Em entrevista no anfiteatro do Bom Jesus/Ielusc, o delegado afastado da
Polícia Federal Protógenes de Queiroz foi enfático ao falar das relações entre
política, corrupção e interesses privados. Na coletiva que ocorreu na tarde de
segunda-feira, Protógenes comentou as repercussões de suas
últimas investigações como a operação Satiagraha, negou filiação a
partidos políticos e acusou figuras importantes como ex-presidente Fernando Henrique Cardoso de participarem do “poder avassalador” que, junto à corrupção, ainda persistem no governo federal.
Logo no inicio da entrevista, às 16h30, Protógenes esclareceu que as últimas operações atingiram “altos escalões” da sociedade. O resultado desse trabalho foi a descoberta de grandes esquemas e, afirma, “valores de uma ordem que não é vista em outros países”. O delegado também relatou outros casos em que trabalhou, como a prisão do ex-governador de São Paulo Paulo Maluf, do contrabandista Law Kin Chong, do doleiro Naji Nahas e do ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta.
Quando perguntado sobre sua possível ligação ao PDT ou ao Psol, o delegado disse que esses dois partidos apenas tomam uma postura pública “contra a corrupção”, assim como o objetivo de seu próprio trabalho. Ele ainda ressaltou que esses boatos servem apenas para favorecer novos processos que tendem a “inverter os valores” de sua profissão. “Até 2010 o Protógenes vai navegar nessas águas turvas”, concluiu o delegado, se referindo às especulações eleitorais.
Ainda na coletiva, o delegado demonstrou preocupação com as relações midiáticas que compõem a política brasileira. Falou das acusações que sofreu através da imprensa, especialmente da revista Veja e da Rede Globo que, por sua vez, também sofrem influências dos seus acusados, como o banqueiro Daniel Dantas. Protógenes também refletiu sobre o importante papel das faculdades na formação dos jornalistas, responsáveis pela informação que chega à população.
Palestra na
Câmara de Vereadores
Depois da coletiva e da visita que fez ao Bom Jesus/Ielusc, o delegado se dirigiu à Camara de Vereadores de Joinville para a palestra “Estado Brasileiro e a relação do público-privado”. Protógenes iniciou sua
fala às 19 horas, fazendo uma análise entre a época da Coroa Portuguesa e a
atual corrupção do Brasil. Segundo o profissional, o estado continua fomentando
o mesmo sistema de baixos salários e de exploração da época do reinado.
Retomando os temas levantados pela imprensa à tarde, o delegado voltou a falar de Dantas e dos
desdobramentos de suas investigações. Explicou como o poder financeiro dos
grupos que dominam o país mantém “bandidos” como o banqueiro livres. Falou
sobre as outras pessoas que compõem esse grupo e não citou nomes, mas garantiu que “são sempre os mesmos” e que podem ser reconhecidos por qualquer pessoa que buscar os dados sobre corrupção nos últimos anos. Entusiasmado, o profissional se
comprometeu em voltar a discutir uma maneira de associar os procedimentos
investigativos do jornalismo e da Polícia Federal a fim de desenvolver teorias
para as faculdades.
Protógenes também ressaltou a importância de discutir a ética e a moral nas universidades e elogiou a preocupação dos organizadores da palestra e da instituição de ensino em trazer e debater temas como
esses.
Entre outros assuntos abordados na palestra, Protógenes defendeu a participação da população nas decisões públicas: declarou-se favorável à luta dos estudantes pelo passe livre no transporte coletivo em Joinville e criticou os métodos e a atuação das autoridades do Mato Grosso do Sul contra os acadêmicos que lutam pelo mesmo objetivo.