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Matéria 8077, publicada em 27/03/2009.


:Felipe Silveira

O escritor lançou biografia de Paulo Coelho em Joinville

O mestre da vida alheia

Jéssica Michels*


Chegamos ao saguão de entrada do Hotel Bourbon. Izani Mustafá pergunta à moça bonita que está sorrindo atrás do balcão onde será a entrevista coletiva com Fernando Morais. Entramos os três no elevador: Izani, Felipe Silveira e eu. No terceiro andar, dois grandes sofás e algumas cadeiras. Do outro lado, duas mesinhas redondas com toalhas brancas, que sustentavam quatro jarras de sucos, café e leite, bandejas com palitinhos de chocolates e bolo de banana. Eu ignorei por completo essas mesas.

Sentamos nas cadeiras. Poucos minutos depois, ele chega. Fernando Morais vem sorrindo e cumprimenta todos os presentes. Usava uma camisa social branca e calças pretas e sapatos escuros. A barba estava rala e com a maioria dos fios brancos. A calvície já é bem visível e as sobrancelhas bem grandes e indisfarcáveis. Sentou no sofá e logo um rapaz foi gravar uma exclusiva com ele. O rapaz pergunta como ele começou a organizar a compilação de dados sobre Paulo Coelho. Fernando conta: “O livro começou quando eu vi o Paulo Coelho pela primeira vez no aeroporto de Lyon, na França. Ele estava sozinho, com uma mochila nas costas e puxando uma maleta de rodinhas”. No primeiro capítulo do livro, Fernando faz um retrato social deste momento no aeroporto. Com invejável descrição de detalhes, explica ao leitor quem é Paulo Coelho, mostrando a visibilidade dele no mundo. “Ele não é só conhecido. Paulo Coelho é respeitado”, ressaltou.

"Temos que reescrever mil vezes diversas frases para o parágrafo ficar... elegante”, simplificou Fernando Morais. A construção desta biografia tomou-lhe quase cinco anos. “Fiz uma faculdade de Paulo Coelho. Na verdade, considero que já fiz um mestrado, porque eu sei bem mais sobre sua vida do que o próprio Paulo”, explicou.

A assessora de imprensa pede para o rapaz retornar ao seu lugar para começar a entrevista coletiva. Fernando Morais também levanta. Ele prefere uma cadeira de metal com um design diferenciado. Essa nova posição faz com que ele esteja sentando na minha direção. Estamos distantes, separados por uma mesinha rasa de madeira, em que se encontra um exemplar da biografia, um copo e uma garrafinha de água. O sofá fica vazio. Izani explica que deixará suas perguntas para o final, pois quer gravar um áudio e passa para o colunista do jornal A Notícia, Rubens Herbst, que também quer uma exclusiva de áudio. Fernando faz cara de pouco caso, mas angustiado por não ter perguntas para responder. Quem terminou com este clima chato foi o Felipe. Fez uma pergunta sobre o socialismo no Brasil, já que foi Morais quem trouxe um dos primeiros relatos, através do livro A ilha, sobre a experiência em Cuba.

"A incrível história de Paulo Coelho, o menino que nasceu morto, flertou com o suicídio, sofreu em manicômios, mergulhou nas drogas, experimentou diversas formas de sexo, encontrou-se com o diabo, foi preso pela ditadura, ajudou a revolucionar o rock brasileiro, redescobriu a fé e se transformou em um dos autores mais lidos do mundo...”: essa é a síntese da vida de Paulo Coelho na capa da biografia O Mago, os fatos mais escandalosos e marcantes da sua vida. O escritor havia recusado cerca de 30 propostas de autores para fazer a sua biografia. O “sim” que deu a Fernando Morais tem sua explicação: “Ele disse que tinha gostado muito da biografia que fiz sobre o Chatô e me deu a autorização. Eu esperei que ele fizesse alguma restrição. Ele não o fez".

Mesmo assim, Fernando diz que teve muitos conflitos éticos por tornar público esses fatos. Quem resolveu isso foi a sua esposa: “Mulher deixa as coisas tão simples. Ela me disse: 'Você está fazendo uma censura que o próprio Paulo Coelho não te pediu'. Pronto, tudo resolvido. Mas isso me incomodava, eu pensava 'será que tenho o direito de fazer isso com uma pessoa que foi tão prestativa comigo?'”, questionava Morais.

"Em 68 eu lutava contra a ditadura militar e o Paulo Coelho fumava maconha”, disse. O autor comenta o fato de que trabalhar a vida toda em jornais faz com que a pessoa tenha um olhar diferente. Do jornalismo, Morais adquiriu a facilidade de encontrar um bom tema. A curiosidade também foi um elemento importante para a construção dessa biografia. Ele pegou um charuto, acendeu e pediu um cinzeiro.

"Eu já tinha escrito duzentas páginas quando descobri um testamento. No começo eu não dei tanta importância, só queria saber para quem iria o dinheiro. Só depois eu soube que existia um baú que deveria ser incinerado após a morte do Paulo. Na hora liguei pra ele e me disse que eram bobagens, apenas uns brinquedos velhos. Quanto mais ele negou as chaves, mais excitado eu ficava. Ele fez um acordo: só me daria as chaves se eu descobrisse o tenente que tinha torturado ele. Bom, eu descobri. No baú tinha mais de 170 cadernos e fitas cassetes. Eram diários dos 10 ao 50 anos e ele escrevia todo santo dia. Essa descoberta muda tudo. Muda a biografia. Demorou mais um ano, mas valeu a pena”, relatou Morais durante a exclusiva para a Revi.

Posamos para fotos e depois foi sorteado um exemplar da biografia. Adivinha quem ganhou? Professora Izani. Enquanto ele autografava os livros para ela, eu e o Felipe não resistimos às mesinhas com toalhas brancas. Logo depois, estávamos os três novamente no elevador quando Fernando Morais veio correndo para descer conosco. Seguro a porta para ele entrar e conversamos sobre o jornalismo por alguns segundos. Nos despedimos e seguimos em direção ao Ielusc.

Ouça a reportagem com Fernando Morais clicando num dos links abaixo:

Parte 1 – Livros escritos e “O Mago”

Parte 2 – Trabalho de investigação e novos projetos

Veja dois vídeos com Fernando Morais clicando num dos links abaixo:

Vídeo 1 – Política na América

Vídeo 2 – Trabalho de escrita de “O Mago”


* Acadêmica de Jornalismo no Bom Jesus/Ielusc

800x600. ©2005 Agência Experimental de Jornalismo/Revi & Secord/Rede Bonja.