O Brasil tem hoje cerca de 27 milhões de cães e 11 milhões de gatos de estimação. Um dos setores que mais cresce no mercado de serviços é o das pet shops, e deve o seu sucesso ao grande número de clientes. Segundo a edição da revista Pequenas Empresas Grande Negócios de janeiro de 2009, no Brasil existem cerca de 10 mil pet shops, número que deixa o país atrás somente do Japão e dos Estados Unidos em termos mundiais.
O mercado atrativo faz com que as pet shops ofereçam serviços diversificados para seus clientes. Além dos tradicionais enfeites nos pêlos, roupinhas, coleiras, etc, a estética é cada vez mais explorada com os animais. Desde tintura nos pêlos ou hidratação, até spa, com direito a banhos relaxantes no ofurô. Há muito tempo os tratamentos de beleza não são exclusividades dos seres humanos. Fora do Brasil, a invenção que chama a atenção é a máquina de lavar cães e gatos.
Dog-o-Matic
Para facilitar o processo de banho, surgiu na Espanha, na década de 90 a máquina de lavar cães e gatos. A Dog-o-matic chegou nos Estados Unidos em 2000 e o banho custava cerca de US$ 15 – ou 27 reais. No último ano, uma invenção semelhante foi atribuída ao francês Romain Jarry, a máquina na França funciona a base de moedas e o banho custa 12 euros (cerca de 28 reais) para animais de pequeno porte e pode chegar a 30 euros (equivalente a 70 reais) para os de grande porte. Em março deste ano, os sites de notícia brasileiros destacaram a mesma máquina, agora no Japão, o banho custa US$11 (em torno de 20 reais).
Apesar de ter surgido em ocasiões e lugares diferentes, o invento segue o mesmo princípio. O animal é colocado dentro da máquina, recebe jatos de água e shampoo que não irrita os olhos durante cinco minutos. Depois de lavado o pet passa cerca de 20 minutos sob ar quente. O dono pode acompanhar o processo e pará-lo se achar necessário. A Dog-o-matic não está disponível no Brasil.
Banho convencional
Diferente da facilidade oferecida pela máquina, dar banho em animais é uma tarefa que necessita paciência e habilidade. O processo difere um pouco de uma pet shop para a outra, e de um banho em casa. Entretanto, ambas as formas necessitam cuidados especiais.
Segundo a proprietária de uma pet shop, Amanda Brandão, o processo de banho leva em média 40 minutos para animais de pequeno porte, dependendo do tamanho do pêlo. Os cães e gatos de pêlo longo, passam por uma escovação antes do banho, evitando os nós. O animal é molhado no tanque específico e recebe uma aplicação de neutralizador de odores, compatível com a cor da pelagem ou neutro. Depois do enxague, é aplicado o condicionador e o pet é novamente lavado.(foto acima)
Para secar, o bicho pode primeiro passar por uma máquina, que funciona como uma estufa, (foto abaixo) por algum tempo mas, o esteticista canino Mário Sérgio de Oliveira, lembra que não é suficiente. “A máquina seca até 80%, mas o resto do processo precisa ser feito manualmente”, conta.
A parte final do processo é feita com um soprador de ar para secar o que não ficou totalmente pronto. Nessa etapa também é feita a escovação dos pêlos, o corte (se necessário), os ouvidos são limpos e as unhas, cortadas. Depois é só enfeitar, com laços, lenços, gravatas, adesivos e até unhas e pêlos pintados, e os animaizinhos saem da pet shop como se saíssem do salão de beleza (foto abaixo). O banho para animais de pequeno porte custa, em média, R$25.
Controvérsias
Enquanto fora do país a máquina de lavar pets faz sucesso, no Brasil não são todos que esperam por ela. Para Mário esta é uma nova forma de desmerecer o seu trabalho. Há dois anos, a profissão que existia para registro era unicamente a de tosador. Agora existe auxiliar de banho e tosa mas segundo o esteticista canino, algumas pet shops preferem registrar seus funcionários como auxiliar de serviços gerais. “A máquina é um processo artificial, não substitui o trabalho de alguém”, diz.
Thuise Simões, dona de dois poodles e um dog alemão, não acredita na eficiência completa da máquina. Ela costuma dar banhos em casa e leva seus animais de estimação à pet shop quando precisam ser tosados. Thuise lembra que certos cuidados, como observar se estão com pulgas, só são possíveis em banhos manuais. “Acredito que seria a mesma coisa com os cachorrinhos, assim como com algumas roupas que não têm o mesmo efeito lavadas em máquina”, conclui.
O chow chow de Jefferson Vinícius Falcão toma banho em pet shop uma vez por semana e leva 50 minutos para ficar pronto. Para Jefferson, a máquina deve garantir a mesma eficiência de um banho dado por um profissional e uma vantagem é a de que o cachorro não tem tanta chance de ser agredido, como acontece em alguns estabelecimentos.
A interação com o animal e a diversão na hora do banho são fatores essenciais para Alessandra Betina Gastaldi dona de um vira-lata, um rottweiler e um pastor alemão. Ela afirma que o banho na Dog-o-matic é uma maneira cruel de deixar os animais limpos, e não confiaria seus bichinhos à máquina.
Palavra de veterinário
A veterinária Ana Carolina de Oliveira é favorável a banhos da forma convencional. Ela explica que o processo já é um tanto traumático para os animais, e quanto maior for a interação, o carinho entre o bicho de estimação e a pessoa que dá seu banho, melhor.
Alguns dos problemas que a máquina pode acarretar, segundo a veterinária, estão relacionados com os jatos de água e shampoo, a temperatura e o barulho. Os olhos e ouvidos dos animais são muito sensíveis, e o bichinho pode adquirir uma conjuntivite química, por exemplo, causada pelo contato com o shampoo. A temperatura também influencia, quando muito elevada causa hipertermia, além de paradas respiratórias e cardíacas. Quanto ao barulho, Ana lembra que os animais ouvem cerca de seis vezes mais que os seres humanos e ficarem presos a uma máquina prejudica sua audição.
Além dos problemas de saúde, a veterinária considera a qualidade de um banho manual superior ao da Dog-o-matic. “Acredito que a máquina só é benéfica para o dono da pet shop para economizar no número de funcionários”, conclui.