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Matéria 9559, publicada em 23/04/2010.


:Eduardo R. Schmitz

Conjunto de três sinos marca o tempo e os eventos importantes

Sons da igreja contam a história de uma comunidade

Edinei Knop e Patrícia Schmauch *



Blém, blém, blém! É assim que o sino sobrevive nas metrópoles ou nas pequenas cidades de interior: badalando. Faz parte da história e da cultura de um povo. Orienta, proclama, chama, relembra, impõe. Seu toque, marcante e autoritário, representa a presença religiosa no cenário contemporâneo. O soar dos sinos no alto da Igreja da Paz, no centro de Joinville, reproduz a trajetória do povo alemão, a vibrante evolução de um templo e o marco de chegada da Igreja Evangélica de Confissão Luterana, no século 19. Para atingir o alto da torre e apreciar os três sinos da igreja, hoje, é necessário enfrentar vários pavimentos cobertos pelo pó e dez escadas que totalizam 110 degraus. A recompensa é uma visão panorâmica da cidade (foto, abaixo, de Edinei Knop).


Os primeiros imigrantes alemães de confissão luterana, desembarcados no início de 1851, não imaginavam o valor cultural e religioso que teria o luteranismo em Joinville. No final do mesmo ano, o pastor Jacob Daniel Hoffmann realizou o primeiro casamento e o primeiro culto não-católico. O lançamento da pedra fundamental da Igreja da Paz ocorreu em 1º de junho de 1857. Comandada pelo arquiteto Albert Kröhne, a construção durou mais de sete anos. A inauguração da igreja ocorreu em meados de 1864. É o templo mais antigo de Joinville. Logo depois, outras nove igrejas luteranas foram fundadas. No final de 1892, foi inaugurada a torre de 27 metros e o carrilhão com os três sinos. O relógio foi apresentado ao público 16 anos depois. Somente em 1964 houve a ampliação da torre para 36 metros de altura. Sinos e relógio foram deslocados para o pavimento superior.

O relógio foi produzido pela fábrica J. F. Weule, da cidade alemã Bockenem am Harz, em 1905. O custo, na época, foi de 1.300 marcos. Tem um pêndulo e mais de uma dezena de engrenagens e correntes. Localizado abaixo dos sinos, o artefato supera cem anos de existência. Os quatro mostradores de 1,75 metro de diâmetro e os ponteiros foram feitos em Joinville por Otto Pfützenreuter.

A história da Igreja da Paz já faz parte do dia-a-dia do zelador João Batista de Morais, funcionário da instituição há quase um ano. Além de zelar pelas dependências da igreja, que fica junto à Associação Educacional Luterana Bom Jesus/Ielusc, Morais é responsável pelo bom funcionamento do relógio (foto, abaixo, de Edinei Knop). Segundo ele, a corda, alimentada manualmente por uma manivela, dura uma semana. “Não costumo deixar todo esse tempo”, afirma, precavido.


É possível ouvir as badaladas em um raio de aproximadamente dois quilômetros, mas isso varia de acordo com as condições climáticas. “O sino orienta e possibilita o controle do horário”, opina Priscila Carvalho, estudante do sétimo semestre de Jornalismo do Bom Jesus/Ielusc. Ressaltando que as badaladas incomodam alguns professores, Priscila julga de extrema importância preservar o sino como patrimônio histórico e cultural. “É uma forma de resgatar valores”.

Se hoje as pessoas têm relógio disponível em todos os lugares, até no celular, em outros tempos dependiam do sino para se orientar. As badaladas marcavam as horas e anunciavam antecipadamente o início de cultos e comemorações festivas. Para a pastora Eli Elisia Deifeld, as badaladas significam a união de um povo. “Marcam o início e o término dos cultos, além de representar o louvor a Deus”, completa. Segundo a diretora paroquial da Igreja da Paz, Cladis Erzinger Steuernagel, o sino é uma referência, faz parte do contexto histórico da igreja. “Chama os fiéis”, reforça. Quem ouve as badaladas pode apreciar três tonalidades diferentes: sol sustenido, si bemol e ré. Os sinos da Igreja da Paz (foto, abaixo, de Eduardo R. Schmitz), originários de Bochum, também na Alemanha, são pintados na cor cinza. O espaço em que se encontram é apertado e empoeirado. Um sino badala nas horas cheias; o outro, nos quartos de hora; o terceiro, de acionamento manual, no início e término de cultos, além de ocasiões especiais, como casamentos.


“Nem orienta, nem atrapalha”: essa é a opinião da professora de Teorias da Comunicação do Bom Jesus/Ielusc, Lilian Muneiro. “As badaladas simbolizam a história e a permanência da igreja em nossa época. O sino se tornou parte da aula, além de promover pausas interessantes”. De acordo com ela, o sino já faz parte da história, do lugar e da cultura. “Faz parte das aulas de teoria”, completa. Enquanto lá fora o sino continua a badalar: blém, blém, blém!

Soa o órgão

Seu valor cultural, sentimental, histórico e religioso inspira a apresentação de peças clássicas, entoa cânticos religiosos e embala de maneira especial o cerimonial de louvor a Deus. Além do relógio e do carrilhão de sinos, a Igreja da Paz preserva outro objeto raro e histórico: o órgão de tubos, que completará centenário em 2011. É um valioso patrimônio da igreja e de toda a sociedade joinvilense.

O instrumento foi comprado pela Comunidade Evangélica de Joinville da Oficina de Organaria alemã Friedrich Weigle em junho de 1911. Para cobrir as despesas, o Coral da Paz realizou apresentações, uma campanha especial de coletas e a venda de um terreno da igreja aos bombeiros voluntários da cidade. As dez pesadas caixas foram transportadas da Alemanha gratuitamente. Com o apoio de um empresário de São Francisco do Sul, isentou-se a alfândega, tributo da época. A inauguração se deu em 10 de dezembro de 1911.


O instrumento milenar (foto, acima, de Patrícia Schmauch) é dividido em três partes: tubos – similares às flautas –, console e foles. É alimentado por um compressor de ar e acionado por um motor. No console, há dois manuais, pedaleira, registros e controles de expressão. O órgão, feito em madeira de lei e metal, apresenta 66 teclas, 579 tubos e uma organola que permite, através de rolos, a execução mecânica de peças musicais. O cunho histórico e cultural do órgão aponta a música como importante ministério de louvor, ação de graças, exaltação e fortalecimento da fé. De acordo com a professora e organista Lucy Mary Leão, o instrumento acompanhou hinos e liturgias da igreja durante décadas. “É de beleza musical inigualável e de sonoridade imponente e penetrante”, completa.

Em 2002, seu estado de conservação estava comprometido. Após cinco anos de total esquecimento, os frequentadores da igreja luterana decidiram reformá-lo. A restauração, feita por uma empresa paulista, custou cerca de R$ 200 mil. A primeira apresentação após a reforma ocorreu em dezembro de 2008. Um público de quase mil fiéis lotou a igreja.

Lucy Mary é professora do instrumento há 12 anos. As aulas fazem parte do projeto de extensão da Casa da Cultura, em parceria com a Igreja da Paz. Mas somente quatro alunos participam das aulas. Segundo a organista, as maiores dificuldades estão no aprendizado da pedaleira e na coordenação dos pés e mãos. Daniele Haak, professora de piano e estudante de Direito, está no segundo ano de aulas. Ela garante que a didática é objetiva e exige coordenação, dedicação e resultados. “No final, a gente opta por dominar o órgão ou deixar que ele nos domine”, afirma. O professor de música Dieter Andreas Pabst faz aulas do instrumento desde março do ano passado. “Tocar um instrumento desses é uma sensação que não dá para explicar com palavras”, exclama. As aulas, semanais, têm duração de uma hora e meia. O único órgão de tubos semelhante, em Joinville, está localizado na Igreja Cristo Bom Pastor, em processo de restauração.


* Estudantes de Jornalismo do Bom Jesus/Ielusc. Texto produzido para a disciplina de Redação 3, sob orientação do professor Guilherme Diefenthaeler.

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