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Matéria 7461, publicada em 06/11/2008.


:Montagem Revi

Barack Obama e a peça publicitária: racismo inconsciente?

Lá, um negro no poder. Aqui, loiros na propaganda

Felipe Silveira*


Barack Obama é eleito presidente dos Estados Unidos da América e nós não conseguimos colocar um negro na propaganda do vestibular Univille/Bom Jesus/Ielusc. Nós, brasileiros, nos orgulhamos de viver em um país miscigenado, que respeita a todos e tem sua grande riqueza oriunda dessa diversidade. Eles, estadunidenses, têm registrado em sua história a intolerância, a violência e a segregação dos negros na sociedade. Lá, um negro chega à Casa Branca. Aqui, grupos defendem que o sistema de cotas é preconceituoso.

Quando o Bom Jesus completou 80 anos em 2006, eu escrevi um artigo para a Revi sobre o fato de haver apenas um negro no folder comemorativo, que era composto por muitas fotos de rostos sorridentes. À época, ainda calouro, escrevi um texto que julgava ácido e talvez tivesse mais a intenção de discutir do que pensar a questão. Entretanto, a questão ainda me incomoda. A nova campanha para o vestibular traz na TV e no material impresso três jovens brancos com cabelos amarelos, sorrisos largos e i-pods no bolso. Ora, serão eles o público-alvo da campanha? Quando uma instituição de ensino (ou duas) desenha o fenótipo de aluno que quer ter, está na hora de alguém levantar e se coçar.

Não se trata de dizer aqui que um sujeito lá da diretoria ou coordenação ou secretaria é racista. É lógico que não. Estamos falando aqui do preconceito enraizado. Aquele preconceito "sem querer". Falamos daquela vez em que o seu avô chamou o pedinte negro de vadio e você não lhe chamou atenção porque "o vô é assim mesmo"; daquela sua colega de trabalho que disse que "não gosta de 'nego'"; da incapacidade de dizer à agência de publicidade que três loirinhos na propaganda do vestibular é uma exclusão absurda; da tolerância que você tem quando a polícia trata com mais estupidez um jovem negro do que um jovem branco.

Tenho muito o que ler e viver ainda até formar uma opinião coerente sobre um assunto tão complexo, mas quando vejo um estudante branco choramingar na TV por causa que ficou de fora da universidade que implantou o sistema de cota, não sei se rio ou se fico com raiva do imbecil. Se é justo, injusto, certo ou errado esse sistema eu não sei, mas sei que a necessidade de rever nossa política e nossa conduta é urgente.

Agora, se Barack Obama é o primeiro presidente negro, não importa. A cor não importa mais. Importa como a América se comportou diante de um homem negro que propunha a mudança. Importa o seu comportamento perante a cor do outro. Importa o comportamento do seu vizinho perante a cor do próximo. Seu colega foi racista? Use a lei, ameace-o com o Código Penal, mostre-lhe a Constituição, a Declaração Universal dos Direitos Humanos. É seu dever. Chega de racismo.


* Felipe Silveira é acadêmico do 6º período de Jornalismo

Comentários dos leitores
 

  • 1-/-1/2008 -

    Tom Cau [Joinville]:

     

    Um ser humano ou um negro?.

     

    Dia desses li um artigo do Carlos Heitor Cony em que ele contava o seguinte: Perguntaram a um amigo meu: "É verdade que você se casou com uma negra?". Ele respondeu: "Não. Eu me casei com uma mulher". Penso nele sempre que ouço ou leio quando se referem a Barack Obama como "presidente negro". Leiam o artigo completo neste link: http://jc.uol.com.br/blogs/blogjamildo/canais/noticias/2008/11/10/os_americanos_nao_votaram_em_um_negro_36044.php Sempre me causa uma mal estar quando vejo acusações infundadas de discriminação. Me parece uma grande hipocrisia. Me parece algo dito ou escrito por pessoas que são na verdade as maiores discriminadoras. Todos somos negros, sem exceção. Todos os DNAs existentes no mundo atualmente, tem uma unica origem: uma tribo localizada no nordeste da África, que ainda existe. Estudos conduzidos pela National Geographics e a IBM comprovaram isso. Estudos recentes do Genoma humano, desmostraram que não existem raças. Somos todos iguais, e eventuais diferenças são apenas adaptações necessárias em função das mudanças ambientais. É um bom momento para pararmos com estas bobagens e começarmos a falar da maravilha que é o Ser Humano, independente de suas cores, aparências, classes, culturas, etc.. etc... Não abrace um branco, um negro, um índio, um oriental, etc. Abrace um Ser Humano.

  • 1-/-1/2008 -

    Raphael Schmitz [Joinville]:

     

    Do autor da Ilustração.

     

    Primeiramente, para você ter como referência no uso de algumas palavras futuramente: preconceito acontece quando você tira conclusões sem o devido conhecimento a respeito de algo. Diferente de discriminação, que, grosso modo e no contexto social, seria quando você usa dois pesos e duas medidas quando lida com as pessoas. Racismo é um tema complicado. O sistema de cotas também é deveras problemático, até porque é uma idéia que contradiz a si mesma: objetivando-se a igualdade, determina-se que há uma divisão entre negros e brancos, ou seja, acabamos endoçando a discriminação e assumimos o preconceito de que, de forma geral, todo pobre é negro e passível de auxílio no acesso ao ensino superior. Não vou me estender na discussão a respeito das cotas. Sobre isso vou me ater a dizer que o buraco é mais embaixo, como a leitora Gisele ja alertou. Quero apenas questionar a sua visão, essa sim preconceituosa, a respeito do resultado da ilustração da campanha publicitária em questão. Seu texto, Felipe, ainda como nos tempos de calouro, continua ácido. Diria também que, além de ácido, é maniqueísta e tendencioso. É Ácido por que você fala com amargura, dizendo-se incomodado com uma situação, e passa a apontar “racistas passivos” pela sociedade e mais especificamente entre os encarregados da produção de material gráfico para sua instituição. Talvez com toda essa vontade de culpar, tenha faltado energia pra você conseguir perceber algumas impropriedades nas coisas que você afirma. É Maniqueísta porque, seguindo a sua lógica, para se produzir material gráfico “bom e certo” no Brasil, pais miscigenado, precisaríamos necessariamente incluir a imagem de um negro (e na Dinamarca não precisa? Ou precisa??), caso contrario a tal peça (“absurda!”) estaria excluindo a raça negra. E é tendencioso porque chama de imbecil a idéia de não concordar com um sistema sem contra-argumentar nada concreto em defesa do mesmo. No decorrer da produção dessa ilustração, ou melhor, depois do trabalho finalizado, surgiu a pergunta: “Será que não deveríamos ter colocado um negro?” Pensei que teria sido ótimo. A composição até ficaria mais equilibrada e heterogênea. Mas, durante a concepção do desenho, não estava se pensando em “raças” e sim no perfil psicológico das personas. Em meio a um caos de informação pra organizar e montar a campanha, simplesmente surgiram esses 3 “loiros” como você diz, e me dei por satisfeito. A composição funcionava e, não havendo prazo suficiente para refazer tudo, seguiu-se em frente. Mas agora pense na questão:“será que não deveríamos ter colocado um negro?” Por que colocar um negro? Pra evitar problemas? Pra ficar “certo”? Pra não excluir ninguém? Excluir quem? Os negros? Mas e os asiáticos? E os cadeirantes? E os pigmeus, os esquimós, os yanomami? E os homossexuais? Falando em homossexualismo, até hoje me perguntam se a personagem central da campanha é menino ou menina. Eita! E se ela for os dois??? Pelo menos a campanha não estaria excluindo os transexuais... Enfim, chego a conclusão de que, se eu fosse negro, ficaria mais ofendido com a discussão a respeito de incluir ou não negros em determinado material gráfico do que com o fato de haver um campanha estrelada por três brancos. Esse tipo de discussão soaria condescendente e, aí sim, teriamos discriminação de fato, o que seria triste. Finalizando, Felipe, neste caso, o preconceito maior esta na sua cabeça. Se você ainda pretender continuar na sua busca por justiça racial na propaganda através do eufemismo, saiba que o termo negro vem sendo considerado pejorativo. O “correto” é afro-descendente.

  • 1-/-1/2008 -

    Gisele Krama [Joinville]:

     

     

    Penso que a questão da propaganda universitária é relfexo da realidade do campus. De fato, o número de negros que tem acesso ao Ensino Superior é ínfimo. Agora, quando se chega na questão de cotas, tudo é mais complicado de se analisar. De um lado faz-se justiça ao dar acesso a negros, índios e estudantes de escolas públicas, mas de outro expõe a fragilidade do Estado ao adotar um método curativista para tampar a base do problema. O que de fato acontece é que o sitema público de ensino básico é falho. O Ensino Fundamental é ruim e o Médio foi esquecido pelos governantes. Na verdade, toda a educação pública deveria funcionar de forma harmoniosa, homogênea e dar acesso a todos os brasileiros, nos diversos níveis de ensino, mas isso já é utopia. Não podemos esquecer também que esses ingressos por cotas, como o que acontece na Federais, e o Programa Universidade para todos (ProUni) não suprirão a defasagem social que se acumulou.Afinal, existe todo um circuito de conhecido que deixou de ser adquirido e que virá à tona em algum momento da graduação. Ah, e quanto ao Obama, duvido que o resultado das eleições nos Estados Unidos seria o mesmo se o candidato não fosse negro. Não podemos ignorar que a população estadunidense negra ainda lembra das perseguições e do racismo que fizeram parte da história do país e que ainda são evidentes. Esta foi a maneira que encontrada por eles para serem vistos e ouvidos.

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