Londrina — A necessidade de um novo código de ética para regulamentar o exercício da profissão do jornalista foi o tema central do segundo dia do 1° Seminário Nacional Ética no Jornalismo. O encontro teve início às 9h15 desta sexta-feira, 31 de março, com os palestrantes discutindo o avanço tecnológico e o seu impacto na produção jornalística. Bernardo Kucinski, Carlos Alberto Di Franco e Juliano Maurício de Carvalho destacaram também o fortalecimento da internet como veículo de comunicação, a globalização da informação e a credibilidade do trabalho jornalístico.
“O nosso código de ética é irrelevante”, argumenta o professor titular na Escola de Comunicações e Artes da USP Bernardo Kucinski. Para ele, o documento torna-se precário por não existir uma negociação com os donos dos veículos de comunicação. Como acontece nos Estados Unidos, não existe uma separação do campo social jornalístico versus assessoria de imprensa e o desemprego estrutural da categoria fragiliza ainda mais o seu cumprimento.
Kucinski afirma ainda que o crescimento da rede mundial de computadores deixou marcas profundas na comunicação atual. “A internet não é apenas um novo meio, ela é um terremoto que está abalando todos os outros veículos”. O professor ressalta que a facilidade de publicação e troca de informações da web é tão grande que ela acaba quebrando radicalmente a verticalidade entre o emissor e o receptor. “Tudo é o tempo todo. Nós não temos mais a periodicidade, e quando se rompem as demarcações começa uma crise”.
“O avanço tecnológico tem trazido grandes benefícios para o jornalismo e para a sociedade. Porém isso também pode ser uma arma contra a cidadania”, analisa o diretor da Faculdade de Comunicação da Universidade de Navarra, na Espanha, Carlos Alberto Di Franco. Ele qualifica a internet como uma ferramenta de democratização do conhecimento e aproximação dos povos, mas também pode ser usada para calúnia, difamação, racismo, pornografia, entre outros. Di Franco defende que esses problemas sejam resolvidos na esfera jurídica. Sobre o jornalismo atual, ele é enfático: “É preciso recuperar a paixão pela busca da verdade. Está na hora de acabar com esse jornalismo espetáculo”.
Jornalismo X assessorias de imprensa
“A assessoria de imprensa, que é uma área legítima e digna, não tem nenhum comprometimento com o cidadão. O seu único objetivo é formar a boa imagem do patrão ou do seu cliente”, defende o presidente da Radiobrás, Eugênio Bucci, durante a apresentação do segundo painel do encontro de hoje (30 de março). Com o tema Ética Profissional: atuação do jornalismo na mídia, assessorias e serviço público, os outros dois palestrantes, Maurício Lara e Décio Trujilo, foram unânimes ao afirmar a necessidade de criar um código de ética distinto para cada atuação. “Adotar dois códigos para a mesma profissão não significa dividi-las”, ressalta Bucci.
O 1° Seminário Ética no Jornalismo continua na tarde de hoje. O professor da Universidade Federal de Santa Catarina Francisco Karam apresenta uma análise crítica da manipulação fotográfica digital e dos equipamentos de áudio escondidos.
Leia mais:
> Sociedade tem direito à informação séria e responsável
> Jornalistas criticam uso de câmera e gravador escondidos
Multimídia
> Seminário sobre Ética foi um marco para jornalistas, diz presidente do Sindicato de Londrina
> Bernardo Kucinski, professor da USP, fala sobre ética na internet
> Carlos Alberto Di Franco, em entrevista à Revi, discute ética e modernidade
> Francisco Karam, professor da UFSC, fala sobre métodos e técnicas da imprensa