No nomeado Ano Nacional de Promoção da Igualdade Racial, o povo negro, de herança escravocrata e discriminada, ainda é vítima de uma exclusão cujo único critério é a cor da pele. Em relação ao mercado de trabalho, a realidade não é diferente. “Em Joinville, é notório o racismo. Encontram-se exemplos em empresas privadas e repartições públicas”, ressalta Maria Laura Cardoso Eliotério, presidente do Instituto Afro Brasileiro de Joinville (IABJ)
Mesmo camuflado, o racismo ainda é a discriminação mais presente no país. “Apesar de não admitir, o brasileiro é preconceituoso”, afirma Maria Laura. Ela ainda revela que os negros não lidam com o preconceito por medo de manifestarem-se. Por isso, convicta, ela acredita que no momento em que os negros foram trazidos para o país arrancou-se também uma parte da coragem daqueles afrosdescendentes. “Só no século 20 que os afros se manifestaram, eles estão intensificando estudos sobre seus direitos e tornando-se mais preocupados com a união e a coragem que devem ter”, diz ela.
Apesar de não existirem estatísticas em Joinville, em supermercados, por exemplo, não se encontram negros em cargos gerenciais. Entretanto dados do IBGE sobre a década de 90 revelam que os negros ingressam no mercado mais cedo e trabalham duas horas a mais que os brancos. Nessa época o país teve transformações diversas no mercado de trabalho, mas manteve a elevada concentração de renda brasileira nas mãos de poucos brancos.
Nem através do aumento da escolaridade os negros conseguiram elevar o nível econômico familiar. Embora a taxa de analfabetismo tenha caído para todos em geral, em 1999, - para pretos e pardos decresceu 20% e para brancos, 8,3% -, o aumento dos anos de estudo correspondeu a uma elevação de somente meio salário no rendimento de pretos e pardos e 1,2 salários no rendimento de brancos. O resultado de uma pesquisa encomendada pelo Instituto Sindical lnteramericano pela Igualdade Racial (Inspir) ao Departamento lntersindical de Estatísticas e Estudos Sócio-Econômicos (Dieese), comprova que a cor exclui do mercado de trabalho negros em todas as regiões do país.
A disparidade do mercado de trabalho necessita de uma ação afirmativa que influencie o próprio mercado. Segundo Liane de Almeida Cidral, é preciso cumprir a legislação trabalhista – que regulamenta as relações do mundo do trabalho - e o artigo 5º da Constituição Federal. Ela afirma, como analista de recrutamento da empresa RHBrasil, que no ramo da consultoria não se admite discriminação racial. “Se existe a realidade discriminatória dentro das empresas, nada é exposto à consultoria, pois se trabalha com recrutamento sistematizado”, defende Liane. Entretanto, é característica da prática racista no mercado a demora ou a falta de resposta a uma entrevista em que o candidato reúna todos os quesitos necessários para o preenchimento da vaga, mas que seja afrodescendente. Assim, em Joinville, o Centro de Direitos Humanos (CDH) divulga que são poucos os registros de discriminação racial no mercado de trabalho da cidade. Irma Kiniess, diretora do centro, informa que há pouca denúncia por causa do medo que os negros têm de serem posteriormente punidos, com mais desrespeito ou até demissões.