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Nesse caso em que as transmissões são em outro idioma, como você lida com a linguagem?
A narração é inglês ou japonês, conforme o lugar da competição. Eu interpreto a luta. O que eu vejo, traduzo na minha linguagem. Faço a interpretação da luta, como se fosse um comentarista. Assim que acaba a luta, caço os vídeos no Youtube e no Rutube. Horas depois, já estou com o vídeo da luta e com a matéria que fiz durante o momento em que assisti o evento. Já entrei no site da Tatame e nos tops desse meio e vi que a minha matéria foi postada primeiro. Isso aconteceu poucas vezes. Muitas coisas sobre luta não aparecem na mídia porque esse é um meio que não recebe muita atenção, porque quem não conhece associa o esporte à violência. No vale-tudo, é uma troca de socos e chutes, mas tem muito pai sustentando família por meio do esporte. Há regras. Há contratos. É algo organizado.
O seu blog mistura dois aprendizados, o do jornal e o da luta. Como você mescla e equilibra esses conhecimentos? Em que aspectos ser um especialista no tema dificulta ou facilita a cobertura?
Procuro aplicar, em textos curtos, a objetividade e a clareza. Querendo ou não, o conteúdo é direcionado para o pessoal da luta. Tanto que eu criei uma frase e a usei em vídeos: “Blog MMA Sul, aproximando você do mundo da luta”.
O MMA Sul faz a cobertura especializada do mundo das artes marciais, coisa que nenhuma outra mídia na região se atreveu ainda a fazer. Que dilemas você enfrentou durante o desbravamento desse caminho?
Na realidade, quando eu criei o blog a principal idéia era MMA Sul. MMA, por significar vale-tudo e Sul, para remeter ao sul do país. Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Paraná são carentes pra caramba em mídia. É difícil ver o Rio Grande do Sul e Santa Catarina aparecerem no canal Premiere Combate — o principal canal de lutas do Brasil. Mas temos grandes campeões, como Charles Cahoeira, de Tubarão, Miranda, de Joinville, entre outros, no Rio Grande temos também outros manos. Comecei a entrevistar e dar voz aos lutadores do sul que não aparecem na mídia. Depois de 15 dias com o blog, quando percebi que era só digitar, no Orkut, o nome de lutadores famosos de várias modalidades, não só de vale-tudo, para conseguir um contato, tornei definitiva a característica do nome. A sigla MMA representaria as artes marciais em geral e a palavra Sul corresponderia também ao hemisfério sul. Acabei de entrevistar, há poucos dias, o lutador Thales Leites. Para conseguir o contato o primeiro passo consiste em adicionar no orkut. No segundo, mando um depoimento, mostrando quem sou eu e o qual é o meu trabalho — divulgar o trabalho dos lutadores. Tem um lutador de Florianópolis que tem o nome feito, internacionalmente, no vale-tudo, Tiago Tavares. Ele é um cara humilde 100%. Adocei e alisei ele até conseguir o e-mail do maior lutador de vale-tudo do Brasil, o Minotauro. Procuro ser oportunista, por exemplo: consegui o contato do Minotauro, mas estou vendo que os portais não confirmaram nenhuma luta dele ainda. Eu espero a confirmação para ir atrás do lutador. “Pego o bonde andando” e já faço uma matéria. Além de entrevistar ele sobre a carreira, já pego o bonde do próximo evento que ele vai lutar. Corro atrás daqueles que estão no topo. Mas se eu não consigo o contato da fonte, busco pelo amigo, pelo aluno, pela academia que participa.
Você já ficou sem conseguir falar com alguma fonte?
Aconteceu de eu conseguir falar com Ricardo Arona, do Rio de Janeiro, por meio do orkut. Mas ele me respondeu, dizendo que eu não deveria ter procurado ele, antes de falar com a academia, a Brazilian Top Team. O treinador dele é o Murilo Bustamante, que não retornou o e-mail que enviei. Então, acredito que há lutadores de equipes que estão no alto, que só dão atenção à grande mídia. São raríssimas exceções. A maioria dos lutadores pode estar em carreira internacional, como o Thales Leites, que está com uma bolsa, provavelmente maior que cem mil dólares [bolsa é um valor que os profissionais da luta ganham, que aumenta conforme o prestígio], mas recebe a todos cordialmente.
Como você aplica no blog o que aprende na faculdade?
A cada matéria que eu faço fico feliz em estar numa faculdade. Quem sabe se não estivesse eu poderia, simplesmente, copiar e colar informações alheias no meu blog. O principal ensinamento que eu levo é a ética que eu procuro ter, mesmo fazendo um trabalho amador — por enquanto, pois o objetivo é lançar o site — ser o mais profissional possível, fazendo as minhas próprias matérias. Eu cansei de visitar a página da Tatame e ver que eles publicaram, antes de eu postar, matérias sobre o mesmo assunto que estou escrevendo. Quando eu redijo o texto (as pessoas podem nem acreditar nisso), não leio as produções da concorrência que falam sobre o mesmo assunto que estou prestes a publicar. Só olho depois de fazer a postagem, para eu me sentir trabalhando, criando, redigindo. Porque eu não estou pegando informações de um trabalho pronto de outro jornalista e trocando palavras. Não vou dizer que muitos fazem isso, pois não sei. Faço minha parte: crio. Eu melhoro alguns textos depois de publicados. A princípio procuro ser ético e fazer a minha criação. Ao escrever cada palavra no blog, eu penso nas várias interpretações que elas formam juntas. Procuro pensar o texto para o leitor antes de postá-lo. Isso tudo para saber se está agradável. Creio que, independentemente de ser uma notícia sobre luta, ou moda, ou cinema, o leitor tem que se sentir bem. Leio o texto e preciso sentir que ele me agradou. Saio da posição de redator e viro leitor. Reformulo minhas colocações, quando necessário. É óbvio que alguém pode discordar das idéias que transmiti e interpretar de maneira diferente das minhas intenções. Mas eu sempre busco o melhor: informar.
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