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Matéria 9448, publicada em 15/03/2010.


:Francine T. Ribeiro

Versatilidade e bom humor são marcas do artista

Uma vida de arte e criação

Francine T. Ribeiro



Ele nasceu e passou e infância em Curitiba, capital do Paraná. Nessa época, era apenas desenhista. Aos 15 anos, mudou-se para Francisco Beltrão, interior do estado, para morar com a avó. Lá, começou a fazer fanzines e vendia os espaços para pagar a impressão e divulgar seu trabalho. Nessa época, ainda não pintava os desenhos que fazia e usava somente o lápis e a tinta nanquim, mas já possuía muitas ideias e histórias para contar. Em Curitiba, esteve na Agenda Arte, uma publicação que contém poesias, desenhos e fotos. A irmã morava em Joinville e, com intenção de apenas visitá-la, o artista Humberto Soares veio para a cidade, onde permaneceu e mora há 11 anos.

Ao chegar, procurou a direção do Shopping Cidade das Flores para realizar sua primeira exposição de nome Perfeição. Eles toparam. “Fiz uma instalação que dava ideia de uma floresta, com folhas e sons de animais”, relembra, sorrindo. Ele buscou patrocínio para fazer folders que divulgavam o seu trabalho, e os entregava durante a exposição.

A partir da exposição, Humberto obteve reconhecimento e visibilidade através de matérias vinculadas na imprensa estadual. O artista foi convidado por um casal de Jaraguá do Sul para pintar uma parede. O tema? Natureza, a qual ele é muito ligado. Sobre ela, Humberto lamenta o que vivemos atualmente: “Destruímos tanto que não tem mais volta”. Como artista, ele cria muitas histórias ligadas ao tema.

Natureza, fadas, duendes. Este tipo de inspiração veio do livro O encanto do mundo das fadas, de Ted Andrews. “Os seres encantados são a alma da natureza”, afirma o artista. Ele conta nunca ter visto nenhum ser encantado, mas sente sua presença em tudo que é da natureza.

Depois de sua bem-sucedida exposição, Humberto deu aulas de histórias em quadrinhos na Casa da Cultura. Foi pioneiro na cidade, o que possibilitou um fortalecimento de sua carreira. Na mesma época, deu aulas também no Círculo Operário de Joinville. Foi na Casa da Cultura que ele conheceu uma aluna, a publicitária e escritora Luciane Nascimento. Com ela, realizaria uma parceria que perdura até hoje. Luciane é a sua roteirista.

Mas apenas ilustrar as histórias não satisfazia completamente o artista. “Queria que minha arte saísse pelo meu corpo”, revela. Foi quando Humberto percorria as ruas da cidade caracterizado de duende. “Saía com uma caixinha e fazia minha própria divulgação”, relembra. Tirar os personagens das páginas dos quadrinhos também fez com que ele fosse lembrado pelo público. Apesar de não participar de nenhum grupo de teatro, foi nesta época que Humberto conheceu alguns atores e diretores. A partir daí, fez cenários e maquiagens para o palco. Mais tarde, criou novos personagens e o duende que saía pelas ruas da cidade ganhou um nome: Aquarelo .

Depois da criação de novos personagens, Humberto passou a pintar discos de vinil, chamados por ele de Discoloridos. O shopping, palco de sua primeira exposição, deu espaço aos seus novos trabalhos, com a mostra Flores Astrais. “A música vira um quadro, e isso é mágico”, diz, sorrindo.

Uma parceria que surgiu nesta época e dura até hoje foi com a livraria O Sebo, onde ele também promovia cursos de histórias em quadrinhos e realizou exposições dos discos. Neste período, Humberto escreveu muitas histórias e criou vários personagens: “Parecia que as fadas cochichavam histórias em meus ouvidos”.

Após o duende Aquarelo, Humberto produziu outras obras, entre elas Sorocopo, Taionará e Cidade da Chuva. “Joinville é muito inspiradora. É a cidade dos príncipes, das flores, das bicicletas e da chuva”, repete. Para contar suas histórias, Humberto criou o Mago Hum.

Outra famosa criação de Humberto Soares foi o personagem Tatuí, que completa oito anos, mas que primeiro ganhou visibilidade nas tirinhas publicadas em A Notícia, no extinto caderno Ciranda das Letras. Luciane Nascimento, sua parceira desde os tempos da Casa da Cultura, continuou sendo sua roteirista e diagramadora. Com o sucesso, a atriz Vera Secco deu vida ao personagem no teatro e Tatuí passou das páginas do jornal para os palcos. Quando Vera mudou-se da cidade, no entanto, foi a vez do criador encarnar a criatura: “Foi um desafio ser o Tatuí”, afirma Humberto.

A cantora joinvilense Ana Paula da Silva, amiga e parceira de Humberto, produziu diversas músicas para seus personagens. Ao fim de cada contação, Ana Paula cantava a música correspondente e Humberto o desenhava. Para ele, desenhar ao vivo mostra todo o processo de construção do personagem, e isso é muito importante para as crianças. Da parceria com Ana Paula, em 2008, foi lançado o livro-CD Contos em Cantos.

Outras parcerias de sucesso deram vida a outras publicações: Ovo Mágico, de Jorge Luiz Hoffmann, e Yoga com os Bichos, de João Soares, tiveram Humberto como ilustrador. Recentemente, criou seu novo personagem, Hum Milionário, e já tem 13 espetáculos diferentes. Para suas contações, adora usar músicas. Segundo o artista, as histórias abordadas, muitas vezes, são relacionadas com temas evitados por outros contadores.

Sua rotina de artista e seus projetos podem ser conferidos em seu blog. Humberto vive de arte e acredita que essa necessidade fez com que se tornasse um artista completo. Contador de histórias, pintor, ilustrador, professor...

Este ano, o professor voltará a ser aluno. Ele inicia a faculdade de Artes Visuais e está entusiasmado. “Mesmo com medo do novo, eu fiz”, comemora.

No fim de 2009, o artista foi premiado com o incentivo do Mecenato da Fundação Cultural de Joinville (FCJ). No mês de outubro, o livro de seu personagem Tatuí será lançado. A nova etapa na vida do artista começa a ser traçada com a expectativa de cada vez mais sucesso. Com muita arte e natureza, sempre.

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