O instituto Bom Jesus comemora, em 2006, oitenta anos desde a sua fundação e consolida-se como uma das instituições educacionais mais respeitadas do estado. Decorrente disso, houve uma série de eventos e dentre esses o lançamento de uma peça publicitária veiculada em diversas mídias. Esta peça tem como frases principais "Bom Jesus, patrimônio cultural de Santa Catarina", e "Oitenta anos de valiosas histórias pra contar". Porém, o que mais me chama a atenção é o logotipo criado para a comemoração. Trata-se de vários rostos com expressão de felicidade que formam um 80 enorme. Chama-me atenção não porque eu goste mais de imagens do que de letras, mas sim porque dentre algumas dezenas de rostos sorridentes, apenas um deles é negro.
O espanto me levou a especular: por que aquele único negro está feliz? Será que houve um concurso pra saber quem seria o único representante da raça da raça no logotipo do Ielusc e ele ganhou? A vitória é a causa da felicidade? Minha opinião, na verdade, é de que ele está sorrindo ironicamente enquanto pensa: "Agora descobri qual o verdadeiro patrimônio cultural de SC a que eles estão se referindo. A exclusão de negros e índios de qualquer aparição visual midiática, um reflexo da sociedade catarinense".
Penso que é válida esta observação: apenas um negro, com a frase "Patrimônio cultural de Santa Catarina". Por exemplo, a atual propaganda do banco mais tradicional do estado, o Besc, mostra imagens de pessoas durante várias fases da vida, acompanhada de uma bela narração sobre um povo trabalhador, acolhedor, etc. Não comparando (será?) com o logotipo, mas nessa propaganda do Besc me esforcei pra achar um negro, sem sucesso. Apesar de saber que Santa Catarina foi colonizada quase que totalmente por brancos europeus, vejo que há muito mais negros neste estado do que na relação de um negro entre dezenas de brancos, mostrada pelo logotipo.
Parafraseando Pedro Russi, não quero achar uma solução, mas sim "provocar" uma reflexão sobre o verdadeiro patrimônio cultural de Santa Catarina.
Clayton Felipe Silveira cursa o primeiro semestre de jornalismo no Ielusc