Quando entram nos maiores supermercados da cidade, Quebinho, 23, e Aranha, 26, são vítimas do preconceito tanto racial quanto social. "Temos guarda-costas", ironizam, referindo-se à perseguição sofrida nesses locais de parte dos responsáveis pela segurança. Direto da periferia, dois integrantes do grupo Atitude de Rua estiveram na segunda-feira, 1º de setembro no Bom Jesus/Ielusc para uma entrevista à Revi.
Joseval Travasso, o Aranha “Freestyle”, foi o primeiro a chegar. Bateu na porta e entrou no Laboratório 4. Eram 14h. Apresentou-se, e aceitou o convite para sentar. Desculpou-se pelo atraso do amigo e começou a falar sobre sua trajetória na música.
Na falta de um gravador, foi convidado a conceder a entrevista no estúdio de rádio na sala ao lado. Quando começava a se apresentar ao microfone, o colega Cleberson Luis Fagundes de Oliveira apareceu na porta da sala que dá acesso ao estúdio perguntando pelo amigo. Quebinho, como é conhecido, foi convidado a entrar.
Aranha e Quebinho falaram de suas experiências, do contato com a música, das dificuldades sofridas pelos que, como eles, vivem na periferia. Criticaram a imagem de cidade modelo de Joinville, onde quase nunca é feita referência à existência de bolsões de pobreza onde eles moram
Aranha é da zona Leste da cidade. Já trabalhou como vendedor e hoje se dedica somente à promoção de eventos ligados ao hip hop. Ambos têm o skate como esporte e já tiveram passagem pelas drogas, mas afirmam que a música lhes deu uma nova oportunidade.
O grupo se dedica a ações beneficentes, como campanhas de arrecadação de agasalhos e alimentos. “Largue as drogas e mate sua fome” foi o último evento realizado pelo Atitude de Rua na Praça Nereu Ramos antes da reforma – realizada no final do primeiro semestre de 2003.
Também colaboram com apresentações gratuitas em áreas públicas. Mas reclamam da falta de espaços na cidade e de apoio cultural. “Não adianta deixar como está, as praças sempre com as luzes todas apagadas. O que vai rolar lá são drogas, drogas e drogas”, desabafa Aranha.
Fazem críticas à exclusão do estilo de dança que representam e até questionam ações da polícia no sentido de coagir o movimento. “Fizeram uma batida no clube Quênia procurando menores, mas não lembro de nenhuma batida em casas noturnas do Centro. Será que lá também não há menores?”, questiona Aranha.A mensagem final deles foi de que movimento hip hop é uma manifestação cultural que procura mostrar a realidade da periferia esquecida pela maioria da sociedade.