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Matéria 0371, publicada em 01/10/2003.


Hora de reclamar menos

Por Borges de Garuva

Quero contestar-te não em nome do Instituto mas como alguém que trabalhou no projeto original dos nossos cursos superiores e que, embora hoje menos vinculado administrativamente aos seus destinos, torce para que consolidem sua respeitabilidade. Talvez não seja eu a pessoa adequada a contestar o teu artigo de 26/09/2003 na Revi, porque admiro a coragem de quem se dói pelo coletivo, levanta a voz, dá a cara pra bater. Mas, precisamos ser conseqüentes: dar tiros no casco do próprio barco atrapalha a navegação.

Confesso: alguns dos nossos planos tiveram de ser protelados em função dos percalços da política educacional brasileira e da economia. Todavia, o cerne do projeto continua vivo e nossa determinação é preservá-lo até que dias melhores nos alcancem. Então, resgataremos a integridade do nosso sonho original no sentido de montar uma estrutura acadêmica eficaz para cumprir o que continua sendo nosso ideal maior: a formação de profissionais éticos, criadores, participativos, competentes.

Até lá, precisamos dar conta do mínimo indispensável para não comprometer a qualidade acadêmica e manter a distinção dos nossos cursos. E isto o MEC, os alunos egressos e a sociedade têm confirmado que estamos fazendo: nossos cursos são autorizados e reconhecidos com bons conceitos e nossos acadêmicos vinculam-se à vida da comunidade, ganham prêmios e são recebidos com entusiasmo como estagiários e profissionais nas empresas e nas instituições da cidade e do País.

Certo: estamos com o cinto apertadíssimo. Além das dificuldades próprias do contexto econômico, que, por um lado, dilapidam diretamente os nossos recursos e, por outro, atingem as finanças da nossa clientela, gerando uma inadimplência jamais vista, também foi preciso investir na sede para a educação infantil e o ensino fundamental, não para deixar a faculdade deserta, como você diz de modo tão singelamente irônico, mas para disponibilizar a tempo o espaço adequado à expansão crescente das atividades acadêmicas. “Instituto Fantasma”? Parece que vens pouco por aqui. Capim rolando “ao assovio do vento”? É primavera, moço; enfim, a chuva sonhada chegou e despertou as sementes, pintando de um verde tenro os interstícios das lajotas — só um vento por si mesmo sibilitante poderia silvar nesses rebentos de relva; os canteiros estão bonitos, a magnólia e as cerejeiras dormem, preparando-se para florir; o pau-brasil e as castanheiras iluminam-se de brotos novos. Daqui a pouco serão as sibipirunas e as bauínias. E há muito mais para se ver nos jardins.

Quando tratas de bolsas e de abonos, vê-se que não sabes dos contextos e não buscas informações sobre os temas.

A Instituição não tem obrigação de conceder bolsas, mas se propõe, dentro dos limites orçamentários, a auxiliar estudantes necessitados, que possam comprovar carência. Os interessados preenchem formulários adequados e apresentam a documentação requerida. Um dos critérios para a concessão de auxílio é, evidentemente, a qualidade da vida acadêmica do interessado. Mais: existem os recursos do FIES, a que qualquer estudante pode candidatar-se, e os recursos assegurados pelo artigo 170 da Constituição do Estado, que concede auxílio a estudantes das instituições fundacionais. Existe hoje todo um esforço no sentido de alterar esse dispositivo para que ele abranja também acadêmicos de outras IES. Talvez com esta luta possas contribuir: o projeto de alteração já se encontra na Assembléia; pede aos deputados que o aprovem.

Quanto ao “abono” dos atrasos no pagamento das mensalidades, foi recurso esporadicamente usado para ajudar acadêmicos em dificuldades financeiras. Não se trata de dispositivo consolidado. A escola não pode ser administrada a esmo: os seus compromissos têm datas precisas. Que instituição, afinal, abona atrasos nos pagamentos?

Tu zombas do Instituto: “estado de penúria”? Não: de contenção. De ponderada contenção. De racionalização de custos. De sensatez na aplicação dos recursos. Os sete alunos em sala, que consideras um grande absurdo, resultam da coragem que a Instituição teve ao adotar o regime semestral, correndo o risco de ter de pagar professores para poucos alunos, pois, enquanto avançam os semestres, é normal em todo lugar a evasão. A escola não pode controlar os planos dos estudantes. Todos são livres para inscrever-se nas disciplinas que quiserem, no semestre que quiserem, respeitados o mínimo e o máximo de créditos e os poucos pré-requisitos. Além disso, os acadêmicos em final de curso precisam de atenção especial — ou queres propor que comecemos com turmas de 70 ou 100 alunos para termos 30 nas disciplinas de produção dos últimos semestres? Tu gostarias de ser orientado em tua monografia por um professor que tivesse sob sua responsabilidade uma multidão de formandos?

Quanto à reprografia, Robson, é responsabilidade da Selbetti: trata-se de um serviço terceirizado. Tínhamos aqui a Xerox; as reclamações eram muitas; providenciamos a mudança. As reclamações continuam. Aponta uma saída. Mas, considera: nenhuma instituição é capaz de reunir o aporte tecnológico para dar conta de uma demanda tão vasta, contínua e variada como a de uma escola superior. O sistema tem de ser terceirizado. Apresenta sugestões à própria à Selbetti.Também fazemos as nossas cobranças; também desejamos qualidade no serviço.

Enfim, gostaria de encerrar sugerindo que faças um esforço para superar a condição pessimista de quem só vê possibilidade de as coisas piorarem. “Pior do que já está não pode ficar” é um ditado popular otimista: convida-nos à ação, a não desanimar, a metermos mãos à obra — ou a resignar-nos. A tua corruptela, porém, ficou quase hipocondríaca — e masoquista: como será possível superar qualquer situação se de antemão sabemos que ela só vai piorar? Se nada se pode fazer, por que então ficar dando estabanadas e porradas pra todo lado, sem saber precisamente quem ou o quê atingir? Para quê?!

Também tenho ressalvas quanto a certas decisões tomadas pela Instituição. Mas, a responsabilidade delas teve de ser encarada por um grupo de pessoas que ponderaram numerosas variáveis. Posso questioná-las, achar que poderiam ser outras, dizê-lo publicamente e apresentar alternativas. Mas, não posso ter certeza de estar vendo todo o contexto, porque não tenho na mesa todas as variáveis que precisaram ser condideradas. De uma coisa tenho certeza: na diretoria e nos conselhos não existe ninguém com intenções subreptícias em relação à escola e aos alunos: somos educadores; vivemos de salários e não dos “lucros” da escola.

Vamos, moço! Conclui teu curso com entusiasmo; exerce tua liderança com a generosidade política de quem quer efetivamente contribuir com o coletivo; conquista teu espaço na comunidade por meio da tua atuação como graduando. E pára de denegrir com tão eufórica e despropositada ira o próprio curso cujo timbre carregarás para sempre no teu diploma. E do qual virás um dia a ter orgulho. Com certeza.

800x600. ©2005 Agência Experimental de Jornalismo/Revi & Secord/Rede Bonja.