psiquiátrico em Joinville. “É inadmissível essa proposta”, diz. Para a profissional, o jornal pecou ao não noticiar a semana da saúde mental e também ao divulgar uma iniciativa que vai na contramão da lei nº 10.216/2001, que proíbe a abertura de hospitais psiquiátricos públicos.

A psicóloga Ivelise Macagnan, explicou que se houver o interesse em abrir um hospital psiquiátrico em Joinville ou em qualquer cidade, o investimento tem que ser privado e não público. “A lei proíbe hospitais psiquiátricos públicos”. Ivelise lembrou que o ideia é acabar também com as chamadas alas psiquiátricas. “Queremos leitos disponibilizados para pacientes com problemas psiquiátricos e não uma ala inteira para essas pessoas”.

A técnica de enfermagem Geraldina Garcia Medeiros da Silva, 53 anos, conhece bem os problemas gerados pelo antigo tratamento oferecido aos pacientes com distúrbios mentais. Seu filho Rafael Felipe, na época com 17 anos, foi submetido aos tratamentos convencionais para transtorno bipolar. “A falta de informação sobre os problemas do meu filho e também o despreparo dos profissionais da época, contribuíram para piorar o estado de saúde dele”, informou. Ela só foi conhecer novos meios de tratar a doença através de pesquisas feitas pela internet. “Não conhecia a doença, e também os profissionais que trabalhavam no hospital não tinham qualquer informação”. Durante essa fase, seu filho passou por situações constrangedoras. “Às vezes eu sentia vontade de ir embora e carregava todas as suas coisas para a rua. Algumas pessoas mal intencionadas se aproveitavam do problema dele para roubá-lo”.

Como Rafael era evangélico, houve momentos em que ele e pessoas ligadas à igreja procuravam tratá-lo somente com orações. “Diziam que ele estava possuído por um demônio. Como ele era evangélico, acabava acreditando nessas histórias. Para amenizar a situação, Geraldina destacou a importância da família no tratamento. “Nós passamos segurança para ele”. Hoje Rafael está se formando em turismo e trabalhando na Promotur (Fundação de Promoção de Planejamento Turístico de Joinville). “Por causa da doença, ele perdeu dois anos de faculdade, mas agora ele é um vencedor”.

Sandra Vitorino espera que esse novo hospital psiquiátrico de Joinville não saia do papel e que o poder público invista em outros tipos de terapias. “Temos que ter centros culturais dentro dos CAPs (Centro de Apoio Psicossocial) e residências terapêuticas. Não se pode é trancafiar essas pessoas em hospitais. Essa proposta da câmara tem a intenção de esconder os pacientes e não tratá-los. Queremos uma sociedade livre de manicômios”.

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