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Matéria 4610, publicada em 09/08/2007.


Sarau Palavras Acústicas atravessa momento de incerteza

Rafael Alonso

Tudo conspirava para a ratificação do sarau Palavras Acústicas como um dos eventos culturais de maior relevância em Joinville. Já na quinta edição, contou com a presença de um artista de expressão nacional: o gaúcho Fabrício Carpinejar. Muito esforço foi aplicado por parte dos organizadores, especialmente o professor do Ielusc Juciano Lacerda, que investiu recursos próprios para contribuir com as despesas de transporte do convidado – avião de Porto Alegre a Curitiba e carro até Joinville. As Livrarias Curitiba também bancaram uma parte, já que o autor lançaria “Meu filho, minha filha” – terceira impressão –, sua publicação mais recente.

O sarau, marcado para as 19h, começou com uma hora de atraso. Apenas a área externa do Visconde Café, equivalente a um terço da capacidade do local, estava ocupada. Antes do preâmbulo oficial, Carpinejar passou de mesa em mesa, trajando uma camisa branca de linho, solicitando que cada um escrevesse o que o desagradava no sexo oposto.

Como estrela principal, Fabrício abriu o evento após rápida apresentação e agradecimentos breves de Juciano Lacerda. Durante cerca de uma hora, recitou versos próprios e de outros artistas rio-grandenses, que tratavam das relações tempestuosas entre cônjuges e das intempéries da paternidade. Fabrício tem dois filhos, uma menina, 13 anos, e um menino, cinco. Artistas locais, entre eles integrantes do grupo Zaragata e estudantes do Ielusc, também apresentaram suas produções. A cada fim de interpretação, Carpinejar brincava: “Quem é o próximo? Vamos lá, quem se habilita?”. A todo instante o autor gaúcho buscou interagir com o público, fosse com piadas diretas ou no modo de ler seus textos, que marcadamente exibiam “palavrões”.

Decepção

O professor Juciano Lacerda, um dos idealizadores do projeto e principal divulgador do evento (diz ter ficado quase três horas no Orkut promovendo os primeiros Palavras Acústicas), lamentou a baixa presença do público e a insípida reação dos presentes. “É claro que esperávamos mais gente. Além disso, a interação foi quase nenhuma”. Segundo Lacerda, o requinte e o preço nos cardápios do Visconde Café espantaram os mais jovens: “Tinha gente que ia só pra tomar uma cerveja e curtir. Assim, só os mais tarimbados comparecem”, explica.

Já para o outro precursor, o estudante de jornalismo Tiago Luís Pereira, o sarau precisa recuperar o seu “caráter anárquico, informal”. Ele aprova a vinda de autores com maior expressão: “É uma chance de entrar em contato com pessoas que já produzem há mais tempo”. Segundo ele, a falta de uma banda residente (posto ocupado anteriormente pela Dose do Dia, que ainda analisa a continuidade após o falecimento do vocalista Ricardo Pereira, irmão de Tiago) contribui com a debandada do público.

Local

É quase unânime entre organizadores e participantes do sarau que o Visconde Café não agradou. As duas primeiras edições, realizadas no Divinas’s Bar, contaram com maior envolvimento dos autores e o espaço era visivelmente mais propício, sendo apelidado de “prisão” e “caverna”, por alguns.

José Eduardo Calcinoni, também estudante de jornalismo e poeta, acredita que o ambiente prejudicou o sarau. “Lá nós não sentimos a vibração das palavras”, metaforiza. Para Calcinoni, horário para terminar e pompa não combinam com poesia.

Censura

No dia seguinte ao sarau, Fabrício Carpinejar publicou um texto em seu blog descrevendo as impressões sobre a passagem por Joinville. Entre as críticas ao provincianismo da maior cidade do Estado, disse ter sido censurado pelo proprietário do Visconde Café, Robson Luís. Segundo Juciano, Robson chamou-o num canto e, sentado confortavelmente ao redor de outros amigos, reclamou do excesso de palavrões.

O dono do estabelecimento justifica o protesto como “respeito” aos clientes. “Não fecho a casa para o sarau. Cada momento tem sua ordem”. O empresário garante entender a liberdade da poesia, mas pondera: “Há crianças e casais presentes. Por causa dos 'caralho' e 'filha-da-puta' do Carpinejar, posso perder visitantes para sempre”.

Para Tiago Luis Pereira, a solução é simples: “A primeira providência é repensar o lugar”. Juciano Lacerda não fica atrás. “Para quem discursou em prol da cultura, a questão econômica parece estar prevalecendo”.

No entanto, Robson Luís espera sediar os próximos encontros em seu estabelecimento. “É sempre bom reunir literatos”. A única objeção, segundo ele, é a falta de dinâmica e organização na apresentação dos textos.

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