Faltou lugar — e quase faltou tempo — para o evento que marcou o aniversário
do Clube de Cinema na noite de segunda-feira (22 de setembro). Primeiro porque a
exibição do filme “Memórias Póstumas” acabou atraindo a atenção de turmas
noturnas do ensino médio, que, somadas às do ensino superior, povoaram o
anfiteatro para além das 200 cadeiras azuis. Segundo porque o debate que se
seguiu ao filme segurou boa parte da platéia até perto das 22h30, quando dobram
os sinos da Igreja da Paz e o turno escolar chega oficialmente ao fim.
A
professora Deise Freitas, especialista em Machado de Assis e gerente do projeto
que digitalizou a obra completa do escritor, não entrou no mérito da adaptação
cinematográfica dirigida por André Klotzel. “Não é a minha área”, disse a
doutora em teoria literária, afirmando apenas que o filme foi fiel à estrutura
geral do livro. Deise fez um breve apanhado biográfico de Machado, destacando
sua condição social (preto e pobre), psicológica (gago e epiléptico) e
intelectual (aos 19 anos já tinha definido as linhas gerais do seu projeto
literário). Em seguida, falou sobre a obra. Então a noite ficou pequena: depois
de 15 anos “ininterruptos” estudando “o bruxo do Cosme Velho” e de ter
catalogado mais de 200 obras machadianas no Nupill (UFSC), Deise teria muito a
dizer. Tanto que nem notou o bilhete escrito pelo professor Silnei Soares e
entregue pelo estudante Jean Ricardo de Almeida (seus parceiros de mesa e
integrantes do Clube de Cinema), no qual se lia: “[Faltam] 5 minutos”.
A
vastidão da obra, a complexidade do autor, sua fortuna crítica, tudo isso passou
na panorâmica de Deise ou foi explorado nas perguntas do público. Machado
contista, cronista, poeta, romancista, jornalista, crítico — das artes e dos
costumes — merece um curso. E o primeiro passo para isso, coincidentemente, pode
ser dado a partir de hoje, de graça, por qualquer pessoa alfabetizada: ler
Machado, agora sem obrigação, ler por prazer, ler “até arderem os olhos”, como
disse Fernando Pessoa. O trabalho de Deise e seus dez bolsistas do curso de
Letras da UFSC está disponível no sítio Domínio
Público. Sirvam-se.
Antes, porém, sugerimos uma sobremesa.
Trata-se da crônica de tempero lusitano escrita pelo bolsista Sidney Azevedo a
respeito de sua descoberta de Machado (clique no primeiro título da lista
abaixo).