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Matéria 0957, publicada em 04/03/2005.


Obra de Nelson Rodrigues é analisada em monografia

Jessé Giotti

Na construção de sua monografia, Sabrina Passos, 22 anos, utilizou-se das obras de Nelson Rodrigues, mais precisamente as publicadas entre 1928 e 1935 nos jornais A Manhã, Crítica, O Globo e Última Hora, além de textos assinados com o pseudônimo de Myrna, editados no Diário da Noite. Apoiando-se em teóricos como Roland Barthes e Michel Foucault, a acadêmica analisou e tentou descobrir os movimentos criativos do “jornalista pornográfico”.

A apresentação será nesta sexta-feira, dia 4, a partir das 21 horas, no anfiteatro do Ielusc.  O trabalho foi desenvolvido sob a orientação do professor de comunicação Alexandre Silva. Na banca avaliadora estarão os professores Pedro Russi Duarte, de Semiótica, e Luís Felipe Soares, de Antropologia, todos, docentes na instituição.

Sabrina disse que a intenção foi “discutir, principalmente, a autoria como função”. Interessada em sanar suas dúvidas em relação ao processo autoral no jornalismo - já que para ela há um excesso de normas de estilo que restringem as construções textuais, dificultando o processo autoral – a autora buscou reconhecer as possibilidades de haver um jornalista-criador.

Um ponto de sua monografia, que segundo a acadêmica merece destaque, é a maneira como se desenrolou o esclarecimento da dúvida que a incomodava a respeito de como Caco Coelho, no livro “O baú de Nelson Rodrigues”, teria conseguido identificar mais de 600 textos apócrifos como sendo de Nelson. Para ela, isto foi de grande relevância, pois perpassou todo o seu processo de construção intelectual do texto. A partir daí, a alternativa que lhe apeteceu foi criar três categorias hipotéticas, num primeiro momento, onde Nelson deveria ser considerado por diferentes perspectivas.

Na primeira categoria analisou-se o autor “infame”, o anônimo; na segunda, o autor sob o pseudônimo de Myrna; e a terceira deveria dar conta do Nelson Rodrigues “olimpiano” (termo cunhado pelo pensador Edgar Morin, em referência aos deuses do Olimpo, que no caso indicaria “o célebre”). “Caco Coelho, para construir sua seleção de textos anônimos, precisou do Nelson olimpiano. Sem isso, os textos do Nelson anônimo provavelmente não seriam descobertos, não sairiam do anonimato, permaneceriam infames, e é aí que reside a grande dificuldade e beleza desta análise”, avalia Sabrina. E arremata: “Minha hipótese é que tanto o estilo no infame quanto o anti-Nelson nos pseudônimos são, em níveis diversos, invenções de um mesmo e único movimento criativo”.

Conta a estudante que levou cerca de dois anos pesquisando, pensando e discutindo o tema com professores para conseguir estruturar seu trabalho, dar forma a um conteúdo impreciso. E pela alta exigência de abstração, decidiu-se pelo ensaio, um estilo de texto que permite maior flexibilidade em sua produção e torna mais fremente o processo criativo. E alerta para a necessidade do acadêmico dar especial atenção às disciplinas teóricas, porque estas potencializam toda prática posterior – com ênfase para a monografia. E também ampliar a gama de olhares para que o acadêmico não se torne mais um dos “idiotas da objetividade”, como dizia o próprio Nelson.

800x600. ©2005 Agência Experimental de Jornalismo/Revi & Secord/Rede Bonja.