Com severas críticas à imprensa local, encerrou nessa sexta-feira, 22 de
maio, a Semana de Orientação e Conscientização Sobre Saúde Mental de Joinville,
na praça Nereu Ramos, às 12 horas. Sandra Vitorino, coordenadora municipal de
saúde mental, lamentou a falta de divulgação do evento e também o descaso do
poder legislativo e executivo com o tema. A coordenadora citou uma matéria
publicada no jornal A Notícia na sexta (22), divulgando um projeto de
autoria do vereador Maurício Peixer (PSDB), que propõe a construção de um hospital
psiquiátrico em Joinville. “É inadmissível essa proposta”, diz. Para a profissional,
o jornal pecou ao não noticiar a semana da saúde mental e também ao
divulgar uma iniciativa que vai na contramão da lei nº 10.216/2001, que
proíbe a abertura de hospitais psiquiátricos públicos.
A psicóloga
Ivelise Macagnan, explicou que se houver o interesse em abrir um hospital
psiquiátrico em Joinville ou em qualquer cidade, o investimento tem que ser
privado e não público. “A lei proíbe hospitais psiquiátricos públicos”. Ivelise
lembrou que o ideia é acabar também com as chamadas alas psiquiátricas.
“Queremos leitos disponibilizados para pacientes com problemas psiquiátricos e
não uma ala inteira para essas pessoas”.
A técnica de enfermagem
Geraldina Garcia Medeiros da Silva, 53 anos, conhece bem os problemas gerados
pelo antigo tratamento oferecido aos pacientes com distúrbios mentais. Seu filho
Rafael Felipe, na época com 17 anos, foi submetido aos tratamentos convencionais
para transtorno bipolar. “A falta de informação sobre os problemas do meu filho
e também o despreparo dos profissionais da época, contribuíram para piorar o
estado de saúde dele”, informou. Ela só foi conhecer novos meios de tratar a
doença através de pesquisas feitas pela internet. “Não conhecia a doença, e
também os profissionais que trabalhavam no hospital não tinham qualquer
informação”.
Durante essa fase, seu filho passou por situações
constrangedoras. “Às vezes eu sentia vontade de ir embora e carregava todas as
suas coisas para a rua. Algumas pessoas mal intencionadas se aproveitavam do
problema dele para roubá-lo”.
Como Rafael era evangélico, houve momentos
em que ele e pessoas ligadas à igreja procuravam tratá-lo somente com
orações. “Diziam que ele estava possuído por um demônio. Como ele era
evangélico, acabava acreditando nessas histórias. Para amenizar a situação,
Geraldina destacou a importância da família no tratamento. “Nós passamos
segurança para ele”. Hoje Rafael está se formando em turismo e trabalhando na
Promotur (Fundação de Promoção de Planejamento Turístico de Joinville). “Por
causa da doença, ele perdeu dois anos de faculdade, mas agora ele é um
vencedor”.
Sandra Vitorino espera que esse novo hospital psiquiátrico de
Joinville não saia do papel e que o poder público invista em outros tipos de
terapias. “Temos que ter centros culturais dentro dos CAPs (Centro de Apoio
Psicossocial) e residências terapêuticas. Não se pode é trancafiar essas pessoas
em hospitais. Essa proposta da câmara tem a intenção de esconder os pacientes e
não tratá-los. Queremos uma sociedade livre de manicômios”.