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Matéria 9582, publicada em 29/04/2010.


:A Notícia

De Joinville, equipe Raposas do Sul disputa campeonatos nacionais

Paraesporte é instrumento de reintegração social

Emanoele Girardi e Francine T. Ribeiro*



Edemilson do Amaral é analista de suporte em uma empresa de tecnologia. Alexandro Velho trabalha como analista de manufatura em uma fábrica. Apesar das funções distintas, eles têm algo em comum: encontraram no esporte uma nova forma de viver. Edemilson nasceu com deficiência motora e Alexandro teve de se adaptar às suas novas limitações. Ambos praticaram natação, mas foi no time de basquete em cadeira de rodas que se conheceram. A equipe Raposas do Sul é composta por atletas que apresentam lesões medulares, paralisia infantil ou que tenham membros inferiores amputados. No caso de Velho, que teve a perna amputada, o esporte lhe proporcionou uma melhoria no dia-a-dia, no trabalho, e aumentou sua resistência. Com o início das atividades físicas, em 2006, emagreceu 22 quilos e ganhou agilidade em quadra. Além de um meio de superação, ele vê o esporte como válvula de escape para o estresse. Amaral, vítima de paralisia infantil, concorda e acrescenta que, em seu caso, houve uma melhora no condicionamento físico. Com reconhecimento nacional, o Raposas do Sul é vinculado ao Centro Esportivo para Pessoas Especiais (Cepe) e treina de segunda a sexta-feira, orientado pela treinadora Ana Maria Teixeira e pelo atleta e profissional de educação física Aldo Pavesi.

Aldo também tem uma história de superação através do esporte. O professor começou a praticar atividades físicas por influência de um amigo deficiente. A partir daí, quando descobriu uma maneira de desenvolver seu equilíbrio e sua independência, passou a gostar mais de si. Há 15 anos, está envolvido com o basquete em cadeira de rodas e trabalha para ajudar os novos atletas especiais. “Não somos só atletas dentro de quadra, temos que saber ser cidadãos”, afirma. Para ele, a troca de experiências e dicas colabora na evolução da equipe. Todos os integrantes do time são joinvilenses ou se criaram na cidade. “Quando entramos em quadra, o público se arrepia”, orgulha-se Aldo.

A trajetória do Cepe

O Cepe nasceu há oito anos com um grande desafio: não havia referências de paradesporto em Santa Catarina e o projeto teve como base pesquisas feitas fora do país. A ideia inicial foi das professoras Ana Maria Teixeira e Sônia Maria Ribeiro, profissionais de educação física especializadas em esporte adaptado para pessoas com deficiência. A partir de seus conhecimentos, colocaram em prática projetos que auxiliariam na qualidade de vida de pessoas com algum comprometimento motor. Essa iniciativa contribuiu para o surgimento de novos clubes no estado e para a criação dos Jogos Paradesportivos de Santa Catarina (Parajasc), em que a prática ganhou visibilidade.

A equipe do centro esportivo se orgulha dos cinco projetos que desenvolve: o atletismo paraolímpico, o basquete em cadeira de rodas, a bocha paraolímpica, a natação paraolímpica e o Cepinho – projeto de iniciação paradesportiva com crianças de nível escolar. Além disso, os profissionais realizam palestras para entidades públicas e privadas. A vontade de ajudar é grande, mas limita-se às colaborações recebidas pela instituição, que busca novas parcerias. O presidente Vanderlei Quintino afirma que o Cepe sempre foi visto com bons olhos pela população joinvilense, mas alcançou pleno reconhecimento em 2009, quando filiou-se à Fundação de Esportes, Eventos e Lazer de Joinville (Felej). “Agora, sim, a cidade reconhece o nobre trabalho que realizamos”, comenta.

As competições das quais o Cepe participa têm abrangência local, estadual e internacional e se dividem em categorias escolares ou universitárias, com crianças, jovens e adultos. Em seus oito anos de atuação, o Cepe acumula uma vasta lista de conquistas. Das quatro modalidades paraolímpicas em nível nacional que trabalha (basquete em cadeiras de rodas, natação, bocha e atletismo), levou atletas de todos os esportes e fases para a seleção brasileira. Além disso, treina a primeira e única atleta com deficiência motora de Santa Catarina a fazer parte das Paraolimpíadas: Sheila Finder (foto, abaixo), velocista que participou das provas de atletismo nos jogos de Pequim em 2008. Além disso, o Cepe é referência nacional em esporte paraolímpico e é o único clube catarinense que se envolve com todos os eventos paradesportivos do país.


Desafio de treinar

O treinamento é um desafio, tanto para os atletas quanto para os profissionais de educação física. Segundo Juliana de Carvalho, treinadora da natação, as dificuldades começam antes mesmo das aulas: além de conhecer o atleta como pessoa e profissional, os treinadores devem aprofundar os estudos para saber mais da deficiência de cada um. “Treinar um atleta especial requer muitas adaptações. É fundamental conhecê-lo inteiramente, ter criatividade e imaginação”, reforça. Formada pela Univille, Juliana descobriu o interesse no treinamento de paratletas quando trabalhou como estagiária pela faculdade no Projeto de Desenvolvimento do Esporte Adaptado (Proesa) e onde é colaboradora até hoje. Juliana revela que as histórias individuais de cada atleta despertam sua curiosidade de saber qual é a origem das deficiências. Essa busca faz com que seu trabalho de estimulação e treinamento seja desempenhado com mais eficiência. “É muito bom ver o progresso”, comemora. Ela afirma que, muitas vezes, esses resultados não são expressos em números, mas em uma evolução pessoal do atleta e na superação de seus limites.

Adequações

O desenvolvimento pessoal, a melhoria na qualidade de vida e a integração social são os principais objetivos buscados por deficientes físicos através da prática de esportes. Apesar de manterem a competitividade, as regras paraolímpicas recebem algumas adequações para viabilizar as disputas. No caso da natação, antes de competir o atleta passa por uma comissão que define sua classificação funcional de acordo com a deficiência. Para diferenciar a categoria, é utilizada a letra S e níveis que vão do 1 ao 13. Entre S1 e S10 estão as pessoas com deficiência física. Quanto maior o número, menor a limitação. “Não é regra, mas um paralisado cerebral geralmente se enquadra entre o S1 e o S5, os mais afetados”, explica Juliana. Nas classes mais altas estão os atletas amputados. S11, 12 e 13 são deficientes visuais. Alguns equipamentos podem ser utilizados para auxiliar no impulso inicial, mas o restante das regras seguem as determinações do Comitê Internacional Paraolímpico (IPC) de natação, com as adaptações necessárias.

“O basquete em cadeira de rodas é um esporte como qualquer outro”, ressalta a treinadora Ana Maria Teixeira. Nessa modalidade, as quadras apresentam o mesmo tamanho e a cesta fica posicionada na altura normal. O que distingue o basquete especial é a adaptação das cadeiras de rodas, feitas sob medida para cada atleta. A altura do assento condiz com seu grau de mobilidade – de 1 a 4,5, crescendo de acordo com o comprometimento físico-motor – e tem as rodas “cambadas” (posicionadas em diagonal) para proporcionar estabilidade e agilidade. Para completar, dispõe de anti-bloqueio e de rodinha traseira, que ajuda a não empinar a cadeira. O equipamento, acima de tudo, proporciona aos atletas o dinamismo necessário para tornar o jogo tão intenso (foto, abaixo) quanto o basquete convencional.


A bocha paraolímpica é destinada a paralisados cerebrais que utilizem cadeira de rodas. Se a deficiência for muito severa, o atleta é acompanhado por alguém que lhe auxilie com o equipamento para arremesso. O objetivo é lançar as bolas o mais próximo possível do bolim – uma pequena esfera branca. A disputa pode ser individual, em duplas ou trios. Já pessoas com deficiência visual ou física têm a opção de praticar o atletismo, que se divide entre corridas, saltos e lançamentos e arremessos, de acordo com a limitação do atleta. Nas provas de pista, os deficientes visuais podem ser acompanhados por um atleta-guia, dependendo de sua necessidade.

Atletas mirins

Para beneficiar o público infantil e juvenil – de 5 a 18 anos – portador de necessidades especiais, o Cepe desenvolve o projeto de escolinha paraolímpica, conhecido como Cepinho. As aulas são ministradas na Univille nas tardes de terças e sextas-feiras, sob a orientação da coordenadora do projeto, Francielli de Rezende. O objetivo da escolinha é mostrar aos alunos e a seus pais o potencial desses jovens atletas. Dos 5 aos 12 anos, as crianças frequentam as aulas e praticam todos os esportes. A partir daí, são encaminhadas para modalidades específicas com que tenham afinidade e aptidão. Até os 15 anos, participam de eventos sociais, culturais e esportivos como joguinhos e apresentações. Após essa fase, os atletas são inseridos nas competições.


* Repórteres da Revi. A matéria foi desenvolvida para a disciplina de Redação 3, sob orientação do prof. Guilherme Diefenthaeler

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