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Matéria 9439, publicada em 05/03/2010.


:Francine T. Ribeiro

Luiz Mendes questionou a arte como forma de resistência

Pesquisa sobre arte encerra temporada de monografias

Emanoele Girardi



Para fechar a primeira temporada de monografias de 2010 na Comunicação Social, Luiz Donizete Mendes, aluno de Jornalismo, apresentou na quinta-feira (4 de março) o trabalho “Aberturas da arte: comunicação, resistência e outras possibilidades”. A apresentação teve início às 17h15 e se estendeu até as 19 horas. Na plateia estavam apenas dois familiares e outros dois alunos da instituição. A pesquisa foi orientada pelo professor Gleber Pieniz e avaliada pelo professor e coordenador do curso, Silvio Melatti, e pela professora do curso de Artes Visuais da Univille, Nadja de Carvalho Lamas.

A vontade de pesquisar o tema surgiu de uma inquietação que Luiz teve durante uma aula, enquanto lia Gilles Deleuze anunciar que não havia comunicação na obra de arte. A maior preocupação do estudante durante a pesquisa foi não cair em lugares comuns, já que a arte é um tema bastante discutido. Além de fragmentar o estudo e ter que dar uma grande atenção ao estatuto da arte – ou seja, explicá-la – ele teve que por à prova as obras que escolheu para analisar não só de maneira técnica.

Luiz chegou à conclusão de que qualquer objeto pode se tornar uma obra artística, mas para isso é preciso entender o estatuto da arte. Ele comentou que a ideologia nas obras chamou muito a sua atenção e deixaram-lhe curioso as maneiras através das quais a mensagem é transmitida e entendida. Ao optar por duas formas diferentes de manifestação de arte para estudar – dois poemas e duas pinturas – falou sobre a questão da condição humana sobre “como o absurdo e o terror podem ser retratados de forma bela”. Em sua apresentação, Luiz falou sobre a responsabilidade do artista, acreditando que mesmo sem querer dizer nada, o criador comunica e, assim se torna responsável por aquilo que “diz”. O estudante encerrou sua fala mostrando as obras escolhidas e explicando que quanto mais abstrata for a obra de arte, mais aberta ela é e mais informação pode carregar.

As obras escolhidas para a análise foram as pinturas El 3 de mayo de 1808 em Madrid: los fusilamientos en la montaña del Príncipe Pio, de Goya, Guernica, de Pablo Picasso, além dos poemas Fuga sobre a morte, de Paul Celan, e O bicho, de Manuel Bandeira.

“A forma que optastes para escrever, como ensaio, foi bem escolhida para desenvolver essa ousadia”, elogiou a professora Nadja. Apesar de achar que o estudante conseguiu contestar Deleuze, Nadja não concordou com Luiz e provocou: “Pensaste alguma vez que o artista pode não ter a intenção de comunicar?” Ela explica que a relação do artista com a criação é mais profunda e o mesmo se preocupa, na opinião dela, com o que está fazendo no momento – ou seja, o artista não tem uma intenção propriamente dita. Luiz concordou, dizendo que o artista pode não ter intenção, mas quando a obra é reconhecida, ganha status próprio e o sentido dela não pertence mais ao artista. Nadja concluiu elogiando a determinação de Luiz por estudar um assunto que não se esgota nunca e que é difícil de definir, a arte.

Sílvio Melatti disse que precisaria ler mais para avaliar melhor o tema, mas agradeceu pelo convite da avaliação. O professor utiliza o exemplo de Chico Buarque para contestar o trabalho de Luiz quanto à arte comunicar: lembra que quando Chico parou de escrever letras que remetessem à ditadura militar e passou a escrever sobre amor, as pessoas ainda procuravam significados em suas músicas. “As pessoas não entendiam, ele só queria falar de amor... Não achas que, com esse exemplo, tua tese cai por terra?” Luiz, convicto de sua proposta, respondeu que falar de amor não é menos que falar da ditadura, “ele ainda tinha algo para falar”, disse, reiterando a crença na intencionalidade do artista. O estudante lembrou, ainda, que não existe só a comunicação direta, mas há maneiras mais difusas e era esse o aspecto que ele queria transmitir com a pesquisa. Melatti comentou sobre o medo de errar e a insegurança do estudante e concluiu, sugerindo a aprovação: “Uma proposta ousada, mas madura, de um pesquisador que está se lançando”.

A longa espera e as risadas de nervosismo valeram a pena com o resultado da apresentação: o trabalho recebeu nota 9,0 e foi indicado pela banca para publicação na biblioteca.

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