Em Joinville, existem programas que possibilitam aos analfabetos aprenderem a ler e resgatar a auto-estima. Um deles é o EJA. Financiado pela prefeitura e dispondo de duas salas de alfabetização, tem como público-alvo homens e mulheres com mais de 14 anos que não concluíram o ensino fundamental. Em Joinville, as aulas acontecem na Escola de Educação Básica Gustavo Gonzaga, no Bairro Saguaçu, e em São Francisco do Sul, na Escola de Educação Básica Victor Konder.
Além das salas de alfabetização, e com o mesmo objetivo, o EJA oferece os programas: Mutirão da Alfabetização, o BBEducar Fases (1ª a 4ª), ensino modularizado (5ª a 8ª série, individual e oficinas com pequenas turmas), telessala (5ª a 8ª série), pedagogia da alternância (casas rurais), ensino presencial (5ª a 8ª série) e a sala de aceleração para alunos com dificuldade de aprendizado. Atualmente 11 mil alunos estão matriculados nas diversas modalidades.
O Mutirão da Alfabetização é coordenado pela Secretaria de Educação e Cultura. É viabilizado pelas parcerias com a empresa Tupy Fundições, que financia o programa doando material didático para os alunos e professores voluntários, e com a ONG Alfalit Brasil, fornecedora do método de ensino criado por Frank Charles Laubach.
O Mutirão parte do princípio de que todos são capazes de aprender, basta-lhes oportunidade, motivação e incentivo. Segundo a coordenadora do programa, Elizabeth Cidral, o objetivo é alfabetizar jovens, adultos e idosos joinvilenses que não tiveram oportunidade de estudar proporcionando-lhes melhoria na qualidade de vida.
A metodologia de Frank Charles Laubach propõe atendimento ao aluno três vezes por semana em dias alternados com uma hora de duração. O curso de alfabetização tem em média duração de três meses. As aulas e o material didático são gratuitos.
Qualquer interessado pode engajar-se no programa, que sobrevive do voluntariado de professores e alfabetizadores. Entre outras coisas, basta querer realizar um trabalho não remunerado e ter no mínimo o ensino fundamental. Para se tornar alfabetizador é preciso que o interessado crie um grupo de 10 alunos para serem alfabetizados, pois, de acordo com Elizabeth, “há gente (professores) que se inscreve só para ganhar o material e não para dar aulas”.
Os candidatos são submetidos a treinamento no final do mês para posterior capacitação. As inscrições devem ser feitas na Secretaria de Educação e Cultura, que fica na Rua Itajaí, 390, Centro, de segunda a sexta-feira, das 8h às 11h30min ou pelo telefone 431-3050 com Elizabeth Cidral ou Adriana Tassinari.
De 1998, quando foi criado, até setembro de 2003, o programa teve 2.743 alunos inscritos. Até 30 de setembro deste ano, somava 293 estudantes (acima de 14 anos) matriculados, 81 voluntários atuantes em 91 unidades distribuídas em escolas municipais, associações de moradores e dependências de igrejas.
O método Laubach, utilizado pelo Mutirão da Alfabetização
“O analfabeto não deixa de ser uma pessoa instruída pelo fato de não saber ler e escrever. Ele é uma pessoa isolada do conhecimento formal. Promover a alfabetização é mudar a consciência desta pessoa, reintegrando-a ao meio em que vive e colocando-a no mesmo plano de conhecimento de direitos humanos fundamentais”.
Esse é o pensamento de Frank Laubach, psicólogo e sociólogo nascido em 1884, na cidade de Benton, Pensilvânia, Estados Unidos. Começou a elaborar sua proposta em 1915 nas Filipinas para atender a uma comunidade que não possuía ao menos um alfabeto escrito para seu dialeto. Na comunidade, havia mais de 15 mil habitantes, mas apenas os sacerdotes sabiam ler, porém em árabe.
Laubach criou um alfabeto, um método associando palavras conhecidas à sua forma escrita e, durante 15 anos, aplicou e aperfeiçoou sua metodologia, desenvolvendo alfabetos para os 17 dialetos filipinos e alfabetizando mais de 60% da população. O fato tornou-o mundialmente conhecido.
A metodologia de Frank Charles Laubach apresenta os seguintes princípios:
1. Todos são capazes de aprender, basta-lhes oportunidade e incentivo;
2. a educação de jovens e adultos é construída a partir de conhecimentos já existentes e cabe ao alfabetizador ajudá-los a construir novos conhecimentos a partir destes;
3. o aluno se interessa por assuntos que façam parte de seu cotidiano, assim ele poderá estabelecer pontos entre o conhecido e o novo;
4. o aluno deve ser motivado sempre, mesmo que erre, e as correções devem ser feitas de forma a motivá-lo a novas tentativas;
5. elogios, palavras de ânimo e conscientização são pontos relevantes de sua proposta;
6. alfabetizador e aluno mantêm, antes de tudo, uma relação de amizade, na qual a confiança e o preparo fazem a grande diferença;
7. propor um caminho para a escrita e leitura sem grandes dificuldades e abstrações, fazendo com que o aluno sinta-se capaz, já que conseguirá ler palavras e até um pequeno texto na primeira aula;
8. materiais de apoio devem ser feitos. Porém cabe a cada alfabetizador adaptá-los quando necessário;
9. processo de construção e compreensão referente à linguagem escrita veiculando significado e representação do objeto, acompanhado pelo domínio dos mecanismos do ler e escrever, isto é, primeiramente o significado para depois mecanizá-los;
10. condições de reconhecer o caminho mais lógico da leitura, para, a partir deste estágio, elaborar outros caminhos. Partindo do conhecido para o desconhecido, do geral para o particular;
11. cada aluno tem direito a ter seu próprio ritmo de aprendizagem; ter alunos em diferentes estágios é um ganho e não um problema;
12. cada alfabetizador deve se esforçar para oferecer o melhor, porém, não havendo instalações disponíveis, pode-se alfabetizar em qualquer lugar ou circunstância;
13. não importa a idade, todos podem aprender.