A cidade das bicicletas há muito vem perdendo o verdadeiro significado
desse título. Apesar da forte influência da cultura germânica preservada em
alguns aspectos da população e da infra-estrutura, Joinville tem trocado as
típicas “magrelas” – antes, usadas como meio de transporte – pelos automóveis.
Mesmo que a característica funcional desse veículo se perca ao longo dos anos, o
cicloturismo tem despontado como uma opção para os amantes do ciclismo. Essas
pessoas formam grupos e organizam passeios ou viagens mais longas com o intuito
de preservar a pedalada como forma de lazer, atividade física e mental, além de
colaborar no aspecto ambiental, preservando a natureza.
No Dia Mundial
Sem Carro, 22 de setembro, o objetivo é deixar por um dia a loucura dos
trânsitos interditados e optar por transportes alternativos como forma de
preservar o meio ambiente e a saúde pessoal. O Movimento Pedala Joinville (MPJ)
– do qual participam pessoas de 10 a 70 anos adeptas do uso da bicicleta – é
parte atuante nessa manifestação e busca conscientizar a outra parcela da
população para as alternativas aos motores poluentes e ao tráfego agressivo.
Nessa terça-feira, o grupo faz um passeio de bicicleta em comemoração ao Dia
Mundial Sem Carro. A concentração acontece na praça Nereu Ramos às 18h30, com
saída prevista para as 19 horas. Toda a comunidade pode
participar.
Joinville em duas rodas
A história do Pedala
Joinville começou em 2007. Na véspera da manifestação do Dia Mundial Sem Carro,
o grupo de amigos que costumavam pedalar juntos conseguiu 20 mil panfletos que
distribuíram para tentar reunir um grande número de pessoas e conscientizar para
a importância da data. “O legal é que, mesmo sendo um sábado, a adesão foi
grande”, lembra o presidente do MPJ, Laércio Batista Júnior. Nesse mesmo ano, a
entidade foi registrada e o processo de associação, agora, é de forma cadastral.
Segundo Batista, o intuito do movimento é estimular o uso da bicicleta como
transporte e lazer, prezando pela segurança, e nesse caso, significa que além de
reivindicar melhorias nas ciclovias, é preciso educar ciclistas e motoristas
para que harmonizem suas relações. “Não quer dizer que precisamos somente de
ciclovias, mas sim de educação, o hábito do uso, colocar as bicicletas na rua,
senão não justifica as ciclovias que já temos e que teremos”, diz.
O
grupo tem hoje mais de 300 membros e age também como um meio de interação entre
diferentes adeptos do ciclismo. Sem limite de idade e sem contra-indicações, os
integrantes do Pedala Joinville comentam os benefícios do cicloturismo.
“Consegui controlar o estresse do trabalho e obter maior resistência para
atividades físicas”, revela o especialista em materiais Maurício Silva Antão,
que foi motivado a participar do grupo por seus amigos de trabalho e por
recomendação médica. Conhecer na própria cidade algumas paisagens cujo acesso é
restrito aos meios de locomoção menores é outra vantagem proporcionada pelo
grupo. “Em um ano de cicloturismo já conheci muitas regiões de Joinville e
arredores que não havia conhecido nos 23 anos que moro aqui”, diz o
especialista, que já pedalou por Campo Alegre, Schroeder, Corupá, Araquari,
Barra Velha, Piçarras, Penha, Armação, Guaramirim, Curitiba, Morretes e Estrada
da Graciosa. Ele acrescenta: “Ainda desejo visitar São Joaquim subindo pela
Serra do Rio do Rastro.”
Fiscalização e
aconselhamento
Dividindo a mesma opinião, o professor universitário
Volney Coelho Vicence fala sobre os ganhos que o ciclismo lhe trouxe: “Tenho
disposição para tudo, fiz novas amizades, conheci lugares fantásticos e
naturais”. Apesar do pouco tempo disponível, Vicence participa do Pedala
Joinville e do grupo Fotociclotour nos fins de semana. Já visitou o Recanto Tia
Marta, a Serra Dona Francisca, Araquari, Enseada, Vila da Glória, Piraí,
Quiriri, Guaramirim, o Vale Europeu na região de Blumenau e muitos outros
lugares. O professor pedala desde a infância porque gosta da atividade e diz que
se houvesse maior segurança, utilizaria a bicicleta como meio de
transporte.
A pequena quantidade de ciclovias da cidade, a falta de
continuidade entre elas e o estado precário de conservação tornam as ruas de
Joinville inseguras tanto para os ciclistas quanto para os condutores de
automóveis. Segundo Valter Bustos, diretor social do MPJ e do Museu da
Bicicleta, o principal interesse do movimento é a conscientização das pessoas
para a formação de ciclistas cidadãos. “Todas as pessoas que participam do MPJ,
sejam homens ou mulheres, o fazem com consciência e porque gostam de pedalar”,
afirma. Bustos explica que o grupo visa à segurança dos ciclistas joinvilenses,
sejam eles associados ao movimento ou não. Para tanto, os integrantes do grupo
estão diariamente nas ruas avaliando a situação da malha cicloviária e
produzindo ações que são transmitidas como sugestões para o Instituto de
Pesquisa e Planejamento para o Desenvolvimento Sustentável de Joinville (Ippuj)
e para a Companhia de Desenvolvimento e Urbanização de Joinville (Conurb). Um
dos projetos do Pedala Joinville junto ao Ippuj é uma cartilha com dicas de
segurança para a condução correta da bicicleta.
Viagens
internacionais
“Para mim, todo dia é dia sem carro”, afirma o
estudante de Física Giorgio Ernesto Testoni, que utiliza a bicicleta como meio
de transporte diariamente pedalando, em média, 25 quilômetros independente do
clima. O estudante, que já pedalou pela Bolívia, Argentina, Uruguai, Chile e
pelo sul do Brasil conta que sua história com a bicicleta começou com a
necessidade de atravessar a cidade para estudar. “Eu preferia ir de bicicleta do
que de ônibus”, diz. Interessando-se pelo cicloturismo, leu livros sobre viagens
ciclísticas e quis ir mais longe. Em 2006, fez sua primeira viagem para fora do
país, experiência que lhe rendeu uma história de desencontro, dificuldade de
comunicação, saudades, mas também muita alegria. Ele afirma que há duas
principais vantagens em viajar para outros países: contraste cultural e, no caso
dos países que conheceu, opção financeira – não há dificuldades com a
desvalorização da moeda. Quanto às hospedagens durante as viagens, ele explica
que há um site em que os amantes do
cicloturismo podem se cadastrar e conseguir contatos para lhes oferecer a
estadia durante um ou dois dias, tempo suficiente para arrumar as malas e seguir
viagem.
Testoni quer ainda viajar ao México e visitar a Basílica de
Nossa Senhora de Guadalupe. Ele expõe a admiração por um dos companheiros de
pedalada, Valdecir João Vieira, 65 anos – mais conhecido como Valdo da Bike – que em 15 de
março de 2009 começou a realizar seu sonho: dar a volta ao mundo pedalando. O
estudante fala da reação das pessoas sobre as aventuras: “Elas se impressionam,
acham que é muita loucura e muito perigoso. A vida é uma grande aventura”,
conclui.