Existem mil maneiras de ficar mal na foto, mas apenas uma é desculpável por antecipação, sem nem mesmo um julgamento sumário: é o caso de o sujeito não ser fotogênico. A fotogenia não é, como pode parecer à primeira vista, uma característica externa à pessoa, pois ser fotogênico não significa ser bonito, assim como não ser fotogênico não significa ser feio. Para você saber se é uma pessoa fotogênica, não adianta mostrar o seu retrato para os outros. Não haverá consenso. Apenas duas pessoas partilharão da mesma opinião que você em relação à sua foto: você e a sua mãe. E, nos dois casos, a opinião externada não será necessariamente a verdadeira.
A sua mãe dirá que você é lindo, pois um filho sempre será a pessoa mais linda do mundo para a respectiva progenitora. O filho se achará horrível na foto, pois o que ele vê no retrato nunca vai corresponder à imagem que todos nós fazemos de nós mesmos: nós somos as pessoas mais lindas deste mundo, pois somente nós conhecemos a nossa verdadeira beleza interior. Portanto, ser ou não ser fotogênico está diretamente relacionado à imagem que fazemos de nós mesmos. Quem sabe que é uma pessoa bonita, por ser humano, bom, inteligente, justo, ético – essas coisas que transformam um ser em uma pessoa – nunca vai se achar bonito em uma foto, pois as câmeras captam apenas a casca, a embalagem. Somente nós e nossas mães sabemos disso.
As outras 999 formas de ficar mal na foto estão relacionadas ao conceito de queimar filme mesmo. Como todos sabem, nas fotos feitas a partir de películas, o filme superexposto “queima”, ou seja, devido ao excesso de luz, as partículas de nitrato de prata ficam escuras, de tal forma que, ao tentar revelar a foto no papel fotográfico obteremos apenas um grande clarão – como uma chama fortíssima, cegante.
Recentemente, tivemos um caso de superexposição aqui no Ielusc. Foi na banca da aluna de Publicidade e Propaganda Josane Muriel, presidida pelo professor Silnei Soares e composta pelos professores Luiz Pinto e Felipe Soares. Sugiro ao nosso professor de fotografia fazer um artigo científico sobre o evento que certamente será lembrado como um marco na história desta arte. Em um ambiente repleto de máquinas digitais, sem nenhuma (que eu saiba) máquina analógica, dezenas de filmes foram queimados.
O espocar de flashes, quase simultâneos e exaustivamente repetidos, provocou uma reação jamais vista no anfiteatro. A comparação com um estádio de futebol, seja em um show ou em uma partida, é adequada. O auditório estava tomado por amigos, familiares e colegas da referida aluna que agiam como fãs e torcedores. A imprensa local, ou seja, os alunos de jornalismo escalados para a cobertura, se aglomerava, num empurra-empurra típico de cobertura de grande evento. Os publicitários, parte extremamente indispensável no nosso meio ambiente midiático, também contribuíram para tornar o evento um grande espetáculo: o tema era o cinema e os quadrinhos, e a autora da monografia mereceu até um cartaz digno das melhores salas de exibição. Todos contribuíram para tornar a ocasião um grande espetáculo – não acredito que tenha sido o maior da Terra, mas certamente o maior dentro do muros do Ielusc nos últimos tempos.
O intrigante é que os filmes começaram a ser queimados após o cessar dos flashes. Foi somente depois da decisão da banca com relação à nota da aluna que foi manifestada ao auditório a necessidade de o evento ser tratado como momento acadêmico, que uma banca é o último dos grandes passos dentro do processo pedagógico. Enfim, aquilo ali não era show. Então os alunos-repórteres, que até o momento eram os franco-atiradores de flashes, se tornaram o alvo de um tipo de exposição que nem mesmo o sol do meio-dia provoca no mais sensível dos filmes. Eles podiam ter aprendido, de uma maneira muito mais pedagógica e menos espetacular, que se deve ter uma compostura adequada ao cobrir certos eventos. A audiência poderia ter sido alertada, antes do início da banca, propriamente dita, que é preciso se comportar em um ambiente como aquele com o respeito devido a qualquer trabalho científico. Afinal, tratava-se de um evento com teor pedagógico.
O resultado da cobertura jornalística do evento mais importante deste início de semestre refletiu o impacto dos filmes queimados. O que era para ser apenas mais um material divertido, um apêndice da cobertura em si das monografias, foi, concordo, um material sem graça, superficial e que não captou a beleza de nossa equipe, nem a beleza da monografia apresentada. O único texto publicado sobre o evento acabou sendo uma resposta ao que não foi dito, e que também não reflete o talento e competência do autor, ou seja, o que ele tem de mais bonito.
Ficou uma lição: em um curso de comunicação social, com habilitações técnicas em publicidade e jornalismo, não basta aprender e ensinar a mostrar e a refletir sobre o que está aí fora, na mídia. É bom pensar também nas maneiras em que podemos nos expor sem queimar o nosso filme. Principalmente em eventos públicos. Do contrário, sairemos todos deste curso com a sensação de que não fotografamos bem.