Tiago André dos Santos, bolsista do Necom, roubou a cena na abertura da Semana Acadêmica de Comunicação Social, na noite de 22 de outubro. No evento, para o qual estavam programados uma apresentação do Coral do Bom Jesus, lançamento oficial do Clube de Cinema e da revista Rastros e palestra sobre autonomia com a professora do curso de pedagogia da UFSC Lúcia Schneider Hardt, Tiago participou de todas as atividades, além de falar sobre a Mostra de Arte Independente e da venda de camisetas, promovidas pelo Diretório Acadêmico.
A palestrante Lúcia Hardt não deixou barato e inquietou os ouvintes quando pegou o microfone. Convidada a falar sobre autonomia – tema da Semana Acadêmica –, Lúcia apontou falhas no sistema pedagógico. Baseada em autores como Nietzsche, Kierkegaard e Larrosa, discutiu o fato de que não se busca “explodir inteligências”. Ou seja, nada é feito para provocar o acadêmico de forma diferente para que ele seja autônomo no pensar.
Ironicamente, assim que se abriu espaço a perguntas, mais professores do que estudantes estavam ávidos por respostas. Uma pergunta sugeria que os próprios alunos não estavam em busca de explodir a inteligência. Outra evidência notada pelos docentes foi o uso de autores que desconstroem utopias como base teórica para acreditar nas utopias que dão crédito ao sujeito humano. Entrementes, Tiago observava a discussão de local privilegiado: fora convidado à mesa da palestrante pelo coordenador do curso de jornalismo, Samuel Pantoja Lima, que também compunha a bancada ao lado de Silnei Soares, responsável pelo Necom.
Encerrada a palestra, com direito a presente e flores para Lúcia Hardt, professores compraram o livro que teve como objeto de análise o sistema de ensino superior do Bom Jesus/ Ielusc – do qual a palestrante foi coordenadora pedagógica por 12 anos. Após autografar as obras, Lúcia contou o que mudou na sua pesquisa desde a publicação de um artigo para a segunda edição da Rastros em 2000, que versava sobre o mesmo assunto: “De lá para cá, eu saí de um ambiente macro (a coordenação pedagógica) e passei a viver o microespaço: a sala de aula. Foi onde eu vi que as propostas são possíveis de serem concretizadas. Não todas, logicamente, mas a possibilidade de trabalhar diferentes métodos, novas leituras, existe e é praticável”.
Ao falar sobre o dilema das notas no processo de avaliação, Lúcia pensa que abolir esse sistema não contribuiria em nada. “Quando um aluno não alcança a nota necessária, é preciso saber a razão pela qual ele não consegue atingir os objetivos. Quando conversamos, quase sempre o professor consegue mostrar a ele que faltou leitura, faltou pensar sob certos pontos”.
Mas isso não faz o aluno pensar da maneira como o professor deseja, já que o professor é quem diz o que faltou e o que sobrou no raciocínio do aluno? Não vai contra o princípio de o aluno pensar por si só? “Sim”, responde a professora, “mas cabe ao aluno, se ele realmente tem um pensamento, uma pesquisa própria, mostrar ao professor os caminhos que ele escolheu”.
Uma coisa é certa: desconsiderando as 38 pessoas que saíram do anfiteatro até as 20 horas, Lúcia Hardt provocou os jovens a pensar sobre postura em sala de aula. Ana Laís Schauffert, 19 anos, estudante do quarto período de jornalismo, diz que “é difícil conseguir fazer alguma coisa diferente na prática, mas é preciso tentar”. Já Tiago dos Santos, que na noite do dia 22 foi tenor, porta-voz dos colegas do Clube de Cinema e do Diretório acadêmico e autor de resenha na Rastros, não se considera autônomo, “mas alguém que participa das atividades que lhe são propostas”.