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Matéria 9463, publicada em 17/03/2010.


:Izani Mustafá

Hüttl cuidando das flores em 2008

A voz do compadre Mario Hüttl se calou

Izani Mustafá *



A voz rouca, alegre e cativante do radialista Mario Hüttl se calou nesta manhã de quarta-feira, dia 18 de março, às 7h30, no hospital Bethesda de Pirabeiraba, onde estava internado desde 1º de março. Tinha apenas 74 anos e se tornou um dos locutores mais populares de Joinville por apresentar o programa Casinha de palha na rádio Difusora AM (1480). Trabalhou até 7 de outubro de 2009, quando completava 59 anos de atividades na emissora onde começou com o fundador Wolfgang Brosig e a esposa Juracy, em 1950. Certamente, a morte de Hüttl tenha sido provocada por uma grande tristeza de não poder mais conversar com os seus queridos ouvintes. No ano passado, quando foi afastado do programa e da emissora, faltavam poucos meses para ele completar 60 anos de vida na radiodifusão.

Hüttl era brincalhão por natureza e, durante o programa a espontaneidade aflorava. Assim, o compadre Mario, como era conhecido, conquistou milhares de ouvintes e fãs de Joinville e região Norte do estado. Sempre gostava de conversar ao vivo com as pessoas que acompanhavam Casinha de palha, que nos últimos anos ia ao ar das 17h30 às 18 horas. Tempos atrás, o espaço na emissora era bem maior, o suficiente para mandar muitos abraços, brincar e rodar músicas sertanejas. Era uma época em que o radialista também convidava os músicos para cantar suas canções ao vivo na rádio. Segundo ele, não havia roteiro prévio e tudo acontecia de acordo com os ouvintes. Ao final de cada programa afirmava “sorria, Deus gosta de você!”.


Conheci o radialista Mario Hüttl (foto acima, à esquerda) quando trabalhei na Difusora entre 2000 e 2003 e ficava impressionada com o número de músicos e ouvintes que se enfileiravam nos corredores e na porta do estúdio da rádio. Admirava o carisma do compadre e quando escolhi as fontes orais da minha dissertação em História intitulada Alô, alô, Joinville! Está no ar a Rádio Difusora! A radiodifusão em Joinville (1941-1961) e publicada em livro, não tive dúvidas de que ele seria uma delas. Entre março e abril de 2008, fui quatro vezes à sua casa para entrevistá-lo. Estava sempre de bom humor e se orgulhava de ser um dos radialistas mais populares da cidade. Afinal, afirmava “rádio é uma cachaça”. Adorava os filhos Juliana e Marcelo, do primeiro casamento com Úrsula, e Andréia, filha do segundo casamento com Érika, e sempre citava-os no meio das conversas.

O compadre Mario nasceu dentro de uma família pobre e de origem alemã. Numa das entrevistas, recordou-se do tempo da Campanha de Nacionalização que proibia a comunicação em língua alemã. Em casa, lembrava ele, a mãe conversava bem baixinho em alemão. O início de sua carreira na rádio Difusora aconteceu meio por acaso: num certo dia, quando tinha 14 anos e entregava remédios para a Drogaria Catarinense, foi atender Brosig e perguntou se tinha alguma vaga na emissora. No dia seguinte já estava na rádio que funcionava na Rua do Príncipe, no edifício Colon, cuidando do transmissor. Cuidou da cabine de transmissões por seis anos e depois foi promovido a operador técnico. Quem sugeriu que ele fosse para a locução foi a radialista Ruth Costa. E assim ele começou apresentar o Parabéns, parabéns, um programa dominical que antecedia as transmissões esportivas.


Em seguida, começou a substituir alguns colegas na locução e, em 1958, Hüttl (foto acima) ganhou o primeiro programa para apresentar, o Musical porcelana que ia ao ar todos os dias, das 20 às 21 horas. O Capelão de Nova Brasília (apelido que ganhou do locutor e depois ator da Rede Globo Fausto Rocha Júnior) também foi responsável pelo Retreta na praça, um programa germânico. Ao lado de Manoel Alves Silveira, o Manduca, ele apresentou o Manhã sertaneja das 6 às 7 horas. Juntos, já na década de 1970, fizeram o plantão policial transmitido às 6h15. A voz do compadre Mario foi ouvida em diferentes programas por 59 anos, na mesma emissora onde começou a trabalhar. Como reconhecimento pelo seu trabalho na radiodifusão de Joinville, em 8 de novembro de 2006 recebeu o título de Cidadão Benemérito da Câmara de Vereadores. Muitos ouvintes já sentiam saudades porque o programa Casinha de palha acabou. Agora, infelizmente, a voz do compadre Mario se calou nesta vida.

As quatro entrevistas feitas com Mario Hüttl para a pesquisa de dissertação foram gravadas. Para quem gostava da voz rouca do locutor mais popular, destaco das gravações alguns trechos sobre diferentes assuntos. Para ouvi-los, basta clicar nos links abaixo:

O início na rádio Difusora

O trabalho nos transmissores

Wolfgang e Juraci Brosig

Os primeiros programas

Casinha de palha


* Jornalista, professora das disciplinas de rádio no curso de Jornalismo do Bom Jesus/Ielusc.

800x600. ©2005 Agência Experimental de Jornalismo/Revi & Secord/Rede Bonja.