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Matéria 1995, publicada em 10/04/2006.


: Leonel Camasão

Mesa com comida vegetariana, servida na palestra

“A última escravatura é a animal”, diz Marly Winckler

Leonel Camasão


A Sociedade Mundo Vegan trouxe a Joinville no último sábado (9 de abril) a socióloga Marly Winckler, presidente da Sociedade Vegetariana Brasileira e coordenadora para América Latina e Caribe da União Vegetariana Internacional (International Vegetarian Union, IVU). Em palestra realizada na Livraria Midas, Marly, que não consome produtos derivados de animais há 23 anos, apresentou dados de pesquisadores, nutricionistas e estudos acadêmicos, justificando o vegetarianismo, sob três olhares: o impacto da dieta carnívora na saúde humana, no meio ambiente e na sociedade.

Para ela, “vegetarianismo é um regime alimentar que exclui todos os ingredientes que implicam na morte de um animal”. Existem diversas classificações dentro do vegetarianismo. Algumas pessoas não comem carne, mas mantém leite e ovos na dieta (os chamados ovolactovegetarianos). Já os vegans não consomem nenhum produto de origem animal (lã, gordura animal, leite, objetos estofados com penas etc.) e geralmente são ligados ao movimento punk (ou punk-vegan). Existem ainda os straight edges , que são como os vegans, mas também não consomem drogas e só fazem sexo por amor.

Segundo a socióloga, a dieta baseada primordialmente em carne é muito recente. Nas sociedades antigas, principalmente na Ásia, Oceania e América, a carne não era comida freqüente, até pela dificuldade de armazenamento. “Após o advento da globalização é que varias dessas sociedades, como na China e no Japão, começaram a comer mais carne de gado”, ressalta. Segundo dados apresentados na palestra, a Inglaterra é o país onde o movimento vegan está mais desenvolvido. Duas mil pessoas por semana se tornam vegetarianas nas terras da rainha Elizabeth. Além disso, 47 % da população do Reino Unido não come carne vermelha.

Toda a argumentação defendendo a dieta vegetariana baseia-se no princípio da ética. “Que direito nós temos de retirar um animal de seu habitat, de seu convívio, e fazê-lo sentir dor apenas para satisfazer nosso apetite?”, questiona Marly. Além disso, ela também remete a personalidades históricas. “Antes de 1840, os vegetarianos eram conhecidos como pitagóricos, em homenagem a Pitágoras, pai do vegetarianismo”, explica. Segundo o sítio vegetariano Sócrates, Leonardo da Vinci, Jesus Cristo, Albert Einstein e até Adolf Hitler eram vegetarianos.

Impacto ambiental

Segundo os dados apresentados pela socióloga, 23 % da terra cultivada no Brasil é usada para o plantio de soja. “Quem aqui come soja, eu pergunto? Quem?”, esbravejava. Metade da soja do país é exportada para a produção de ração para gado nos Estados Unidos. A outra metade fica para produzir ração para o gado brasileiro. O consumo de soja por parte dos vegetarianos é inexpressivo nas estatísticas da produção. São sete quilos de grãos para produzir um quilo de carne. Segundo o Centro de Estudos de Safras e Mercados (Instituto Cepa), num território de 3,5 hectares, em 4,5 anos, se produz 210 quilos de carne bovina. Nas mesmas condições, pode-se gerar 19 toneladas de arroz, 8 de feijão, 34 de milho, 23 de trigo e mais 32 de soja. Os dados são assustadores: 90% da soja produzida no mundo é destinada para alimentar o gado, assim como 80% do milho e 70% dos grãos em geral. Marly também destaca a questão da água: o que uma pessoa gasta de água tomando banho durante seis meses é suficiente para produzir apenas um quilo de carne. Os resíduos animais também são preocupantes. Dez mil cabeças de gado produzem excrementos equivalentes a uma população humana de 110 mil pessoas.

Campos de concentração

A socióloga refere-se às fazendas-indústrias onde se sacrificam os animais como “campos de concentração”. Foram 700 milhões de aves abatidas em 2002, apenas em Santa Catarina. Vídeos disponíveis na internet mostram a brutalidade e crueldade como esses animais são mortos. Um deles, o “Amo muito tudo isso”, referência à rede mundial de restaurantes Mc Donald’s, mostra cena a cena o abatimento das vacas, de forma crua.

Impacto na saúde

Segundo os nutricionistas Brenda Davis e Vesando Melina, uma dieta vegetariana reduz o risco de doenças crônicas e degenerativas, como cardiopatias, câncer, diabetes, obesidades, osteoporose, doenças da vesícula e hipertensão. Além disso, vegetarianos vivem em média de 6 a 10 anos a mais que o resto da população. “A maior prova viva de que não se precisa de carne para viver sou eu, aqui em pé, depois de 23 anos sem comer carne (ela tem 51)”. Ela também destaca a comunidade indiana. “Gerações e gerações de indianos vivem até hoje sem nunca ter comido carne na vida”, desabafa.

Teoria e prática vegetariana

Frutas, sucos naturais ou a base de soja, quibe de soja, bolo de chocolate sem leite, cucas de banana, sanduíches naturais, patês de maionese sem ovos e outros quitutes da arte vegetariana foram servidos. “Sempre buscamos servir comida vegetariana no final de nossas palestras, pois as pessoas sempre pensam que só comemos soja”, afirma a socióloga.

Manifestações no rodeio

Um dos visitantes da palestra e membro da Sociedade Mundo Vegan (SMV), Bruno Yokomizo, 17 anos (cinco de vegetarianismo), declara que conheceu esse tipo de alimentação mais saudável através dos amigos. Ano passado, a SMV organizou protestos contra o 1º Joinville Rodeo Festival. “Pretendemos ser bem mais ativos esse ano”, afirma.

Multimídia

Assista o vídeo “Amo muito tudo isso”, produzido pelo sítio sítio vegetariano

800x600. ©2005 Agência Experimental de Jornalismo/Revi & Secord/Rede Bonja.