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Matéria 8583, publicada em 19/06/2009.


:Marcus Vinícius Carvalheiro

La Trama Cia. Teatral encena a peça A Lição

O teatro do absurdo em cena na Ajote

Bruno Isidoro



Quarta-feira (17 de junho), às 19 horas, enquanto o público se acomodava nas cadeiras do Galpão de Teatro da Ajote, na Cidadela Cultural Antarctica, um barulho, aparentemente de martelada, ecoava no local. A escuridão ainda fazia parte do ambiente. Ali, a joinvilense La Trama Companhia Teatral apresentaria a peça A Lição como parte da programação da mostra Cena 6.

Um som diferente surge: é da campainha. O outro barulho acaba. A luz acende sobre dois personagens. Uma senhora vestindo roupas de empregada atende uma moça. Blusa, colete de lã, saia, meias até próximo aos joelhos, sapatinho e dois tic-tacs no cabelo: assim se apresentava a garota que acabara de chegar. Um senhor com aparência querida e dócil, com costeletas, de óculos e roupa social se apresenta como professor. Começaria ali uma aula.

A nova aluna, como bacharel em ciências e letras, pretende fazer o “doutorado total”. Impressionado com o ânimo da garota, o professor inicia a aula com questões de Aritmética. A empregada notifica-o: “Não comece por Aritmética. Você sabe onde isso vai dar”. A facilidade em somar da moça alegra o senhor. Um mais um, dois; mais um, três; mais um... e assim por diante, respondendo as adições sem nenhum erro. Porém, a paciência do professor termina quando a estudante não consegue calcular equações de subtração. Fica ainda maior a raiva, quando uma multiplicação quase impossível é feita de cabeça, porém ela não pensou a conta, mas disse ter decorado todas as multiplicações possíveis, já que não conseguia deduzir sozinha.

Desistindo dos números, o professor começa o estudo das línguas. A empregada volta e alerta novamente o senhor sobre o perigo de continuar a aula. Mesmo com as reclamações da aluna que sente de dores de dente, o professor continua os ensinamentos, cada vez mais impaciente. Sua raiva aumenta quando ele lembra de um amigo de infância que falava “filha” ao invés de “filha”, “fronte” ao invés de “fronte”. Uma diferença sonora quase imperceptível, diz o mestre, que somente quem prestasse atenção notaria. O absurdo da explicação fica maior quando o professor pede a tradução para o português de “as rosas de minha avó são tão amarelas quanto meu avô que era asiático” e questiona quando a moça fala “rosas” ao invés de “rosas”. Um erro que somente ele conseguia perceber.

Ao pedir a tradução da palavra “faca” em todos os idiomas, solicita à empregada que busque o objeto. Querendo evitar um desastre, ela se nega. O professor encontra uma faca – em apenas um idioma – embaixo dos livros. Como a garota não conseguia entender seus ensinamentos, o senhor enfia o objeto na barriga da estudante, que cai morta. “É a 40ª do dia”, diz a empregada, que acaba ajudando o professor a carregar o corpo para os fundos da casa, onde será enterrada.

O som de martelada reaparece, explicando os motivos de sua presença no início da peça. A campainha toca novamente. A empregada atende. A luz ilumina uma garota na plateia e a atriz inicia um diálogo como se ela fosse uma nova aluna. Assim acaba o espetáculo.

A Lição é obra do dramaturgo Eugène Ionesco, considerado um dos grandes exponentes do teatro do absurdo, também autor das peças A cantora careca, As cadeiras e O rinoceronte. Seus espetáculos se baseiam na fútil existência humana em uma sociedade imprevisível, onde as pessoas são incapazes de se comunicar. Ambientes sufocantes, diálogos sem sentido e situações pouco lógicas que enfatizam o desespero e as dificuldades de relacionamento entre as pessoas são características desse tipo de teatro.

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