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Matéria 7054, publicada em 19/09/2008.


Os debates da 31ª Intercom

Juciano Lacerda*


O Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Intercom têm números impressionantes para a área. O 31º Congresso trouxe a Natal (RN) cerca de três mil pesquisadores e estudantes de todos os estados do Brasil. Na abertura oficial, no dia 3 de setembro, 1.400 pessoas estiveram no salão do hotel Praiamar, para a conferência com o professor Dr. Dov Shinar, diretor do Center for the Study of Conflict, War and Peace Coverage (Israel). Ele abordou o tema “Mídia e Ecologia em situações de Guerra e Paz”. Sua fala trouxe um panorama histórico da pouca atenção da imprensa aos efeitos provocados pelas guerras.

A abertura geral foi precedida, no dia 2, por vários eventos como oficinas de comunicação, XI Conferência Brasileira de FolkComunicação e a assembléia de fundação da Federação Brasileira de Associações Científicas e Acadêmicas de Comunicação, que vai reunir entidades como Intercom, Socine, Compós, SBPJor, FNPJ, ABCiber entre outras. Neste dia, procurei participar do I Colóquio Bi-nacional Brasil-Portugal de Ciências da Comunicação, pois se trata de um espaço de intercâmbio cada vez maior entre programas de pesquisa brasileiros e portugueses. Pude perceber que vários brasileiros estiveram realizando pós-doutorado em universidades do Porto, Fernando Pessoa, Nova de Lisboa, Beira Interior-Covilhã. O jornalismo teve maior evidência entre as pesquisas, com destaque para a pesquisa de pós-doutorado realizada por Antônio Carlos Holhfeldt (PUCRS) sobre “Imprensa das colônias de expressão portuguesa: primeira aproximação”.

A Intercom é um espaço fabuloso para trocas pelos corredores com colegas pesquisadores de outras universidades, com os quais fazemos interlocuções por e-mail e para ter um panorama do que se está pesquisando na área. Mas diante de evento tão grande, é preciso focar-se. Para compreender melhor a lógica da Capes na aprovação de programas de mestrado na área da comunicação, participei do ciclo “Desafios da Pós-Graduação em Comunicação no Norte-Nordeste”. Falaram Sérgio Matos (UFBA) e Alfredo Vizeu (UFPE) sobre as trajetórias dos dois programas consolidado. Márcia Vidal Nunes (UFC), Marcos Nicolau (UFPB) e Gilson Monteiro (UFAM) abordaram perspectivas, pois os cursos de mestrado foram aprovados recentemente. Marcius Freires representou a Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior) e o pesquisador sênior e avaliador do CNPq Antonio Fausto Neto (Unsinos) abordou as tendências da pesquisa em comunicação. Fausto Neto apontou a tamanha proximidade e mesmo atravessamento entre as várias linhas de pesquisa dos programas de pós-graduação e criticou o fato de o objeto das linhas não trazer nenhuma especificidade das regiões Norte e Nordeste. Concordei com ele nos comentários.

No evento, questionei Marcius Freire sobre o modo de avaliação das revistas acadêmicas, o Qualis, pela falta de retorno aos editores sobre o posicionamento das revistas. Também fiz a crítica ao fato de o CNPq somente registrar grupos de pesquisa, no diretório nacional, sob a condição de o grupo estar numa universidade ou pertencer a um programa de pós-graduação. Isso inviabiliza justamente o fortalecimento da pesquisa em instituições isoladas, como é o caso do Ielusc, para chegar a ter mestrados e doutorados. Vários pesquisadores presentes fizeram coro ao meu posicionamento, por enfrentarem a mesma dificuldade. Para variar, as respostas não contentaram o público.

O centro da minha participação aconteceu no Núcleo Pesquisa Comunicação para a Cidadania, no qual pude fazer uma importante interlocução com pesquisadores de todo o país que fazem essa interface. Apresentei o trabalho “Telecentros comunitários: questões teórico-metodológicas e vivências midiáticas digitais”, na sessão Movimentos sociais, estratégias midiáticas e tecnologias digitais. Dividi o debate com os pesquisadores Bruno Fuser (UFJF), Catarina Oliveira (UECE), Rozinaldo Miani (UEL), Francisco Pimenta (UFJF), Lilian Oliveira (ECA-USP) e Janaína Barros (UEMG/USP). Os limites dos projetos de inclusão digital em contraponto às formas criativas de apropriação comunitária centraram o debate em alguns momentos e também as formas de pesquisa participante envolvendo movimentos sociais. O NP teve mais de trinta trabalhos expostos em sessões paralelas. Participei da coordenação de duas delas. Numa, tivemos a rica exposição de pesquisas envolvendo o uso do jornalismo e de tecnologias audiovisuais em comunidades indígenas da Amazônia e do Mato Grosso do Sul.

A Intercom tem a partir de agora nova gestão e também propôs a revisão do modelo de Núcleos de Pesquisa. O NP Comunicação para a Cidadania, coordenado atualmente pelo pesquisador Bruno Fuser, realizou reunião plenária no sábado 6, onde deliberou pela manutenção do Núcleo e pela criação de um Grupo de Pesquisa (GP), no novo molde da Intercom. Foi proposta uma nova coordenação, com Alexandre Barbalho (UECE) como coordenador geral, agregando a formação de três eixos temáticos: 1. Comunicação e Movimentos Sociais; 2. Comunicação, Identidades Culturais, Cidadania; 3. Tecnologia, Redes Digitais e Cidadania. Fui convidado para ficar como responsável, juntamente com Bruno Fuser (UFJF), do eixo três. A proposta é que no próximo ano, em Curitiba (PR), os NPs, na forma de Grupos de Pesquisa, articulem sessões, mesas redondas e debates no nível da pesquisa em pós-graduação e também da iniciação científica, dando maior força para esse espaço de interlocução na Intercom Nacional.


*Juciano Lacerda é professor de Meios Internet e coordenador do Necom

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