Revi Bom Jesus/Ielusc

>>  Joinville - Sábado, 20 de abril de 2024 - 03h04min   <<


chamadas

Matéria 9479, publicada em 30/03/2010.


:Divulgação

De Pomerode, a Schornstein já explora o mercado paulista

Cervejas com sabor catarinense

Francine T. Ribeiro



Santa Catarina é famosa, entre outras coisas, por suas belezas naturais, por sua culinária típica e por suas tradições. Mas, além disso, o estado também mostra excelência quando o assunto é cerveja. Sejam elas artesanais ou industriais, as cervejas catarinenses são referência para o resto do Brasil. A composição e os processos de fabricação as diferenciam atraindo, assim, consumidores exigentes de todo o país.

Em Joinville, as cervejarias aparecem em um capítulo antigo da história da cidade. Segundo registros, a Schmalz foi a primeira cervejaria da cidade e a primeira cerveja catarinense, fundada em 1852. Somente em 1860 é que Blumenau teria produzido sua primeira cerveja. Seis anos depois, localizada no centro da cidade de Joinville, a Cervejaria Kuehne iniciava suas atividades. A tradição de produzir uma bebida de boa qualidade era passada através de gerações e esse foi o caso da Cervejaria Tide, construída em 1915 e presenteada de pai para filho. A sua produção estendeu-se até 1930 quando, numa junção de fabricantes, surgiu a Cervejaria Catharinense, localizada na atual rua 15 de Novembro.

Em 1948, chegava à cidade a Antarctica, tomando posse da Cervejaria Catharinense. O nome fantasia permaneceu e a marca precisou de tempo para se consolidar. Gradativamente o prestígio foi sendo alcançado e a cerveja produzida em Joinville ganhou fama por todo o país. A intenção da Antarctica era permanecer na cidade e, em 1989, o projeto de uma nova fábrica que ofereceria uma grande produção mensal fazia o objetivo possível de ser alcançado. Seis anos mais tarde, em 1995, no entanto, a produção já não conseguia mais suprir a demanda estadual, o sonho da expansão da fábrica tornou-se inviável devido a impasses políticos e a fábrica integrou-se à AmBev.

Sabor local

Atualmente, Joinville conta com uma nova cervejaria. Fundada em 2006 com o objetivo de resgatar a tradição joinvilense de produzir boas cervejas, a Opa Bier é uma das mais conhecidas cervejas da região. Segundo Elmar Schmitz de Alvarenga, gerente da fábrica, a marca produz mensalmente cerca de 70 mil litros divididos entre os chopes pilsen (de coloração dourada) e porter (mais escuro) e as cervejas especiais. A comercialização desses produtos teve início em Joinville, mas hoje é possível encontrar a marca também em Florianópolis, Jaraguá do Sul, Blumenau, São Bento do Sul, São Francisco do Sul e Curitiba. Desde julho de 2009, com o início da produção de cervejas especiais, a distribuidora Sardagna tornou-se responsável pela comercialização nos estados de Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul.

Apesar de contribuir com a economia da cidade, a Opa Bier não obteve nenhum incentivo por parte da prefeitura, nem do governo do estado para a sua instalação. Ainda assim, Alvarenga revela que não faz planos para a abertura de filiais em outras cidades ou estados, mas deixa clara a intenção de realizar parcerias com outras empresas. Além da fábrica – localizada no distrito de Pirabeiraba – a empresa também oferece os serviços do bar da cervejaria. O Parque Opa, localizado na rua Max Colin, no bairro América, conta com quatro restaurantes que servem os produtos Opa Bier (abaixo, na foto).


Localizada em Pomerode, no vale do Itajaí, a Schornstein é feita artesanalmente e esse processo de produção faz com que a cerveja se diferencie. Segundo Maurício Leite Zipf, sócio-proprietário e diretor executivo da cervejaria, as principais diferenças entre as empresas artesanais e as grandes cervejarias industriais são as matérias-primas utilizadas. A maioria dos produtos artesanais segue a chamada Lei de Pureza Alemã, que determina o uso de apenas quatro ingredientes na fabricação da cerveja: o malte, o lúpulo, o fermento e a água. As cervejas industriais, por outro lado, levam cereais não-malteados como o milho e o arroz, além de diversos elementos químicos que aumentam o prazo de validade do produto e dão a ele certas características. Outra diferença está no tempo do processo de fabricação: enquanto uma cerveja industrial demora cerca de seis dias para ficar pronta, uma cerveja artesanal do tipo pilsen – o mais tradicional – leva de14 a 22 dias, prazo que pode variar muito de acordo com os diferentes estilos de cerveja produzidos. A Imperial Stout da Schornstein, por exemplo, fica pronta apenas 45 dias após o início do processo.

Em expansão

A Schornstein mantém uma fábrica também no interior de São Paulo e, apesar de estar no início das atividades, sustenta grandes expectativas. Zipf explica que o mercado consumidor para esse tipo de produto em São Paulo é consideravelmente superior ao de Santa Catarina e a concorrência direta é menor, levando em conta que o grande número de cervejarias artesanais catarinenses. O público consumidor nas regiões em que a Schornstein está direcionando esforços – Capital e Campinas – é diferenciado, possui um poder aquisitivo médio superior ao público catarinense e está ansioso por novidades no setor cervejeiro, diz o diretor executivo.

A maior prova do gosto do brasileiro por cervejas artesanais pode ser representada pela Oktoberfest. Atraindo pessoas de diferentes lugares do país, em 2009 a festa reuniu um público de aproximadamente 214 mil visitantes, número próximo ao de habitantes do município, que é de 296.151 pessoas. Na última edição da festa, além do chopp Brahma (seu fornecedor oficial), outras marcas faziam parte da lista de consumo: Schornstein, Das Bier, Einsenbahn, Bierland, Opa Bier e Wunderbier são todas cervejas produzidas em Santa Catarina. A reportagem da Revi buscou contato com outras marcas, mas não obteve retorno significativo até o fechamento desta matéria.

À espera da lei

No fim de 2009, foi sancionada uma lei em Santa Catarina que reduziria de 25 para 13% o ICMS das cervejarias artesanais que produzissem até 200 mil litros de chope por mês e cujo teor de malte fosse superior a 80%. Maurício Zipf esclarece que, apesar da boa vontade do governo em apoiar a causa das cervejarias artesanais, esses benefícios ainda não foram percebidos pelos produtores. O atraso deve-se à demora da Secretaria da Fazenda em estabelecer procedimentos operacionais para determinar quais cervejarias se enquadram no perfil exigido. Portanto, até agora nenhuma cervejaria artesanal de Santa Catarina foi beneficiada na prática e os cervejeiros ainda aguardam os efeitos da lei.

800x600. ©2005 Agência Experimental de Jornalismo/Revi & Secord/Rede Bonja.