Não foi difícil conseguir uma entrevista exclusiva, por telefone, com Fabrício Carpinejar. O maior percalço ocorreu minutos antes de iniciarmos o bate-papo: organizar um modo no estúdio de rádio que possibilitasse manter concomitantemente o coordenador Sílvio Melatti, eu e Carpinejar na linha. A competência do técnico Ivan Almeida transpôs o obstáculo em instantes. “É a tua chance!”, brinquei, quando Almeida enfiava-se parafernálias adentro.
A conversa transcorreu normalmente. Melatti e eu combinamos apenas algumas questões previamente, a maioria delas inquirindo sobre as impressões do escritor sobre Joinville. O gaúcho poupou parte do escárnio exposto em seu blog, mas reiterou o caráter frio dos joinvilenses. É difícil não concordar com algumas das opiniões do autor. Joinville ainda é, sim, a cidade do expediente, da hora marcada, da “mão-fechada” e de garçons anti-higiênicos. Quem freqüenta botecos, especialmente os centrais, sabe o que é sentir o incômodo odor dos produtos químicos quando passa da meia-noite. Por um momento refleti: “Poxa, ele tem apurada sensibilidade poética. Precisou apenas de dois dias para 'decifrar' Joinville”.
Mas o espaço de tempo é curto demais. Tudo bem, ele assume o caráter parcial do julgamento. Talvez tenha se deixado levar pelas “expectativas elétricas” do professor Juciano Lacerda, organizador do sarau. Quem conhece o paraibano sabe da sua vontade de construir um evento cultural semelhante ao encontrado em grandes capitais. E Carpinejar veio a Joinville esperando as palmas que o afagam em Porto Alegre; ele nega. Ninguém com ego expõem-se de tal forma e posteriormente revela fracasso, respondeu-me.
Não compareci a Livrarias Curitiba na sessão de autógrafos. O professor Sílvio Melatti assegurou que a cena beirou o engraçado. E deve ter sido mesmo. Carpinejar correndo atrás das madames e alemães indagando-lhes sobre qualidades e defeitos no sexo oposto. Dez livros vendidos, longe da média habitual, claro, superior a cinqüenta.
No Visconde Café, onde supomos estivessem apenas literatos, a coisa degringolou. Ninguém se dispôs com vontade a assinar a camiseta branca de Carpinejar e, os que o fizeram, foi por pura educação interativa; ou, ainda, num gesto submisso, afinal, ele é Fabrício Carpinejar e se ele propõe algo deve ser engraçado.
Os textos lidos desagradaram. Antes de dirigir-me ao sarau, naveguei em seu blog rapidamente para ter uma “noção” a respeito dos textos. Espantei-me quando ressoaram os “pau, filha-da-puta e caralho”. A vulgaridade que ouvi naquele momento, por mais literária que tentasse ser, não condizia com os versos da internet. Vi autores com certo nome na cidade, como Rubens da Cunha, torcerem o nariz. Talvez Fabrício subestimou o público joinvilense, talvez Joinville antagonize com poesia.
Quando Melatti resolveu ampliar a entrevista, aproveitando-o para outras abordagens, tive a nítida sensação que Fabrício utilizou a “estratégia” errada. Ele tinha, sim, muito a acrescentar sobre produção textual. Quando descreveu sua ligação com o jornalismo, vislumbrei muitos exemplos dentro do Ielusc, inclusive próximos. Pessoas que a única ligação com o jornalismo é o esmero pelo texto, e fogem a todo custo do campo míope da objetividade. É com esse ponto de vista que o autor de “Meu filho, minha filha” coordena o curso de formação de escritores da Unisinos. Segundo ele, é uma forma de trazer os escritores à universidade, elevando a experiência de vida e a capacidade criativa ao patamar das titulações acadêmicas.
Desconheço o livro fundamental recomendado pelo gaúcho aos iniciantes. Se não me engano, trata-se de uma aventura de núpcias de um jovem casal apaixonado. Acho que foi o último que leu, e provavelmente elegeu-o pela fresquidão na memória.
Por último, numa mescla de repórter global com desfecho de filme hollywoodiano, parti pra piadinha: “Voltaria a Joinville?”. Na resposta, Carpinejar respeitou a postura de artista renomado.