Revi Bom Jesus/Ielusc

>>  Joinville - Quinta-feira, 21 de novembro de 2024 - 22h11min   <<


chamadas

Matéria 0370, publicada em 01/10/2003.


Um outro diálogo é possível

Por Samuel Lima Jornalista, professor universitário e Coordenador do Curso de Jornalismo do Ielusc.

“Eu não espero pelo dia em que todos os homens concordem. Apenas sei de diversas harmonias bonitas possíveis sem juízo final”

O mote é de uma conhecida canção de Caetano Veloso, e traduz a negação da propalada nova ordem mundial proposta por Bush “Pai”. Digo isso, peito aberto aos ventos da primavera, apostando no livre debate de idéias com a comunidade acadêmica do Bom Jesus/Ielusc. Parto, por isso mesmo, do espanto ao ler o artigo “Nada é tão ruim que não possa piorar”, assinado pelo aluno Robson da Silva (sítio da REVI – www.ielusc.br/revi).

No texto, o autor tece um cenário retórico muito próximo do “fim das eras”, em se tratando do momento vivido pela Instituição e por quem a compõe: alunos/as, professores/as e técnico-administrativos. Um amontoado de queixas e lamúrias sobre a falta de mobilização dos estudantes, as quais podem ser transformadas em demandas para uma entidade como o Diretório Acadêmico Cruz e Sousa (DACS). Aliás, para debater e resolver esses problemas menores existimos: DACS, Coordenações e o suporte administrativo do Ielusc. Vamos discutir ponto a ponto as questões arroladas pelo articulista.

Desfiando meias verdades e falsos argumentos, Robson se refere a um tal “estado de penúria pela qual passa nossa estimada instituição” (grifo nosso). Na melhor das hipóteses, trata-se de um velho chavão. Para demonstrar sua tese, o aluno começa a se queixar dos serviços de reprografia. Ora, esse é o típico assunto que se resolve rápido através de uma prática altamente saudável: o diálogo. Foi assim na semana passada, quando recebi em minha sala alunos do 6º Jornalismo, e a Profa. Rosane Porto, solicitando que o horário de funcionamento fosse ampliado para as 22h30min. Encaminhei o pedido a quem de direito – e foi atendido, a partir de 1º de outubro. Vamos atrás de coisas mais relevantes no texto...

No parágrafo seguinte, o aluno argumenta contra o uso das Unidades do Saguaçu. Recorre a um falso argumento: “pelo menos uma vez por semana alguma turma da comunicação do Ielusc vai até o mundo encantado do Complexo Saguaçu para ter aula...”. Esclareço: somente três turmas têm aula lá: Redação III (JOR 04) – A e B; e Artes Gráficas (PP 02 – A). A razão é simples: a existência de apenas seis laboratórios no Bom Jesus/Ielusc para atender a uma demanda dobrada de dois currículos de PP e Jornal (o velho, em extinção, e o novo, com uma carga antecipada de disciplinas técnicas). Numa coisa ele tem razão: este é o último semestre com turmas de sete alunos, porquanto isso é financeiramente inviável, embora seja pedagogicamente um luxo ter aulas de redação com um computador para cada aluno/a e atendimento individual do/a professor/a. A queixa contra o “deslocamento até o Saguaçu” é pueril.

Ademais, o curso de comunicação tem articulado uma boa agenda, desde o final do semestre passado: palestra/debate com os jornalistas Caco Barcellos e José Marques de Melo (em parceria com a Midas) e atividades envolvendo o lançamento do “Primeira Pauta”, da Revista Rastros (NECOM), entre outros eventos. Não sei de que lugar Robson fala quando escreve: “Nossa faculdade está deserta. No Ielusc o capim rola ao assovio do vento...” Parece um caso de exercício gratuito de retórica, ao arrepio da verdade.

Sobre a data de pagamento de mensalidades ser no dia 10, reconhecendo sua importância, pergunto: quantos alunos e alunas do Ielusc enfrentam essa situação? Sugiro que o DCE faça um levantamento e proponha uma negociação geral para o caso. Sabe-se que a imensa maioria das pessoas recebe salário até o 5º dia útil do mês subseqüente: é lei trabalhista.

A partir disso quero propor um diálogo para muito além do “próprio umbigo”, ponto final da reflexão que o texto do Robson encerra. Há toda uma construção por ser realizada: o Colegiado dos Cursos de Comunicação (Jornalismo e PP), como espaço privilegiado de discutir as linhas estratégicas dos dois cursos e da Instituição; o Projeto Político Pedagógico da Comunicação, como instrumento fundamental para a construção de um curso qualificado, com formação técnica, humana e ética elevadas. Um espaço no qual a discussão sobre a política de bolsas vai rolar, com toda certeza. Lá ficarão claros os limites de uma instituição de pequeno porte, diante da falta, essa sim gravíssima, de uma política democrática dos governos estadual e federal para o apoio aos alunos de baixa renda.

Ao contrário do “estado de penúria”, a Instituição vive um momento de potencial crescimento e inquietação pedagógica, política e intelectual. Só para ficar em singelos exemplos da Comunicação: a) PP – a campanha para a Maternidade Darcy Vargas, feita pela Agência Experimental de Propaganda (AEP), e a recente conquista do prêmio nacional na categoria “jingle” na EXPOCOM/INTERCOM; b) Jornalismo – os dois debates públicos, puxados pela produção acadêmica (jornal Primeira Pauta – “O Mapa da Fome em Joinville” e o último número sobre “Patrimônio Histórico e Cultural”); o reconhecimento do mercado, premiando a monografia da jornalista Fabiana Vieira (ACAERT 2003), orientada pelo Prof. Jacques Mick; dois artigos apresentados em setembro no principal congresso de pesquisadores da comunicação no Brasil, a INTERCOM. Em breve, não teremos espaço na parede do estúdio de Rádio para pendurar os quadros com os prêmios que estamos recebendo – e isso é apenas a face emoldurável de um reconhecimento muito mais amplo, que se consolida no mercado e nas demais escolas de comunicação do Sul do país.

São frutos precoces: que cursos colheram tantos resultados em cinco, seis anos de existência? Já está na hora de abandonar os recalques e elevar a auto-estima: apostar na atitude dos alunos & alunas, na qualidade do corpo docente e discente da Instituição, na nossa capacidade coletiva de fazer as coisas, de perceber com grandeza de olhar as boas iniciativas que estão rolando nos cursos superiores do Bom Jesus/Ielusc. Não é a choradeira que leva às conquistas, mas a combinação de audácia, inteligência e trabalho – que não nos faltam.

O apontamento final de Robson é sensato: indica o caminho da organização e do diálogo, que se revelaram altamente produtivos no caso do estacionamento. Minha sugestão é não apequenar a pauta com queixas banais. Tampouco apostar na visão do caos para se fazer ouvir: no final isso se revela um engodo. A solução vai passar pela interação dos diferentes atores que compõem a comunidade acadêmica do Bom Jesus/Ielusc, cada um fazendo o seu papel com o maior empenho possível.

Posso assegurar que a postura dos Coordenadores e Diretores tem sido pautada pelo respeito às regras democráticas elementares. Por esse espaço de organização política e manifestação que os movimentos sociais têm hoje, muita gente boa apostou a própria vida, nos idos da ditadura militar, muito antes de Robson nascer. Convém valorizar isso.

800x600. ©2005 Agência Experimental de Jornalismo/Revi & Secord/Rede Bonja.