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Matéria 1718, publicada em 03/03/2006.


:Lygia Veny

Policial circula entre pessoas com arma pesada

Ação da PM assusta baladeiros

Lygia Veny e Leonel Camasão


No domingo de carnaval, 26 de fevereiro, por volta das 17 horas, a Polícia Militar de Balneário Camboriú acabou com a festa Peace and Forest, realizada ao ar livre e com música eletrônica. Denúncias de que o evento não tinha autorização para acontecer fizeram com que os policiais fossem até a Chácara dos Amigos (antigo o sítio HR), próximo à BR 101. Estavam no local aproximadamente 400 pessoas, a maioria turistas, que pagaram pelos ingressos. Segundo nota publicada no jornal A Notícia, a festa foi interrompida porque os organizadores não tinham o alvará, autorização da Justiça e nem solicitado a vistoria dos bombeiros. Os seguranças também não possuiam carteira nacional de vigilante, documento obrigatório para que possam exercer suas funções.

O principal problema não estava no fato de a festa não acontecer, mas sim a forma de abordagem da Polícia Militar. Por volta das 15h30, ela entrou no local sem apresentar qualquer documento que explicasse o motivo do cancelamento da Peace and Forest. As pessoas foram mandadas embora sem nenhum tipo de argumento. Além disso, algumas foram abordadas com agressividade pelos policiais que entraram no local com armas pesadas. A violência chegou ao ponto de um policial pegar uma pessoa pelo pescoço, jogá-la contra a parede para revistá-la. Para Marcelo Casas, 32 anos, que estava na festa, a PM exagerou nas abordagens: “Eles não explicaram o porquê do cancelamento do evento. Entraram armados como se todos ali fossem bandidos. E mesmo que tivesse algum lá, deveriam pegar quem quisessem e mandar o restante ir embora. Sem agressão e pânico”, diz.

Dois policiais surpreenderam uma moça que filmava e fotografava a movimentação dos policiais. E, por causa disto, ela foi revistada, filmada por um cinegrafista da polícia e quase teve o equipamento apreendido. Com hostilidade, o policial perguntou:

“Você acha que a polícia está errada? Por que está registrando?”

Ela respondeu: “Não fiz nada de errado. O direito que vocês têm de me filmar é o mesmo que eu tenho de fotografá-los”.

Uma jornalista que assistiu a cena e não quer ser identificada questiona a imposição da PM. “Eles não perguntaram para as pessoas quem gostaria de ser filmado, mas muita gente foi. Por que aquela moça também não podia fotografar? Não fizemos nada de errado. E eles?”

Não foi apenas no litoral que a polícia agiu de forma abusiva. Em Joinville, a situação ainda foi pior, resultando na morte de um rapaz de 20 anos. Conforme matéria publicada no jornal A Notícia, Alexssandro Raulino foi denunciado por portar arma durante a festa do resgate do carnaval, no centro da cidade. O Grupo de Resposta Tática (GRT) alega que Alexssandro teria reagido, sacando um revólver calibre 32. A polícia revidou e o resultado foi um tiro no abdômen de Raulino. Porém, quando o corpo foi reconhecido havia mais três perfurações – duas no tórax e uma no braço. A vítima foi levada pelo próprio carro da GRT ao pronto socorro e não pela ambulância do corpo de bombeiros.

Outro lado

Caso uma pessoa sinta-se lesada física, psicológica ou moralmente por um policial militar, ela deve comunicar o fato imediatamente para a corregedoria do 8º Batalhão da Polícia Militar (8ºBPM). A orientação é do capitão Zelindro Ismael Farias, responsável pelo órgão. A corregedoria atua com policias a paisana (P2) para investigar as denúncias de abuso de autoridade.

O policial que cometer a infração pode, após a investigação, sofrer uma detenção, advertência, suspensão, perda da função e ser indiciado em processo criminal, cumprindo pena em prisão militar.

Segundo Farias, “a polícia é um reflexo da sociedade. Se o policial é violento, é porque o cidadão é violento. Se o policial é corrupto, é porque o cidadão é corrupto”. A falta de políticas para solucionar as diversas “mazelas sociais” contribuiria para essa “má formação” do cidadão.

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