Dia sem rede na Revi é dia em que o teclado do computador cede lugar ao bloco
de notas e à caneta, as cadeiras aos calçados e o ar-condicionado perde sua
utilidade diante dos ares da estação. É nesses dias que se percebe o quão grande
é o leque de assuntos que a simples observação do campus proporciona. Nesses
dias percebemos que a chuva púrpura, que tingia o pátio do Ielusc de violeta,
está sumindo. O roxo está cedendo seu lugar ao céu azul de abril. O número de
frutas de jambolão pelo pátio é tão ínfimo quanto o de nuvens no céu. E quando
elas existem, se existem, são tão insossas que criança alguma poderia imaginar
forma nenhuma.
Dia sem rede na Revi é dia em que se pode observar a mini-horta existente
atrás do Bloco C (no corredor ao lado da reprografia). São mais de 40 pés de
cebolinha e uma outra verdura, semelhante a uma couve. Também dá para ver a
quantidade de microscópios que existem no laboratório de biologia — são mais de
10 — e o número de alunos que às 17h50 de uma quarta-feira, sem rede na Revi,
estudam nesse laboratório (havia uma única pessoa). É nesses dias que a “Tia”
Cida, a simpática senhora da cantina, sai pela porta dos fundos da cantina,
usando a touca branca de cozinheira, para mostrar, com orgulho, sua própria
horta. Ela planta cebolinha-verde (aos pares), pimenta (que brotam pelos pés),
batatas (que por algum motivo não vingam) e mamão (que a Tia Cida irá arrancar).
Dia sem rede na Revi é dia em que Thiago Vedana, o analista de suporte do Bom
Jesus, tem que passar a tarde no Laboratório IV, sede da Revi, para arrumar o
sistema. Em que Sílvio Melatti, um dos coordenadores da revista digital, cede
seu assento ao analista de suporte e abanca-se numa cadeira no centro da sala e
passa a ler um livro chamado “Repórteres”. Dia de Imara Stallbaum, outra
coordenadora, se obrigar a sair do laboratório e se abrigar em uma sala em que a
rede funcione.
O sistema foi restabelecido às 17h30, após quatro horas de trabalho de dois
técnicos do suporte. A causa não se sabe, mas a conseqüência foi o quase-dia
perdido de trabalho. Os bolsistas não puderam acessar os seus arquivos, os
coordenadores não puderam atualizar o site e as pautas cederam seu lugar à
leitura e à observação. Deixar a Revi sem rede é, como diria Gay Talese, deixar
Ferrari sem combustível, Picasso sem pintura, Sinatra sem sua voz, só que pior.
Na tarde do dia 26 de abril, o laboratório-sede da Revi ficou fora do ar das 13h30 às 17h30.