Não é preciso fazer das homepages sua segunda casa para saber que, muitas vezes, a busca de informações na Web pode provocar exaustão ou, até mesmo, desistência. Esta problemática foi abordada ao longo de onze páginas na Revista Rastros, no formato do artigo “Tempo e estratégia de busca na Web”. Escrito a seis mãos pelos doutores Elias Estevão Goulart, Regina Rossetti e Annibal Hetem Junior, a análise compara a pesquisa exploratória realizada no Brasil com os resultados do estudo similar feito na Universidade de Telaviv, em Israel.
Quando se fala em estratégias de busca, já se subentende que a prioridade é aperfeiçoar ferramentas para economizar tempo. Afinal, por maior e mais completo que seja o conjunto de informações disponível na Web, este ficará inútil se não for possível encontrar nele o que se deseja. De acordo com estudos nos quais o artigo foi embasado (no caso, de Rafi Nachmias), cerca de 70% do tempo que internautas gastam na internet são destinados a buscas. Para garantir mais especificidade, também é citado Simon Dennis, que afirma que apenas 21% dos usuários encontram o que precisam, contra 60% que acham “na maioria das vezes” e 2,6% que sequer encontram alguma coisa.
De acordo com a ótica dos autores do artigo, entender os processos de busca e o comportamento do usuário é essencial para a efetividade das pesquisas. Nessa perspectiva introdutória, os quatro subtítulos seguintes são destinados a debater e explicar ao leitor o conceito de tempo cronológico e tempo vivido. Por excelência, o símbolo adotado para melhor definir o primeiro termo é o relógio. Provido de bom embasamento, os autores classificam o tempo cronológico como pertencente ao senso comum, já que dita as estações do ano e o andamento da vida. A comprovação do conceito se dá quando há a interferência do pensamento de Aristóteles, o qual diz que o tempo é percebido juntamente com o movimento, em partes que podem ser justapostas. As colocações do filósofo, além de enriquecerem a abordagem, clareiam a mente do leitor confuso.
Na análise da temporalidade vivida, Santo Agostinho, mais um formulador da filosofia, tem sua fatia de participação. Para ele, este é o tempo existente na alma. Se o primeiro pode ser percebido pelo movimento externo, o segundo é sentido com o passar de pensamentos, mudanças e estados internos.
Após prover o leitor de conhecimento das duas variações — que serão mencionadas novamente apenas na conclusão da pesquisa —, é retomado o assunto principal do artigo: a experiência. Primeiramente, fica-se conhecendo nove estratégias de busca: por palavra-chave (digitação direta do assunto da pesquisa); por definições amplas (uso de termos mais genéricos); complexa (cruzamento de palavras); conhecimento geral (utilização de informações associadas ao assunto de interesse); convenção de computador (uso do vocabulário computacional na busca por arquivos); booleana (inclusão, por exemplo, dos conectores “e” e “ou” para formar termos de busca); diretório (busca em catálogos de tópicos); portal específico (sites previamente conhecidos) e digitação direta (uso do link que contém a expressão procurada).
O experimento consistiu em observar de que modo — e dentro de quanto tempo — 49 estudantes de graduação em computação realizariam tarefas no âmbito da Web. Os acadêmicos do Centro Universitário Fundação Santo André foram incumbidos de descobrir três páginas em 45 minutos. A experiência foi realizada nos laboratórios de informática da instituição no segundo semestre de 2005.
Após introduzir ao leitor o perfil dos avaliados, são apresentados gráficos e tabelas contendo os resultados do estudo. A média de tempo para conclusão da atividade foi de 16,6 minutos para pesquisar cerca de 39 páginas, sendo gastos 2,4 minutos em cada uma. Analisando os registros do SurfSpy (software utilizado no experimento), os autores concluíram que a busca complexa foi a responsável pelo sucesso de 66,7% pesquisas completas, deixando em segundo lugar a busca por palavra-chave (17,5%).
Na conclusão do artigo, constata-se que a melhor avaliação do comportamento e das habilidades dos usuários deve ser levada em consideração para se construir mecanismos de busca mais eficientes, além de apontar o mapeamento dos conhecimentos disponíveis na Web como solução para maior sucesso nas buscas. Finalmente, as reflexões a respeito do tempo mereceram um cantinho nas últimas considerações. Afinal, se a duração do tempo cronológico não fosse a mesma em São Paulo e Israel, como as comparações teriam dado certo?